Voluntários ajudam estudantes com tira-dúvidas pela internet

Iniciativa reúne vestibulandos, universitários e professores em grupos de estudos virtuais

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São Paulo

Uma corrente de voluntários para ajudar os estudantes que irão prestar vestibular em 2020 está se expandindo nas redes sociais.

Diante da repentina transição das aulas presenciais para o ensino a distância e da discussão em torno do adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por causa do distanciamento social provocado pelo novo coronavírus, eles se oferecem para tirar dúvidas relacionadas às provas.

A iniciativa é formada, principalmente, por estudantes universitários e professores, que replicam uma mensagem convidando alunos da rede pública a tirarem dúvidas dos conteúdos pelo Facebook.
Em alguns casos, o projeto se estendeu para grupos de estudos no aplicativo de mensagens WhatsApp.

Mesmo que os voluntários não saibam totalmente o assunto, se disponibilizam a pesquisar com os estudantes. “Em meio a essa pandemia, vamos gerar uma corrente de auxílio a quem precisa! A educação continua de pé!”, diz trecho de uma das publicações.

A estudante de editoração Vitória Galindo, 18 anos, da Cidade Tiradentes (zona leste), foi procurada por mais de 30 vestibulandos. As dúvidas variam de provas e métodos de estudo ao funcionamento da faculdade. No início do ano, ela fez uma postagem semelhante para ajudar quem precisasse e reforçou na pandemia.

Além disso, antes da quarentena começar, Vitória trabalhava na secretaria de um cursinho popular e doou as apostilas que utilizou a conhecidos. “Se não fossem os professores voluntários do cursinho que fiz, não teria entrado na faculdade.”

O produtor de conteúdo Lucas Vinícios, 22, de Santa Cecília (região central), nunca parou de estudar. Formado em letras, ele conta que já deu aulas particulares. Após publicar a corrente para ajudar outros estudantes, ele foi procurado para tirar dúvidas por mensagens em aplicativo de celular ou por telefone. “Achei bem legal fazer o mesmo que já fizeram comigo”, afirma.

O trabalho voluntário de educação o inspirou a fazer roteiros para vídeos que explicam marcos históricos e políticos utilizando o personagem Harry Potter. O projeto terá publicações semanais e visa ajudar quem vai prestar vestibulares.

Já a advogada Ana Carolina Bonome, 26, do Itaim Bibi (zona oeste), foi procurada até por pais de alunos. “A corrente fica em um círculo de pessoas na rede social”, afirma, sobre a limitação no número de participantes. Ana diz que a iniciativa se expandiu a professores universitários, ajudando alunos que já estão na graduação.

‘Estudar sozinho não é fácil’, diz aluna

A estudante Victoria Rocha, 19 anos, moradora de Peruíbe (135 km de SP) conta com a disponibilidade de voluntários, amigas, grupos de estudos online e conteúdos gratuitos para se preparar para o vestibular. “Estudar sozinho não é fácil.” Ela afirma que, além das dificuldades em aprender as matérias, é preciso saber por onde começar e organizar o volume de conteúdos.

Victoria estudou na rede pública e pretende cursar história e geografia na USP (Universidade de São Paulo). Para isso, ela irá fazer as provas do Enem e da Fuvest, que seleciona candidatos para a USP.

No início da pandemia por causa do novo coronavírus, Victoria perdeu o emprego em um berçário e não tem condições de pagar por uma plataforma de estudos virtual. Com a ajuda de voluntários, ela já recebeu explicações de questões e resumos. “Ninguém tem obrigação e nem está sendo pago para isso, ajuda de coração aberto”, afirma.

Além disso, ela se oferece para ajudar outros vestibulandos nos assuntos que tem facilidade, principalmente de ciências humanas, língua portuguesa e na formulação de cronogramas de estudos.

Para Victoria, as iniciativas que tiram dúvidas via redes sociais ou grupos de estudos em apps de mensagens ajudam. “Sou grata por saber que tem pessoas que pensam no próximo.”

Ao mesmo tempo, ela é a favor do adiamento do Enem e lembra que outras pessoas estão sendo prejudicadas por não terem acesso a livros e internet.

Professora recebe pedido até do Piauí

Catarina Fortes, 23, moradora no Jardim Paulista (zona oeste) é professora de sociologia e estudante de licenciatura em teatro. Ela se disponibilizou a ajudar os vestibulandos em seu perfil no Facebook e, com os compartilhamentos, foi procurada por estudantes de São Paulo, do Rio de Janeiro e até o Piauí. Desde então, ela compartilha conteúdos e tira dúvidas em chamadas de vídeo.

Para Catarina, a rede de voluntários é importante para alcançar o máximo de alunos possíveis e como uma experiência pessoal. “Quanto mais você ensina, mais aprende”, ressalta.

“Tive mais pessoas que agradeceram a iniciativa do que procuraram ajuda”, conta Paulo Pereira Neto, 33, do Mandaqui (zona norte), professor de filosofia e sociologia nas redes pública e privada de São Paulo. Ele conhece vários amigos e professores que participam da corrente. “É um jeito de criar uma rede de apoio”, afirma o educador.

Os professores dizem que a iniciativa é aberta a todos, mas foca na rede pública, devido às limitações na estrutura escolar, no acesso ao ensino a distância e na falta de recursos adequados para estudar. “Isso mexe com a vida de todos, mas, principalmente, de quem tem dificuldades”, diz Paulo.

Trio se une na criação de grupo de WhatsApp

O estudante de engenharia mecânica Thiago Campos, 18 anos, participa de corrente no Facebook e é voluntário em dois grupos de estudos no WhatsApp. Um deles, o “Uma mão lava a outra”, tem cerca de 120 integrantes, e o “Quarentena de dúvidas”, 40.

Este último foi fundado por ele em parceria com o estudante de direito João Cenamo, 18, e Carlos Alberto da Silva, 49, geógrafo e professor de um cursinho particular. ​Já o "Uma mão lava a outra" foi criado pela estudante de ciências econômicas Beatriz Soares, 18, o estudante de jornalismo Douglas Norberto, 18, e a vestibulanda Beatriz Carreiro, 18.

Thiago já ajudava colegas, mas é a primeira vez que participa de uma ação mais ampla. O universitário diz ter recebido pedidos ajuda. Ele aproveitou a chance para compartilhar o acesso aos grupos de estudos e um arquivo com resumos. Além das explicações, os espaços são utilizados para corrigir redações, compartilhar arquivos de materiais de estudos e links para aulas abertas online de cursinhos.

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