Descrição de chapéu Zona Leste

PM é preso após atirar e matar motociclista na zona leste de São Paulo

Vítima teria participado do roubo da moto horas antes de ser alvo do PM

São Paulo

Um policial militar de 45 anos foi preso em flagrante, por volta das 4h20 deste sábado (25), suspeito de matar com um tiro nas costas Nadson Igor Rodrigues de Miranda, 23 anos. Os tiros foram dados quando o rapaz passava com uma moto em frente ao batalhão onde o agente trabalhava, em São Miguel Paulista (zona leste da capital paulista). O PM afirmou em depoimento ter atirado para se defender, versão questionada pela Polícia Civil.

Imagens de uma câmera de monitoramento mostram Miranda passando em alta velocidade pela rua Américo Gomes da Costa, sentido avenida Nordestina, guiando uma moto Kawasaki Z750, roubada por volta das 23h50 de sexta-feira (24), também em São Miguel. A via acessada pelo rapaz fica ao lado da entrada principal da 2ª Cia. do 29º Batalhão da PM, do qual saiu o policial de 45 anos empunhando uma pistola calibre ponto 40. Ao avistar o PM, Miranda dá meia volta com a moto. Já com o suspeito de costas, o PM atirou ao menos sete vezes, segundo a polícia.

O motociclista cambaleia duas vezes, ainda de acordo com as imagens, e para a moto. O PM se aproxima pela lateral do veículo, com a arma apontada para o suspeito. Quando Miranda tenta descer da moto, mantendo as mão no guidão do veículo, o policial atira mais uma vez, provocando a queda do condutor da Kawasaki. Viaturas da PM chegam em seguida.

Miranda foi levado por uma unidade de resgate dos Bombeiros até o hospital municipal Tite Setubal, onde morreu. Segundo relatado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), foram encontradas perfurações, provocadas por tiros, no lado direito do peito do suspeito e no lado esquerdo das costas dele. O tanque de combustível da Kawasaki também estava furado, por causa de um disparo, dado segundo a polícia pelas costas do condutor do veículo.

PM argumenta ter reagido

Em depoimento à Polícia Civil, o PM afirmou ter iniciado seu expediente, na 2ª Cia. do 29º Batalhão da PM, por volta das 18h de sexta-feira (24) e que permaneceria no local até por volta das 6h de sábado (25). Uma das funções dele, durante este período, seria acompanhar por rádio ocorrências atendidas por policiais de seu batalhão.

Por volta das 4h10, ele afirmou ouvir via rádio sobre a localização e perseguição da Kawasaki roubada e que o veículo passaria pela avenida Nordestina. Esta via fica em uma das saídas de onde o policial trabalhava. Em decorrência disso, ele decidiu ir até a avenida, a pé.

Ao avistar a moto subindo a via, ainda de acordo com seu depoimento, o PM teria dado ordem para o rapaz parar, o que não foi atendido. O suspeito, acrescentou o policial, teria jogado a moto para cima do agente, que precisou pular para o lado. Quando o suspeito já estava de costas, o PM admitiu ter dado "dois ou três disparos em direção à parte de baixo da motocicleta, visando atingir as pernas do indivíduo ou os pneus ou carenagem da motocicleta, com o intuito de encerrar aquela perseguição."

Em seguida, o PM diz ter se aproximado de Miranda, quando este parou a moto, afirmando que "ouviu um estampido aparentando de disparo de arma de fogo" e, por isso, atirou contra o suspeito, que estava de costas para o policial. Nenhuma arma, no entanto, foi encontrada com o rapaz ferido a tiros.

O policial, que está há cerca de 24 anos na corporação, afirmou portar há no máximo 20 dias a pistola que matou o suspeito e, por isso, "não estava muito habituado" com a arma "que possui gatilho mais sensível, com maior facilidade para efetuar disparos", em relação à sua arma anterior.

Momento em que policial militar de 45 anos atira nas costas de Nadson Igor Rodrigues de Miranda, 23 anos, por volta das 4h20 desta sábado (25), na zona leste da capital paulista. O motoqueiro morreu logo depois, quando foi encaminhado ao hospital. O PM foi preso suspeito de homicídio - Reprodução

Roubo da moto

Um autônomo de 23 anos estava com sua moto Kawasaki, em frente de casa, quando dois suspeitos, um deles armado, saíram de um carro branco e anunciaram um assalto, por volta das 23h50 de sexta-feira (24). A vítima havia comprado a moto 17 dias antes.

A vítima relatou à polícia que a dupla de criminosos subiu na Kawasaki e fugiu, sendo acompanhada pelo carro branco de onde desembarcaram, guiado por um terceiro suspeito. Os ladrões também levaram o celular do autônomo.

Em seguida, o rapaz acionou a Polícia Militar, dando detalhes sobre o veículo roubado e aparência dos criminosos. Um deles, segundo a vítima, teria descido da moto logo após o roubo e entrado no carro branco. Este bandido não havia sido identificado até a publicação desta reportagem.

Policiais militares localizaram a Kasawaki, conduzida somente por Miranda, minutos depois na avenida Marechal Tito. Uma perseguição teve início, mas o rapaz conseguiu despistar os agentes, após furar um bloqueio da PM na esquina da avenida com a rua Doutor José Aristodemo Pinott. Ele só foi interceptado quando passou ao lado da 2ª Cia. do 29º Batalhão, de onde saiu o policial que o baleou pelas costas.

A reportagem apurou que Miranda contava com histórico criminal por furto e porte ilegal de arma de fogo.

Letalidade recorde da PM paulista

Dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB) mostram que nunca policiais militares, em serviço, mataram tanto no estado de São Paulo como no primeiro semestre deste ano. Entre janeiro e junho, 435 pessoas morreram pelas mãos de PMs. Este é o maior registro, desde 2001, quando teve início a chamada série histórica da pasta.

Em relação às 358 mortes em supostos confrontos com policiais militares em serviço, no primeiro semestre do ano passado, houve um aumento de 21% neste tipo de ocorrência.

Os homicídios também são os crimes que mais mantém PMs atrás das grades, no presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista. Até maio deste ano, 81 agentes estavam presos em decorrência de assassinatos, sendo 45 condenados e 36 aguardando julgamento.

Resposta

A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que a prisão do PM foi decretada após policiais civis verificarem elementos sobre o caso, além de analisar imagens, "que aparentemente contradizem com a versão do policial."

A pasta acrescentou ainda que o local onde ocorreram os tiros foi periciado, além de solicitados exames necroscópicos e tóxicológicos da vítima. "Foi requisitado exame residuográfico ao policial", diz trecho de nota.

A Ouvidoria das polícias afirmou que irá instaurar um procedimento para acompanhar as investigações do caso, além de requisitar para que o Ministério Público também faça o mesmo. "A imagem do policial atirando pelas costas é chocante", diz trecho de nota.

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