Diante do risco de contrair uma doença nova, como a Covid-19, é comum buscar meios de fortalecer as defesas do organismo. No caso das crianças, o sistema imunológico está em desenvolvimento. Para responder bem às ameaças, é essencial ter hábitos saudáveis e não depositar esperanças em um produto "milagroso".
Alessandra Miramontes Lima, pediatra especialista em alergia e imunologia do Hospital Infantil Sabará, explica que o sistema imunológico é dividido em duas partes: inato, que já nasce com a pessoa e não tem defesa específica para alguns vírus e bactérias, e adaptativo, que reconhece as diferentes "ameaças" e cria uma memória imunológica. O sistema adaptativo é desenvolvido conforme a criança vai crescendo.
Segundo Alessandra, a imaturidade do sistema imune infantil alinhada a outros fatores, como poluição, higiene e convivência social, explicam porque as crianças ficam resfriadas com mais frequência.
Renato Kfouri, infectologista e pediatra da Associação Paulista de Medicina, lembra que em ambientes como escolas e creches, além de contato com outras crianças, há compartilhamento de brinquedos e ambientes fechados que favorecem os contágios.
"O distanciamento reduziu não só a Covid-19, mas todas as doenças respiratórias, mostrando o papel que a convivência tem na transmissão", diz Kfouri.
Outro efeito da pandemia foi a redução da quantidade de consultas e adiamentos de vacinas por medo de sair de casa. "Atrasar o calendário vacinal coloca em risco, após a pandemia, ter uma onda de doenças que já estavam controladas", diz.
A resposta imune da criança pequena conta com os anticorpos que a mãe adquiriu ao longo da vida, estes são transferidos na gestação e pelo leite materno. "O leite materno modula o sistema imunológico da criança para o resto da vida, prevenindo alergias e infecções", destaca Kfouri.
Segundo os pediatras, as principais recomendações para manter uma boa imunidade, além do aleitamento materno, é ter alimentação saudável, a caderneta de vacinação em dia, boa prática de higiene e consultar o pediatra com frequência.
Além disso, outros hábitos que são importantes para a saúde como um todo também devem ser considerados, como sono regular, tomar sol e fazer atividade física.
Boa alimentação deve ser projeto da família toda
"A imunidade não vem só da alimentação, mas ela tem um papel importantíssimo", afirma Camila Alves, nutricionista do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS (CRN-3).
Ela lembra que não existe um "alimento milagroso" capaz de aumentar a imunidade, mas o conjunto de ações saudáveis ajudam a mantê-la adequada.
Segundo a nutricionista, para manter uma boa imunidade é importante consumir "comida de verdade, evitando alimentos industrializados e ultra processados", diz. Além dos alimentos frescos, ela recomenda compor pratos com todos os grupos alimentares, ou seja, aquele "prato colorido" com alimentos que fornecem carboidratos, proteínas, gorduras boas, vitaminas e minerais. "Também é importante caprichar muito na hidratação das crianças", completa Camila.
A nutricionista afirma que alguns alimentos são essenciais para a imunidade. Os vegetais verde-escuros como espinafre e brócolis, "são ricos em ácido fólico e auxiliam na formação dos glóbulos brancos, principais mecanismos de defesa do nosso corpo".
Já frutas ricas em vitamina C, como laranja e goiaba, tem ação antioxidante e combatem a ação dos radicais livres, estes enfraquecem as células do corpo. Há ainda as leguminosas, como feijão, e tubérculos, como o inhame, com papéis importantes no organismo.
Para manter os hábitos saudáveis, a nutricionista recomenda cozinhar em casa. Se a pessoa tiver pouco tempo, vale congelar para utilizar ao longo da semana. Por fim, no caso de delivery, é possível optar pelas opções mais saudáveis dos cardápios em vez de lanches tipo fast food.
Camila ressalta que boas escolhas não significam deixar de comer guloseimas, mas é preciso definir quanto e quando ingerir produtos do tipo. "Tudo pode desde que tenha equilíbrio e bom senso", afirma.
Se a família tiver dificuldade, pode procurar um nutricionista para melhorar a alimentação, mas ressalta: "Para melhorar a alimentação da criança, tem que melhorar a da família inteira", diz a nutricionista.
Imunidade das crianças
O sistema imunológico é subdividido em duas partes:
1- Inato:
- Que já nasce com a pessoa, é inespecífico
- O sistema infantil está em desenvolvimento e é predominantemente inato
2- Adaptativo:
- Baseado nas experiências que são obtidas ao longo da vida, contato com agentes externos e vacinas
- Reconhece diferenças entre os tipos de ameaças, como vírus e bactérias
Frequência de resfriados
- Em média, as crianças têm de 8 a 12 resfriados anuais até os três anos de idade
- Frequentar ambientes coletivos, como escolas e creches, aumentam a exposição a agentes externos
- Ambientes fechados, compartilhamento de brinquedos, contato físico, favorecem a transmissão de vírus
- Fatores externos, como a poluição, também podem dificultar a ação do sistema de defesa inato
Quando se preocupar?
- Gripes e resfriados são normais, mas há algumas situações que alertam para outros tipos de problemas
- Entre os sinais de alerta, estão: a repetição de quadros graves como pneumonias e infecções por germes que fogem do habitual
- Também é importante observar se a criança está fazendo atividades normalmente, ganhando peso, brincando, etc.
Consulta no pediatra
- Durante o dois primeiros anos de vida, é recomendável que seja mensal
- Depois, é comum que as consultas continuem a cada quatro ou seis meses
Leite materno
- Modula o sistema imunológico infantil para o resto da vida
- Atua na prevenção de alergias e infecções
- Até os seis meses de vida, deve ser o alimento exclusivo
- A recomendação é que ele continue até, pelo menos, os dois anos
Vacinas
- As crianças devem ser vacinadas regularmente
- Atrasar vacinas aumenta o risco de adoecer e pode causar onda de doenças que já estavam controlados
Não expor ao tabaco
- Inalar a fumaça do cigarro predispõe a infecções respiratórias
Fatores que fazem bem a saúde:
- Sono regular
- Evite sol intenso, prefira horários até 10h da manhã
- Praticar atividade física
- Não descuidar da higiene natural
- Alimentação saudável
Fontes: Alessandra Miramontes Lima, pediatra especialista em alergia e imunologia do Hospital Infantil Sabará; Camila Alves, nutricionista com especialização em nutrição em pediatria pelo Instituto da Criança HC-FMUSP; Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.