A decisão do governo de São Paulo em criar a fase emergencial, em vigor desde o dia 15 deste mês e criada para tentar frear a escalada do número de casos e mortes de Covid-19, tirou carros das ruas e reduziu a quantidade de passageiros transportados pelos ônibus da capital. Entretanto, surtiu pouco efeito no índice de isolamento.
É o que revela dados dos boletins de trânsito e mobilidade produzidos pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e do Simi-SP (Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo).
No comparativo dos dez primeiros dias da fase emergencial (do dia 15 deste mês até esta quinta-feira), com os dez primeiros dias deste mês, quando ainda vigorava a fase vermelha, menos restritiva do que a atual, constata-se uma forte redução na média de lentidão diária, que passou 43,9 km para 16 km no período (- 63,5%). Já a quantidade de carros nas ruas passou da média diária de 5,4 milhões para 3,75 milhões, numa retração de 31,3%.
Segundo os dados, em média, 380 mil pessoas deixaram de usar os ônibus do transporte publico da capital todos os dias. Com isso, a média diária passou aos atuais 1,49 milhão de passageiros, número 20,3% inferior aos1,87 milhão do período anterior.
O isolamento social passou de uma média diária de 42% para 44%. O avanço de dois pontos percentuais equivale a apenas 4,76% de evolução.
Cobertura
Afinal, como é possível ter tão pouca evolução nesse número de isolamento social se os dados oficiais indicam que existem menos carros circulando e um número menor de pessoas nos ônibus? A resposta pode estar no movimento da periferia, região que não é totalmente aferida pela CET desde que a companhia foi criada, em 1976, segundo Ivan Whately, diretor do departamento de mobilidade e logística do Instituto de Engenharia.
“A pesquisa [da CET] é feita no centro expandido e não capta muito a realidade da periferia. A percepção é a de que independentemente da classe social, muitos ainda estão usando o transporte individual, sobretudo na periferia. E isso não é captado”, diz o especialista.
A taxa de isolamento social é baseada nos dados das operadoras de celular Claro, Oi, Tim e Vivo e tabulados pelo Simi-SP, fruto da parceria do governo estadual com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Ele afere toda movimentação superior a 200 metros e é dessa forma que o governo estadual constata se as pessoas estão ou não cumprindo o isolamento. Em tese, ele não estratifica quem precisou ir a uma padaria ou farmácia distante dois quarteirões de casa, por exemplo —alguns dos serviços essenciais permitidos mesmo na fase emergencial.
Independentemente do motivo da saída, os dados do Simi-SP indicam que nem mesmo o toque de recolher, que veio a reboque da fase emergencial e restringe a circulação das pessoas das 20h às 5h, está sendo efetivo.
Nos anúncios que faz toda a semana no Palácio dos Bandeirantes, os integrantes da equipe do Centro de Contingência do governo estadual reforçam que o isolamento social é a principal arma para reduzir a taxa de ocupação das UTIs, que nesta quarta (24) chegou a 91,6% nos leitos de UTI e de 82,7% nos leitos de enfermaria no Estado de São Paulo. Na região metropolitana, o índice é de 91,6% e 87,3%, respectivamente.
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