Voltaire de Souza: Aí não

Voltaire de Souza

Contas. Cálculos. Papelada.
É o Imposto de Renda.
Edvar era um bem-sucedido executivo no ramo de peças automotivas.
—Aporrinhação do caramba.
A revolta crescia em sua alma.
—Pagar imposto? Para esse bando de idiotas?
Ele acompanhava o noticiário com atenção.
—Todo mundo morrendo de Covid…
Alguns casos tinham ocorrido bem perto dele.
—A mulher do 72…
Edvar suspirou.
—Coitada. E nem tinha votado no Bolsonaro.
Faltavam vários comprovantes.
—O que falta é vacina, pô.
A vontade era de gritar.
—Imposto para comprar cloroquina? É isso?
Era lenta a conexão do computador.
—Onde eu acho o relatório?
O site do banco teve uma queda súbita.
—Perder todo o meu trabalho? Aí não.
A noite vinha com chuva para os lados de Moema.
A certeza era total na mente de Edvar.
—Tirar esse jumento.
Veio a decisão.
—Panelaço? Olha aqui o meu panelaço.
Os fios do laptop foram arrancados com violência.
O martelo estava na área de serviço.
Na sacada, ele marretou o laptop sem dó.
—Sem vacina, não pago porcaria nenhuma.
No passado, falava-se na foice e no martelo.
Mas, por vezes, só o martelo já é de bom tamanho.

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