No ano passado, o longa coreano “Parasita” fez história na 92ª cerimônia do Oscar ao receber a estatueta de melhor filme estrangeiro e, ao final da noite, o de melhor filme, tornando-se a primeira obra de língua não inglesa a levar para casa o prêmio mais cobiçado da Academia (recebeu ainda mais dois, por roteiro original e direção).
Foi justamente para premiar os longas predominantemente não falados em inglês que a Academia criou o Oscar de melhor filme estrangeiro, ou internacional, em 1957. Até então, essas obras recebiam prêmios especiais. A primeira foi “Vítimas da Tormenta”, de Vittorio de Sica, em 1948.
O longa conta a história de dois garotos que vivem de engraxar sapatos no pós-Segunda Guerra na Itália. “A alta qualidade deste filme, trazido à vida em um país marcado pela guerra, é a prova para o mundo de que o espírito criativo pode triunfar sobre a adversidade”, disse a Academia à época.
Daquele ano até 1955, foram concedidos sete prêmios honorários a filmes estrangeiros. Entre eles estão “Monsieur Vicent”, em 1949, “Ladrões de Bicicleta”, também de De Sica, em 1950, e “Rashomon”, de Akira Kurosawa, em 1953.
Em 1957, na 29ª cerimônia do Oscar, estabeleceu-se o modelo que conhecemos hoje. Cinco filmes são indicados e o mais votado pela Academia vence. O primeiro premiado foi “A Estrada”, de Federico Fellini. Na ocasião, além do país ser indicado, os produtores dos longas também recebiam a nomeação. A partir do ano seguinte, os candidatos passaram a ser indicados apenas pelo país de origem.
A escolha dos indicados a longa internacional é diferente do restante das premiações. Em geral, os concorrentes são votados por seus pares. Atores escolhem os cinco atores indicados, por exemplo. E, ao final, todos os membros da Academia votam para definir quem será o vencedor da categoria.
No caso do filme estrangeiro, cada país deve indicar apenas um filme à Academia por ano. Pelas regras, é considerado elegível ao prêmio o longa que tiver mais de 40 minutos de produção fora dos EUA e mais de 50% de diálogos em língua não inglesa. Também são permitidos animações e documentários.
Para chegar aos cinco indicados, há duas rodadas iniciais de votação. Um comitê da Academia exclusivo para os filmes estrangeiros seleciona 15 títulos. Depois, define os cinco finalistas. A escolha do vencedor é aberta a toda Academia, mas é preciso que os votantes tenham assistido aos cinco longas.
Neste ano, em razão da pandemia, a Academia flexibilizou as regras gerais, aceitando obras que estrearam apenas em streaming (veja onde assistir os indicados deste ano). A mudança também vale para as estrangeiras, mas os países tiveram de apresentar documentos que provassem o fechamento dos cinemas e o lançamento das obras em outras plataformas. A cerimônia de premiação acontece dia 25.
Quatro filmes do Brasil já concorreram ao prêmio
O Brasil já esteve quatro vezes entre os cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas nunca levou a estatueta. A primeira vez ocorreu com “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, em 1963. Perdeu para o francês “Sempre aos Domingos”.
A segunda indicação levou anos para acontecer. Veio em 1996, por “O Quatrilho”, de Fábio Barreto. Dois anos depois foi a vez de “O Que é Isso Companheiro?”, de Bruno Barreto, irmão de Fábio. E, em 1999, “Central do Brasil”, de Walter Salles, uma das chances mais concretas que o país teve para levar sua primeira estatueta. Quem venceu foi o italiano “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni.
Na América do Sul, apenas Argentina, com dois longas em que o período da ditadura militar está presente, e Chile foram premiados. A primeira estatueta foi concedida em 1986, para o longa argentino “A História Oficial”, de Luis Puenzo. Em 2010, outra vitória dos hermanos, por “O Segredo dos Seus Olhos”, de Juan José Campanella.
O prêmio mais recente para a América do Sul é de 2018, do longa chileno “A Mulher Fantástica”, dirigido por Sebastián Lelio. Na trama, Marina, uma mulher transgênero, enfrenta preconceito após a morte do ex-companheiro.
Comissão do setor cinematográfico escolhe indicado
Seguindo as regras do Oscar, a escolha do longa brasileiro que concorrerá a uma indicação de melhor filme estrangeiro é feita anualmente por uma comissão da Academia Brasileira de Cinema, a ABC, formada por profissionais do setor, sem participação do governo federal.
Faziam parte da comissão que definiu o concorrente deste ano o diretor de fotografia Lula Carvalho, os produtores Clelia Bessa, Leonardo Monteiro de Barros e Renata Magalhães, e os cineastas Viviane Ferreira, André Ristum e Toni Venturi.
“Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, de Bárbara Paz, foi o escolhido, mas não ficou entre os cinco finalistas para a cerimônia do dia 25. Em um documentário afetivo, a atriz retrata os últimos dias do diretor. Morto em 2016, aos 70 anos, ele foi autor de clássicos como “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, “Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia” e “O Beijo da Mulher-Aranha”.
“Cinema Paradiso”, vencedor de 1989, está disponível de graça até este sábado (10)
Quem é fã do clássico “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, tem até hoje para assistir ao filme de graça na plataforma na internet do Sesc Digital (www.sescsp.org.br/sescdigital). Basta entrar no link e se emocionar com a história de amizade entre Totó e Alfredo.
O longa recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1990, ajudando a Itália a manter o posto de país que mais ganhou estatuetas douradas desde 1957. Foram 11 no total, além de três prêmios especiais concedidos anteriormente.
Em segundo lugar está a França, com nove vitórias. Entre elas está o Oscar de 1960 para “Orfeu Negro” (1959), de Marcel Camus. Adaptação da peça de Vinicius de Moraes com produção e diretor franceses, a trama se passa no Rio, com boa parte do elenco formada por brasileiros.
ONDE VER
(vencedores e indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro; preços e disponibilidade pesquisados no dia 24 de abril)
MONSIEUR VICENT, de Maurice Cloche, prêmio especial em 1949
Looke: grátis para assinantes
NetMovies: grátis
LADRÕES DE BICICLETA, de Vittorio de Sica, prêmio especial em 1950
Telecine e Old Flix: grátis para assinantes
A ESTRADA, de Federico Fellini, vencedor de 1957
Looke: grátis para assinantes
NetMovies: grátis
ORFEU NEGRO, de Marcel Camus, vencedor de 1960
Looke e Prime Video: grátis para assinantes
Apple TV: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
A FONTE DA DONZELA, de Ingmar Bergman, vencedor de 1961
Looke: grátis para assinantes
NetMovies: grátis
DERSU UZALA, de Akira Kurosawam, vencedor de 1976
Belas Artes à La Carte: grátis para assinantes
A HISTÓRIA OFICIAL, de Luis Puenzo, vencedor de 1986
Netflix: grátis para assinantes
CENTRAL DO BRASIL, de Walter Salles, indicado em 1999
Telecine Play, Globoplay e NOW: grátis para assinantes
Apple TV: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 14,90 (compra)
Mubi: R$ 7,90
A VIDA É BELA, de Roberto Benigni, vencedor de 1999
Telecine Play e Old Flix: grátis para assinantes
Microsoft Store: R$ 5,90 (aluguel) e R$ 14,90 (compra)
Claro Video: R$ 6,90 (aluguel)
O SEGREDO DE TEUS OLHOS, de Juan José Campanella, vencedor de 2010
Prime Video e Looke: grátis para assinantes
NetMovies: grátis
Apple TV: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 17,90 (compra)
Google Play: R$ 3,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
UMA MULHER FANTÁSTICA, de Sebastián Lelio, vencedor de 2018
Prime Video: grátis a assinantes
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