A opção pela ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea) no tratamento do ator Paulo Gustavo, internado em estado grave com a Covid-19, no Rio de Janeiro, levantou o debate sobre o uso do procedimento em pacientes com a doença.
Esse tratamento é de alta complexidade e funciona como um pulmão ou um coração artificial, suprindo, no caso de infectados pelo coronavírus, insuficiências cardiorrespiratórias.
"Ela não trata a Covid-19, é diferente de uma medicação contra o vírus. A ECMO funciona como um pulmão fora do corpo, é capaz de oxigenar o sangue do indivíduo e remover o gás carbônico, que é o que o pulmão faz", explica Diego Gaia, cirurgião cardiovascular responsável pelo time de ECMO do Hospital Santa Catarina.
No caso de pacientes com Covid-19, a doença compromete os pulmões e diminui a capacidade dessa troca gasosa. O paciente com os pulmões comprometidos, primeiramente, recebe oxigênio por um ventilador mecânico e, quando isso não é suficiente, há a necessidade de intubação.
Rafaella Gato, cardiologista pediátrica e diretora do programa de ECMO do Sabará Hospital Infantil, explica que o procedimento surge como possibilidade quando o pulmão está tão afetado que não consegue trocar oxigênio. “Essa modalidade chamamos de ECMO veno-venosa: tirar o sangue com pouco oxigênio de uma veia e devolvê-lo oxigenado para as veias também”, afirma.
A médica diz que o aparelho de ECMO também pode fazer a função cardíaca, na modalidade veno-arterial. “Tiramos o sangue da veia e devolvemos ele oxigenado em uma artéria, ou seja, vai substituir o pulmão e vai substituir o coração também, no sentido de ser uma bomba que manda o sangue oxigenado para o corpo todo.”
O procedimento não é algo novo, nem tem seu uso restrito à Covid-19. “A primeira ECMO foi feita em 1975 nos EUA em uma bebê que tinha aspirado mecônio [massa fecal que fica no líquido amniótico da mãe]”, conta Rafaella.
Essa modalidade de suporte de vida também é usado para pacientes em pós-operatório de cirurgias cardíacas e com outras infecções pulmonares.
A ECMO, no entanto, não é uma técnica que pode ser utilizada sem restrições, já que há contraindicações para o uso da máquina.
“Para que o sangue possa circular na máquina, ele precisa estar anti-coagulado, já que coágulos podem entupir a máquina ou cair na corrente sanguínea do indivíduo”, explica Gaia.
ECMO não é amplo na rede pública
No Brasil, a ECMO está restrita aos hospitais públicos e particulares de referência, uma vez que
é de alta complexidade e demanda equipamentos e equipe especializada.
“Não é algo que tem que ser amplamente usado, tem que ser usado em centros responsáveis, porque é uma terapia que pode causar mais mal do que bem, se for usada erroneamente”, explica Luiz Fernando Caneo, cirurgião cardiovascular do Incor e ex-presidente da Organização para Suporte Vital Extracorpóreo Latino-americana.
No Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) é hierarquizado e os serviços de saúde são organizados em níveis de complexidade tecnológica. Segundo Caneo, a ECMO também tem que ser vista de maneira hierárquica dentro do sistema de saúde.
“O Hospital das Clínicas do Rio Grande do Sul faz, nós do Incor do Hospital das Clínicas em São Paulo também fazemos”, diz o médico.
“Não é uma verdade que o SUS impediu de fazer, o que acontece é que ele ainda não padronizou nem fez uma política de uso da terapia, então não se tem reembolso direto pelo procedimento”, diz Caneo.
ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea) - saiba mais
Como funciona
1 - O sangue é retirado da veia femoral do paciente por uma cânula (tubo) na região da virilha
2 - Uma bomba auxilia o transporte do sangue até o oxigenador
3 - O sangue, então, circula na membrana oxigenadora, que faz o papel de um “pulmão artificial”, retirando gás carbônico e oxigenando o sangue
4 - Uma cânula retorna o sangue oxigenado para o corpo pela a veia jugular (pescoço), suprindo a insuficiência respiratória*
*Quando a ECMO é utilizada para insuficiência cardíaca, a cânula devolve o sangue para a artéria femoral na virilha
Quais os benefícios?
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Permitir a recuperação do pulmão e do coração em pacientes doentes ou em pós-operatório;
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Suprir insuficiência respiratória grave (quando o pulmão do paciente não consegue realizar as trocas gasosas sozinho);
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Suprir insuficiência cardíaca (a máquina pode bombear o sangue oxigenado em uma artéria);
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Auxiliar em outros problemas de coração ou pulmão, como miocardites, pneumonias e bronquiolites graves
Quais os riscos?
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Hemorragias: para circular na máquina, o sangue precisa estar anti-coagulado, o que gera maiores riscos de sangramentos espontâneos
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Infecções: o risco de infecção deriva das cânulas que tiram e retornam o sangue ao corpo
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Embolias: formação de coágulos ou bolhas de ar na corrente sanguínea
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Obstrução de artérias, o que pode resultar em AVCs
O tempo médio de recuperação dos pacientes em ECMO é de 10 a 15 dias, mas o aparelho pode ficar conectado ao paciente por mais tempo, sem um limite pré-determinado
A taxa mundial de eficiência média do procedimento é de 50%, ou seja, metade dos pacientes submetidos tem sucesso no tratamento
São cerca de 6 mil casos de uso de ECMO registrados no mundo todo para o tratamento de Covid-19 até abril de 2021, segundo monitoramento da Organização para Suporte Vital Extracorpóreo (Elso).
Fontes: Diego Gaia, cirurgião cardiovascular responsável pelo time de ECMO do Hospital Santa Catarina; Luiz Fernando Caneo, cirurgião cardiovascular do Incor e ex-presidente da Organização para Suporte Vital Extracorpóreo Latino-americana; Rafaela Gato, cardiologista pediátrica e diretora do programa de ECMO do Sabará Hospital Infantil; Organização para Suporte Vital Extracorpóreo (Elso).
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