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Poucas cenas ilustram tão bem a bagunça do governo Jair Bolsonaro na crise do coronavírus quanto a reação do ministro da Saúde, Nelson Teich, ao ser informado por jornalistas de que seu chefe acabara de anunciar a inclusão de academias esportivas, barbearias e salões de beleza entre os serviços essenciais a serem mantidos na pandemia.
Surpreendido pela notícia enquanto concedia uma entrevista coletiva na segunda-feira (11), um atrapalhado Teich ainda tentou explicar de forma constrangedora algo impensável: a decisão fora tomada sem consulta a sua pasta.
Mais do que impor uma humilhação ao subordinado, Bolsonaro deixou claro que se mantém firme em tentar sabotar esforços estaduais e municipais para controlar a disseminação do vírus.
O Supremo Tribunal Federal já deixou claro que prefeitos e governadores têm autonomia para determinar tanto medidas de quarentena como fixar os serviços que podem seguir funcionando.
Em outras palavras, o presidente sabe que não pode impor sua vontade nessa questão e age apenas como o provocador incendiário que sempre foi.
Depois de diversos estados anunciarem que irão ignorar o decreto, Bolsonaro voltou à carga. Sugeriu que a reação dos governadores "aflora o indesejável autoritarismo no Brasil".
É impossível não responsabilizar a omissão do governo federal diante do curso preocupante que a epidemia vem tomando no país. Como constatou reportagem publicada no Agora, o aumento diário do número de mortes no Brasil se dá em taxa superior à de países europeus em estágio similar da crise.
Nada disso, no entanto, faz mudar as prioridades do presidente.