Não se sabe ainda o que revelarão as investigações sobre os atos de Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados, mas o presidente tem medo. Um sinal claro disso é a decisão arriscada de entregar a sobrevivência de seu governo a parlamentares do chamado centrão.
Se o apoio desse grupo político de má reputação custa caro para qualquer governante, o preço fica muito maior para Bolsonaro, que faz o movimento em meio a uma crise e sempre falou mal do que chama de “velha política”.
O primeiro pedágio pela aliança será pago com cargos no Executivo que controlem verbas. Experientes, deputados e senadores que negociam votos no varejo legislativo não vendem fiado.
De fato, o centrão já recebeu do Palácio do Planalto um órgão farto em recursos e escândalos —o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que conta com R$ 1 bilhão em 2020.
A tarifa do segundo pedágio deve ser ainda mais dura para Bolsonaro e seus aliados. Está em jogo aqui a credibilidade do presidente perante sua base eleitoral mais fiel, que acreditou no discurso de moralidade e combate à corrupção.
Bolsonaro, afinal, faz o pior tipo de barganha política ao bajular figuras do toma lá dá cá como Roberto Jefferson (PTB-RJ), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Arthur Lira (Progressistas-AL).
Por fim, o terceiro pedágio é o risco de deslealdade. O centrão até ajuda enquanto é do seu interesse, mas não salva ninguém por compromisso político.
Se o chefe de Estado perde sustentação nas ruas e crescem as perspectivas de recompensa com uma eventual mudança de governo, a turma muda rapidamente de lado. Assim ocorreu no impeachment de Dilma Rousseff (PT).
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