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Mergulhar em jornais antigos, para quem saboreia o cheiro de naftalina, é um exercício prazeroso. Ainda que a consulta seja digital e o odor, metafórico, navegar por notícias velhas costuma render resultados interessantes, nem sempre relacionados ao objeto da pesquisa.
Na última semana, por exemplo, mergulhei no acervo da Folha de S.Paulo para preparar uma reportagem sobre os 25 anos da morte de Ayrton Senna. E a edição de 2 de maio de 1994 trazia muito mais do que os detalhes do trágico acidente da véspera.
Um jornal impresso é o retrato de uma época. Um retrato parcial, como todos, mas um retrato pretensamente amplo e particularmente divertido se revisto após algum tempo.
A Folha que chorava o adeus do ídolo tinha também, entre suas quase 80 páginas, uma coluna que questionava a luta dos gays pelo direito ao casamento. Apresentava, ainda, uma curiosa avaliação de um concerto da cantora Barbara Hendricks em São Paulo.
O crítico não se surpreendeu com “o desempenho perfeito” da soprano norte-americana no Teatro Municipal. Para ele, o fato mais marcante da noite foi o toque de um telefone celular, novidade que ainda provocava choque.
O autor do texto mostrou irritação com “socialites que pareciam nunca terem assistido a um recital na vida”. “Uma dessas peruas devia ter um compromisso às 22h15. Neste horário, o celular dela tocou”, narrou.
Um quarto de século depois, os celulares são menores e não provocam o mesmo espanto. Socialites ou não, no teatro ou no estádio municipal, as pessoas têm enorme dificuldade de se desgrudar de seu aparelho.
Na última quarta, exatamente 25 anos após a apresentação de Barbara Hendricks, fui acompanhar uma reunião de torcedores do Palmeiras em torno do rádio. O jogo não tinha transmissão de TV, e o jeito era se concentrar no locutor.
Como mostrou a reportagem aqui publicada, houve obstáculos. A atenção se dividiu entre a conversa, a comida e, claro, o celular, que ganhou facilmente a disputa com o velho aparelho.
Na era das multitarefas, dedicar-se a uma só virou coisa da antiga. Para quem não consegue se separar do telefone, o jornal de papel e o radinho de pilha parecem algo “mais obsoleto do que o primeiro espartilho de Sarah Bernhardt”.