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O futebol não era um esporte popular no momento em que o Corinthians nasceu, em 1910, fundado por dois pintores de parede, um sapateiro, um cocheiro e um trabalhador braçal.
Três anos depois, quando a equipe já levava pequenas multidões a seus jogos no Bom Retiro, o rico comerciante Manoel Domingos Corrêa foi a um deles e berrou: “Time de carroceiros”.
Havia mesmo ali trabalhadores humildes, pobres. Um deles era Neco, então jogador do segundo quadro e torcedor do primeiro.
Ao ouvir o desaforo, Nequinho, como ainda era chamado aos 18 anos, partiu para cima de Corrêa. O mesmo Corrêa que presidiria o clube alvinegro entre 1941 e 1943 —um alento para Andrés Sanchez, afinal ele não é o primeiro presidente do Corinthians que não sabe o que é o Corinthians.
Nesta semana, Andrés determinou que fosse retirada de uma exposição no Parque São Jorge uma camisa usada na conquista da Liga Ouro de 2018. Ao erguer a taça, a primeira do basquete preto e branco após mais de duas décadas, o capitão Gustavinho exibia no uniforme a pergunta: “Quem matou Marielle?”.
Não era exatamente um questionamento novo. Na noite da conquista, completavam-se cem dias do brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, sem que houvesse quaisquer respostas sobre a autoria do crime.
Algumas apareceram. Muitas, não. Passados 507 dias desde a morte daquela negra bissexual que ousou ser a voz de quem não a tem, ainda há gente disposta a apagar a pergunta da camisa —até no time que tinha no uniforme a palavra “democracia” enquanto o país vivia uma ditadura.
Quando Manoel Domingos Corrêa virou presidente do Corinthians, Nequinho já tinha perdido o sufixo diminutivo e virado busto no Parque. E o cargo ocupado pelo comerciante não o livrou de uma surra de cinta do ídolo alvinegro.
O clube não tem hoje um Neco, seu mais puro representante. Tem Gustavinho, que não é Neco nem Sócrates, mas é maior do que indica o sufixo diminutivo.