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"Passageiro do Brasil, São Paulo, agonia, que sobrevivem em meio às honras e covardias. Periferias, vielas, cortiços, você deve tá pensando: o que você tem a ver com isso?" Pânico na zona sul. Como não lembrar de Racionais? "Justiceiros são chamados por eles mesmos, matam, humilham e dão tiros a esmo."
Da LED da minha sala na ZL, meus olhos azuis lacrimejam sobre a minha pele clara ao acompanhar a notícia do menor negro chicoteado na periferia da zona sul por seguranças de um supermercado. Crime, por gente de bem e de bens, consentido. A tortura nunca saiu de moda longe do Centro expandido.
Como é doce a vida de quem pode comprar chocolate. Sarrafo amargo para quem não pode, em Cidade Ademar. "Quando o dia escurece só quem é de lá sabe o que acontece, ao que me parece prevalece a ignorância, e nós estamos sós, ninguém quer ouvir a nossa voz".
O Agora quis ouvir. Jornalismo, que cumpre seu papel social, é sola de sapato, andança. A reportagem, presente com Dhiego Maia e Zanone Fraissat, bateu à porta da vizinhança. Odilon Silveira de Macedo, 71, dono da imobiliária em frente ao Bom Prato, palco adjacente à cena selvagem, não queria papo com a imprensa. Mudou de ideia quando soube que se tratava da equipe do Agora. O povo reconhece seu lado na briga para mostrar o seu lado do fato.
"Eu compro o Agora todo dia na banca. Meu sonho é apertar a mão do Vitão."
Na era do online, a notícia, passo a passo, demorou alguns dias, mas chegou ao meu WhatsApp. Choro novamente. Alegria diferente, que não apaga em nada o choro pela tragédia humana.
Recomposto, fui atrás do telefone. Nada de mensagem virtual. Até que consegui o "alô" real, grave de Odilon. "É você mesmo, Vitão?"
Sou eu. O Odilon, colorado de família que virou "corinthiano fanático" por adoção, é um brasileiro que poderia ser o pai, o tio, o amigo de qualquer um. Na infância, trocou o Sul por São Paulo, com direito a escala em Santos. Sorriso, prantos, sol a sol, nove filhos, trabalha mesmo gozando aposentadoria. E ainda agradece.
Sem sensacionalismo. Como é sensacional falar e ouvir a voz do povo. E dividir, mesmo que por telefone, um "vai, Corinthians!".