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“O amor irrestrito ainda assusta”, diz trecho da descrição do enredo da Mangueira para 2020. A tradicional escola de samba vai levar Jesus à Sapucaí e propor uma reflexão sobre o lugar que ele teria em um mundo talvez ainda mais intolerante do que o de 2.000 anos atrás.
O Jesus da Mangueira é negro, criado no morro. “Se sobrevivesse às estatísticas destinadas aos pobres que nascem em comunidades, chegaria aos 33 anos para morrer da mesma forma. Teria a morte incentivada pelas velhas ideias que ainda habitam os homens.”
Com base nesse texto, foram compostos 32 sambas que disputam o direito de ser o hino da Estação Primeira. Uma das músicas concorrentes pinta um Jesus que “retira o amor do armário”. Outro põe tempero carioca nos Evangelhos tradicionais: “Da água ele fez cerveja em Mangueira, e o samba rolou a noite inteira”.
Em qualquer versão, o Cristo mangueirense é amor. “Tem um Cristo que veste rosa, tem um Cristo que veste azul”, canta o baluarte Hélio Turco, mas nenhum é movido pelo ódio.
O Jesus da Vila Miséria, região do Morro da Mangueira cujo nome é um bom retrato de sua realidade, pode ser tricolor, como Cartola. Ou, mais provável, tal qual Jamelão, torcedor do Vasco, clube que carrega na história a luta pela inclusão do negro no futebol.
Foi também o Vasco que teve recentemente um jogo interrompido pelo juiz por causa de gritos homofóbicos de sua torcida. Se não é exclusividade de São Januário, não deixa de ser ilustrativo que até o time dos históricos camisas negras atue com os adversários sendo chamados de bichas.
É difícil livrar-se de hábitos enraizados há décadas, mas talvez tenha chegado a hora de aposentar alguns dos cantos tradicionais dos estádios. O Jesus verde-e-rosa, ou de qualquer cor, certamente evitaria berros como “bicharada”.
O problema é que, em uma época de falsos messias, seguir o exemplo de Jesus não está em alta nem entre aqueles que adoram repetir seu nome.