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Caneladas do Vitão: A culpa é (de parte) da torcida

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São Paulo

Consumidor não é o dono da verdade. A sociedade paga a conta da cínica “lógica” de que o cliente sempre tem razão. Não tem, não. Nem sempre. Apesar do “deus mercado” viver na base de que  quem tem muito dinheiro vem primeiro. Em primeiro, em segundo, em terceiro... Quem dá mais? E quem não tem ainda é, asquerosamente, acusado de ser culpado por não poupar por viver nos quintos dos infernos.

Consciência tranquila é brisa. “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”, imortalizou Dante Alighieri, direto na ferida.

Futebol, principalmente para o mal, imita a vida. Cada um por si para ganhar montando em cima do direito do outro é a regra do jogo.

Racismo, homofobia, machismo, misoginia e xenofobia escancarados, ecoados, coreografados e reiterados, minimizados em nome do negócio, são provas de que torcedor não tem sempre a razão. Nem deveria poder tudo sob o mercantilista argumento de que ele é que paga a conta.

Virou lei ignorar a canalhice comportamental em privilégio da interesseira visão econômica de que quem compra ingresso pode ofender, ameaçar, constranger, afinal torcedor, coitado, é emoção e pode tudo.

A vida, no entanto, não é só a economia, estúpido. A lei do retorno goleia a lei do mercado. Quando o time esquece o seu povo e os dirigentes usam o “próprio” time em proveito próprio (e da numerosa família), agindo na base do vale tudo para vencer, discursam pelo metralhamento dos adversários, assassinam direitos e se consideram acima da lei, como se as leis não valessem contra si e nem precisassem ser respeitadas contra os rivais, a queda é certa.

O mundo, ao contrário do que acreditam alguns idiotas, é redondo... E dá voltas. O plano de tomar de assalto o Estado e sumir com as provas não se sustenta. A conta demora mais ou menos, mas, uma hora, chega... E não dá para reclamar de quem não é cúmplice. Se a torcida tem culpa é a parcela que aceita a lógica cruel e desumana como se fosse parte do jogo.

Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”.

Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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