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Amo cinema desde que minha mãe me levava na locadora. Era da hora. Anos 80. Depois de dez fitas rebobinadas entregues, ganhava um aluguel grátis de VHS ou Atari.
Ainda não era um fã de Woody Allen, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino e David Lynch. Adorava quando ela fingia vacilar e deixava passar algum título “apelativo” com “nudez desnecessária”.
Também era uma criança que, despertado pela “Democracia Corinthiana”, já me interessava por política. À época, “minha” opinião era a mesma do meu pai misturada com a da minha mãe. Estudei e formei a minha própria, bem à esquerda do resto da família e próxima à de Karl Marx.
Economia? Lembro que o dinheiro que comprava o lanche na segunda já não dava nem para o refrigerante na terça. No último ano do colegial, em 1994, o ônibus custava 0,75 URV (que viraria o real). Andava a pé e trocava o passe por cigarro paraguaio no camelô. Não entendia de aplicação. E, como continuo não entendendo nada, se um dia sair do vermelho ligo para a Cris Gercina, editora-assistente de Grana e irmã de ZL, e pergunto se boto uns caraminguás na poupança ou se compro máscaras para revender nos lotados terminais aqui do lado leste.
Eu era Corinthians quando nasci, quando quis saber o que era democracia, quando vibrei com um mamilo em “O Último Americano Virgem” e continuei sendo Corinthians quando vi “Meia-Noite em Paris”, no cinema. E, graças a Deus, reencarnarei corinthiano na próxima vida.
Sou jornalista e meu filho se chama Basílio porque sou Corinthians. Trabalho e gosto de esporte porque amo desde criança. Andava para economizar o passe que trocava por cigarro paraguaio. Parei de fumar há dez anos e agora é Bilhete Único. Muda-se de gostos, de aplicações. Você troca de partido, se o governo é ruim. Até o maldito cigarro você larga. Para de beber. Mas ninguém, nem jornalista, troca de time.
As falsas simetrias que comparam o amor por um time a outras áreas não acabam só com o jornalismo. Ajudam a matar a sociedade. Isentar-se ou, à Pôncio Pilatos, equiparar cientista a terraplanista, democrata a adoradores de tortura, é gestar um monstro. Lavar as mãos com álcool em gel depois de parido é tarde, talkey?
Nelson Rodrigues: “Sem paixão não dá para chupar nem mesmo um picolé”.