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Nada é perfeito. “O erro da ditadura foi torturar e não matar.” Mesmo erro do massacre do Carandiru. “Morreram poucos. A PM tinha que ter matado 1.000.”
Quem sobreviveu reclama de barriga cheia. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora passar fome, não. Você não vê gente pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países por aí.” Quilombola? “O afrodescendente mais leve lá [Eldorado-SP] pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais.”
Mas sempre tem os chatos. “A questão ambiental só importa aos veganos que só comem vegetais.”
Democracia é atraso de vida. “Por meio do voto você não vai mudar nada nesse país, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, se um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil, começando com o FHC, não deixar para fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.”
“E daí?”
“Vamos fuzilar a petralhada!”
Quem quiser viver que reze na cartilha. “Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem.”
Por bem ou por mal. “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento. Tá certo?” Homofobia? “Não existe no Brasil. A maioria dos que morrem, 90% dos homossexuais que morrem, morrem em locais de consumo de drogas, de prostituição ou executado pelo parceiro.”
Como o futebol imita o pior da vida, tivemos o Fla-Flu de narração única. Absurdo? O que é normal em um país em que se joga futebol anexo a hospital de campanha, para um público de cadáveres?
O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo capital do melhor e do pior do Brasil. Depois do futebol com torcida única, inovamos com o Fla-Flu do time único na narração clubística.
Todo mundo junto e misturado, sem máscaras, só na Mureta da Urca. Ou em bar frequentado por “cidadão, não, engenheiro civil”.
Sou jornalista diplomado pós-graduado em Português, Língua e Literatura pela Universidade Metodista de São Paulo. E cidadão do tipo que não mente no currículo lattes. Se eu fosse corinthiano, maloqueiro e sofredor, graças a são Jorge, teria 818 mil críticas à gestão atual e às antecessoras alvinegras, mas também teria muito orgulho da Democracia Corinthiana e do time do povo, institucionalmente, não emprestar a sua popularidade a um desgoverno abjeto, irresponsável e que manda um “e daí?!” para dezenas de milhares de mortos. Essa vergonha eu não carrego, talkey?
Viva a memória!
Vladimir Herzog: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra os outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”.