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A bola é um detalhe: O segundo maior gol da história

Rios tranquilos ou águas turbulentas, narrativas sobre Maradona sempre acabam por desaguar em 22 de junho de 1986

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São Paulo

Diego Maradona é um personagem fantástico. Paradoxal, humano, genial, genioso, carismático, infantil. Sobretudo infantil.

É difícil não se identificar com uma criança. Até o mais carrancudo dos adultos carrega uma dentro de si, e eu desconfio que a atração surreal que o craque argentino sempre provocou tenha muito a ver com essa imaturidade irresistível.

Maradona era capaz de encantar em um aquecimento, como fez em 1989, brincando com a bola antes de um Bayern x Napoli decisivo. Ou chafurdando na lama, em um treino, mostrando sua habilidade inacreditável em um campo encharcado.

Foi sorrindo, com seu jeito pueril, que ele teve aquela que é a maior atuação de um jogador de futebol em todos os tempos. Repare que as narrativas em torno do craque, rios tranquilos ou águas turbulentas, sempre acabam por desaguar em 22 de junho de 1986.

Naquele dia, nem tudo foi infantil. Basta observar que o atual presidente da França, Emmanuel Macron, chamou a partida disputada nessa jornada de “o jogo mais geopolítico da história” e celebrou a vitória da Argentina sobre “a Inglaterra de Thatcher”.

O leitor sabe que Margaret Thatcher era a odiada primeira-ministra da Inglaterra, que havia derrotado os argentinos na Guerra das Malvinas, em 1982. E o que fez Maradona foi mais do que conseguir uma breve desforra esportiva.

Maradona enfileirou ingleses e fez lorde Nelson tremer na tumba - Acervo - 22.jun.86/AFP

A Argentina não apenas ganhou. Ganhou roubado. Com seu gol de mão, o pequenino Diego disse ao goleiro Peter Shilton, a Thatcher e a toda a Inglaterra: ladrão que rouba ladrão pode sorrir sem culpa.

Nem isso satisfez o camisa 10. Se “a base sentimental da torcida é o ódio, e não o amor”, como observou Nelson Rodrigues, o craque decidiu oferecer a seu povo a vingança suprema.

O gênio, então, começou a enfileirar rivais até chegar à rede. Deixou para trás uma porção deles, fez lorde Nelson tremer na tumba e tirou lágrimas de esguicho da Divina Dama. Foi o segundo maior gol da história.

Marcos Guedes

33 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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