Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Preto, branco, colorido

Carta aberta ao meu Alemãozinho

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São Paulo

O ano da pandemia não foi um ano perdido, filho. Tudo no esporte, microcosmo que imita a vida, tem um lado positivo. 2020, além de fim da linha da estupidez trumpista, consagra os cidadãos Lewis Hamilton e LeBron James e marca, de forma definitiva e irreversível, ainda que tardia, a intolerância a qualquer prática racista.

Parece estranho, Basílio, falar de racismo com você, que tem o nome de um ídolo negro, que, em 13 de outubro de 1977, comemorou com a mão levantada e o punho cerrado o gol mais importante da história. E, desde os 5 anos, quando começou no Chute Inicial Aricanduva, você foi treinado pelo Paulo Marques e jogou com amigos negros, crianças exatamente iguais a você. Antes e depois disso, Basa, contou e sempre conta com a presença carinhosa do seu xará famoso no batizado e nas suas festinhas de aniversário.

Você, filho, que sonha um dia ser lateral e, quem sabe, jogar no Timão, sempre soube (e tem até uma foto tirada com ele) que o melhor da nossa história foi o Zé Maria. Isso do seu lado direito. Se fosse canhoto como o pai, sonharia ser o Wladimir. E, como joga em todas na defesa, saiba que Domingos da Guia foi ainda melhor do que o Gil!

Somos Corinthians, filho. No São Paulo da vovó nasceu Cafu, brilhou Vítor; no Santos do Pelé quem falava alto era o Carlos Alberto; e, ainda na sua posição, seja no Palmeiras ou na Portuguesa, Djalma Santos é o cara.

Não é só idolatria, Maloca. Tem a questão da hierarquia. Do respeito. Da verdadeira igualdade. No futebol profissional, atual, quase não há negros em cargos de chefia. Nunca teve, filho! Nem mesmo nas comissões técnicas das seleções africanas que disputaram as Copas, onde a grossa maioria é branca.
Ainda bem que não é o caso dos seus times, o Prime/Nacional, do técnico Bruno, e o Estudante Paulista, do técnico Reginaldo. Nem do seu colégio, cheio de crianças brancas de famílias de classe média (que, como a sua, podem pagar pelo ótimo ensino), todas elas apaixonadas pela excepcional educadora Tatiane Matos.

A sua geração, filho, é a esperança de que amanhã há de ser um novo dia, branco, preto, colorido! Que comece já em 2021!

*

Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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