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Bola pro Mato: Doutor Castor revive glórias e tramoias nos áureos tempos do Bangu

Documentário sobre bicheiro remonta ascensão, apogeu e queda do clube carioca

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São Paulo

“Doutora Denise, a senhora me serve como juíza.”

“O senhor também tem alguma estatura para ser meu réu.”

O curioso diálogo entre o banqueiro do jogo do bicho Castor de Andrade e a sua maior pedra no sapato, a juíza Denise Frossard, já nos créditos finais do documentário Doutor Castor, disponível na plataforma Globoplay, é uma pequena mostra do perfil amigável e carismático do contraventor em detrimento à natureza violenta de seus negócios.

O bicheiro Castor de Andrade posa no estádio Moça Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro, em 1985, no melhor período do Bangu Atlético Clube - Manoel Pires - 22.mar.85/Folhapress

Com leveza, bom humor e sobriedade, o seriado em quatro episódios dirigido por Marco Antônio Araújo mostra como o poderoso chefão da zona oeste do Rio de Janeiro usou o futebol e o Carnaval para legitimar sua imagem em detrimento ao violento negócio que comandava. São quatro deliciosas horas que voam, ideal para entreter em tristes tempos de festejos momescos sem folia.

Como não poderia ser diferente, o principal enfoque da película são, além da escola Mocidade Independente de Padre Miguel, os áureos anos do modesto Bangu Atlético Clube, que, sob a tutela de Castor de Andrade, fez campanhas memoráveis no Carioca, no Brasileiro e até chegou à Libertadores, destronando gigantes, sem, no entanto, conquistar taças relevantes —exceto o Estadual de 1966, quando ele iniciava a trajetória no clube presidido por seu pai.

Favorito em um Maracanã lotado, deixou, por exemplo, escapar o título brasileiro de 1985 nos pênaltis, diante do Coritiba, e o carioca, quando só precisava empatar com o Fluminense no triangular final.

No período, o time de Moça Bonita tentou alavancar o futebol feminino e, entre os homens, contou com grandes nomes como Marinho, Ado, Arturzinho, Neto e Mauro Galvão. Castor também intimidou e deixou seus capangas agredirem árbitros, comprou jogadores adversários e agiu nos bastidores da cartolagem para favorecer seu clube.

Até hoje, 24 anos após sua morte, ele é idolatrado na zona oeste do Rio. Os eventos retratados principalmente entre os anos 1960 e 1990 na minissérie —impunidade, milícias, crime organizado, guerrilha por poder, corrupção policial e política etc.—, também seguem atuais ou até mais graves. O único pobre coitado que nunca mais ganhou força foi o Bangu.

Luís Marcelo Castro

38 anos, é jornalista formado pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), coordenador do caderno Vencer e apaixonado pelo futebol do interior de São Paulo e do Brasil. E-mail: marcelo.castro@grupofolha.com.br

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