Descrição de chapéu Opinião

A bola é um detalhe: 'Técnica, Timão, você é tradição'

Fãs de Cantillo e detratores de Romero ignoram que raça não se ensina

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São Paulo

Bastou brotar uma notícia —aparentemente infundada— de que o Corinthians estava trabalhando pela volta de Romero para a versão Twitter da Fiel, ou ao menos parte dela, entrar em polvorosa. Para essa turma, que representa tanto a torcida alvinegra quanto Jair Bolsonaro representa a democracia, raça e Timão não têm nada a ver.

É uma turma que, se pudesse, gritaria “técnica, Timão, você é tradição”. Só não faria isso no estádio, porque esse negócio de ir ao estádio é coisa de maloqueiro. Porém é perfeitamente possível para ela, por exemplo, bater palmas virtuais para Cantillo.

O que os fãs do inerte colombiano não conseguem entender é que raça e técnica não são características mutuamente excludentes. Parece inacreditável, mas é plausível que uma pessoa seja capaz de acertar passes e de dar carrinhos.

Cantillo é um volante avesso à marcação e, com a bola, só consegue ser eficiente em um ponto bem específico; ainda assim, há quem se diga moderno e o aprecie - Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Na defesa de Cantillo e similares, os adoradores geralmente se dizem modernos. “Estamos em 2021”, afirmam, como se a vontade de jogar futebol tenha deixado de fazer diferença em um esporte que se tornou mais científico. E como se houvesse algo de moderno em um volante que não marca e só consegue ser eficiente com a bola no pé em uma faixa bem específica do campo.

Cria-se, então, um falso conflito entre a pureza da técnica e a raça desprovida de habilidade. E dói demais para os moderninhos ver o esforçado e limitado Roni ser muito mais útil e evidentemente muito mais moderno do que Cantillo.

Nessa discussão, quase sempre surge o batido e incorreto argumento: “É mais fácil pedir vontade a alguém com técnica do que técnica a alguém com vontade”. Não é. Veja Alexandre Pato. Veja Ganso. Veja Cantillo.

Por outro lado, é relativamente comum observar atletas esforçados crescendo do ponto de vista técnico. Sobram exemplos, mas fiquemos com Felipe, que era motivo de chacota em seu início no Corinthians e se tornou um dos grandes defensores do mundo.

O ideal, evidentemente, é que o jogador tenha habilidade e disposição, como Renato Augusto. Mas, entre Romero e Cantillo, é fácil entender por que um é ídolo da Fiel e o outro é a cara da Fiel Twitter.

Marcos Guedes

35 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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