Domésticas perdem emprego formal na pandemia de Covid

Atividade está entre as mais atingidas; mais de 1,7 milhão ficou sem trabalho com carteira assinada

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São Paulo

O trabalho doméstico está entre os setores mais atingidos economicamente pela pandemia de Covid-19. Mais de 1,7 milhão de profissionais com carteira assinada perdeu o emprego no último ano, segundo o IBGE.

Entre os motivos, afirmam especialistas, está o aumento da crise econômica, que obrigou muitas famílias a reduzirem despesas. Mas, o medo da contaminação pelo vírus pode ter sido determinante para a dispensa da doméstica em muitos lares.

Angela Alves, 26 anos, de Itaquaquecetuba (Grande SP), foi dispensada pelo patrão, que disse ter medo de que ela se contaminasse no transporte público. Após quatro meses desempregada, está fazendo faxina por meio período, quatro vezes por semana, sem registro.

Andreza Souza procura trabalho há três meses e conta que, mesmo fazendo os testes de Covid-19 pedidos pelos possíveis patrões, não encontra vaga - Ronny Santos/Folhapress

Sem carteira assinada há “muito tempo”, Andreza Souza, 44 anos, também de Itaquaquecetuba, tem feito até teste para detectar a Covid-19 nas entrevistas de emprego. “Muitos têm medo. Entre março e outubro, só me chamaram os que me conheciam mesmo. Estou me virando vendendo pano de prato”, conta.

A doméstica Pamela Suellen Santos, 21 anos, de Jacareí (Grande SP), foi demitida de um escritório de advocacia em julho e, apesar da procura diária, até o momento fez “um bico” de sete dias em um consultório. “Estou recebendo o auxílio [emergencial], mas em dezembro acaba”, conta.

Para o presidente da ONG Doméstica Legal, Mário Avelino, há tendência de diminuição dos salários pagos e, apesar da reabertura do comércio, não está havendo recuperação no setor.
“O salário médio do assalariado diminuiu”, diz.

“Quem contratava perdeu emprego ou foi para home office e viu que podia cuidar da casa.” O especialista acredita que as diaristas vão se recuperar mais rápido, por não haver custos ao patrão para dispensá-las.

Foi como a cozinheira Josélia Maria da Silva, 43 anos, conseguiu uma renda. Após ficar desempregada quando o restaurante onde trabalhava fechou na quarentena, conseguiu vaga de faxineira, sem registro.

*

Sem carteira assinada | Na pandemia

  • A pandemia da Covid-19 elevou as taxas de desemprego e aumentou a informalidade no Brasil
  • De acordo com o Dieese, entre as ocupações mais atingidas está o emprego doméstico
  • Segundo o IBGE, dos 4 milhões de trabalhadores com carteira assinada que perderam emprego no último ano, 1,7 milhão eram empregadas domésticas com trabalho formal

Motivos do aumento do desemprego entre as domésticas

  • Em razão do isolamento imposto para o controle da pandemia, famílias estão trabalhando em casa e assumindo os afazeres domésticos
  • Há ainda o aumento da crise econômica, que obrigou muitas famílias a demitirem as domésticas para reduzir despesas
  • Também foi motivo importante de dispensa de trabalhadoras domésticas o temor dos patrões de contágio da doença

Os números na pandemia

Dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística):

  • 13% dos trabalhadores ocupados no primeiro trimestre de 2020 estavam sem trabalho no segundo trimestre
  • 23% dos que recebiam até um salário mínimo (R$ 1.045, neste ano), no primeiro trimestre, ficaram sem ocupação após o início da pandemia
  • 31% dos empregados domésticos sem carteira assinada perderam a ocupação. Isso representa cerca de 1,3 milhão de pessoas
  • O percentual de mulheres que ficou sem trabalho entre o primeiro e o segundo trimestre foi maior que o dos homens; um total de 6,2 milhões de trabalhadoras
  • 22% dos trabalhadores com 70 anos ou mais estavam desempregados no segundo trimestre do ano

Suspensão do contrato

  • Entre as medidas econômicas tomadas pelo governo federal para enfrentar a crise ampliada pela Covid-19 está a possibilidade de suspender o contrato de trabalho de forma temporária ou reduzir a jornada de trabalho e salário
  • Podem entrar no acordo empregados admitidos até 31 de março de 2020
  • Para cada mês do acordo, a doméstica tem um mês de estabilidade no emprego
  • A medida provisória tem validade até 31 de dezembro de 2020

Demissões

  • Para o Sindoméstica (Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos da Grande São Paulo), o receio é que haja demissões após o fim das medidas trabalhistas que podem ser aplicadas neste ano, aumentando o desemprego

Trabalhadoras idosas

  • Segundo o Doméstica Legal, entre as trabalhadoras domésticas, quase 20% têm 60 anos ou mais
  • A idade tem excluído as profissionais do mercado de trabalho na pandemia, porque elas estão no grupo de risco da Covid

Cuidados no retorno ao trabalho:

  1. Crie uma nova rotina, estabelecendo prioridades para agilizar o trabalho
  2. O uso da máscara é obrigatório enquanto a pandemia durar
  3. O patrão é obrigado a fornecer máscaras descartáveis ou de tecido, álcool em gel e luvas ao trabalhador
  4. O empregador também é obrigado a usar máscara enquanto a doméstica estiver trabalhando em sua casa ou empresa

Fontes: Dieese, IBGE, Doméstica Legal e Sindoméstica

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