Parentes e vítimas de acidentes de trânsito reclamam de demora para ter o DPVAT na Caixa

Indenização de até R$ 13.500 deve ser pedida pelo aplicativo da Caixa

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Juca Guimarães
São Paulo

Vítimas de acidentes e parentes de pessoas que morreram no trânsito têm reclamado da demora na liberação do seguro DPVAT em 2021, segundo a associação CDVT (Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito), que também forneceu casos de beneficiários que aguardam na fila de pagamento.

As indenizações por acidentes de trânsito passaram a ser pagas pela Caixa Econômica Federal, por meio de aplicativo DPVAT Caixa, depois que o consórcio administrado pela Seguradora Líder deixou de operar o seguro obrigatório de veículos. Para quem não conseguir ou puder usar o aplicativo, os pedidos também podem ser feitos nas mais de 4.200 agências do banco em todo o país.

O DPVAT paga indenizações em casos de morte, invalidez e para despesas médicas de acidentes de trânsito. Em caso de morte, o pagamento é de R$ 13.500. Os pedidos, porém, podem conter pendências e nesses casos o beneficiário deve correr atrás da documentação complementar para conseguir destravar seu pagamento.

Maria Dalva Ribeiro Lima Silva, 63 anos, que mora na cidade de Curionópolis, no Pará, conta que aguarda o pagamento de sua indenização. “Meu filho morreu no dia 1º de janeiro. Estou com uma dívida de R$ 9.000 com a funerária. Até agora não recebi o seguro e na cidade onde moro nem tem agência da Caixa.”

O filho dela, Victor Emanuel, de 19 anos, morreu no começo do ano em um acidente de moto. Para fazer o pedido do DPVAT, a dona de casa precisou ir até a agência da Caixa na cidade vizinha de Parauapebas e contar com a ajuda de amigos para baixar o aplicativo. No dia 10 de março, ela conseguiu registrar a reclamação na Caixa, mas afirma que até o momento não recebeu.

Segundo o presidente do CDVT, Lucio Deodato Almeida, o que aconteceu com a dona Maria Dalva no Pará não é um caso isolado, mas algo cada vez mais comum em várias regiões do Brasil.

“Estamos recebendo reclamações e relatos de pessoas que já estão passando necessidades. O CDVT procurou parlamentares e estamos organizando um protesto para alertar sobre o que está acontecendo com o DPVAT desde o início do ano. Antes era só procurar uma corretora, uma seguradora ou até pelos Correios para fazer o pedido”, disse Almeida. A advogada da entidade de auxílio jurídico e assistência para familiares e vítimas de acidentes, Patrícia Menezes, afirma que desde janeiro existe um represamento da liberação do DPVAT.

O que diz a Caixa

A Caixa Econômica Federal informou que 33% dos pedidos de seguro DPVAT feitos em 2021 foram pagos ou estão aguardando alguma pendência de documentação que precisa ser entregue pelo cliente. O banco não detalhou, desse percentual, quantos foram pagos e quantos estão na fila por pendências.

Já em relação aos outros 67% dos pedidos, a Caixa informou que são solicitações negadas ou que se trata de processos dentro do prazo de análise.

Espera desde janeiro

Em São João do Rio do Peixe, na Paraíba, o agricultor José Marcos Nunes de Souza, 28 anos, conta que deu entrada no pedido do DPVAT no dia 10 de janeiro, após a morte de sua mulher, a enfermeira Luzia Cristina Braga de Souza, 39 anos, no dia 7 de janeiro. “Ela ia todos os dias para o hospital e dirigia 22 km pela BR 393. Era 18h10, mas ainda estava claro, um animal passou na pista, ela caiu e foi atropelada por um caminhão”, disse Souza.

O agricultor conta que tentou várias vezes receber a indenização, mas diz que a Caixa aponta pendências e não explica qual documentação falta. “Está tudo protocolado direitinho. E não sou só eu, tem outras pessoas do mesmo jeito. Estou esperando e já fez quatro meses”, disse Souza.

Em São Paulo, o autônomo Raílson Felix de Araújo perdeu a perna direita em um acidente de moto na região metropolitana, no dia 2 de janeiro. Ele deu entrada no DPVAT na agência do largo de São Mateus, na zona leste. “Eu achava que iria receber em 30 dias, porque levei todos os documentos. Faltavam dois dias, me disseram que tinha erro na papelada, refiz tudo. Usei o aplicativo, que falhou várias vezes e ainda não recebi nada”, conta.

Raílson é casado e começa a passar necessidades porque não consegue trabalhar. “Preciso comprar uma prótese, estou vivendo com a ajuda dos vizinhos.” O acidente no qual o autônomo perdeu a perna foi provocado por um automóvel que vinha na contramão.

A Susep (Superintendência de Seguros Privados), responsável pela supervisão e fiscalização do DPVAT, informou, em nota, que recebeu os dados de janeiro e fevereiro de 2021, e que este material está sob análise. “Eventuais atrasos nos pagamentos das indenizações serão apurados”, diz a nota.

A Susep destaca, porém, que o prazo para análise e pagamento das indenizações previsto em contrato é de 30 dias, contados da data de apresentação da documentação completa que comprove o direito. Há previsão de solicitação de documentos ou esclarecimentos adicionais quando houver necessidade, o que interrompe esse prazo, informa.

Caixa comenta casos

Nos três casos relatados nesta reportagem, a Caixa informou que falta algum documento e os clientes, após o questionamento do Agora, foram procurados pelo banco, que detalhou a pendência.

A Caixa ressalta que os documentos devem ser apresentados de maneira completa para que ocorra posicionamento quanto ao deferimento ou indeferimento da cobertura. Havendo necessidade de complementação ou esclarecimentos, o beneficiário é informado.

O banco destaca que o modelo adotado, com o aplicativo, é gratuito e não precisa de intermediários. As solicitações de indenização do DPVAT para acidentes ocorridos a partir de 01/01/2021 podem ser protocoladas no aplicativo DPVAT CAIXA ou nas mais de 4.200 agências do banco distribuídas por todo o território brasileiro, atendendo assim a todos os perfis de cidadãos, especialmente os que não dispõem de aparelhos celular, informa o banco.

Mudança no DPVAT

A Caixa Econômica Federal começou a operar o DPVAT na segunda semana de janeiro e o aplicativo entrou no ar no começo de fevereiro.

A Líder é a responsável pelo pagamento dos sinistros que aconteceram antes de 1º de janeiro de 2021. Em 2020, o seguro DPVAT foi tema de uma série de reportagens da Folha que mostraram denúncias de mau uso do dinheiro arrecadado —como a compra de veículos e garrafas de vinho— e de conflito de interesses e favorecimento de sindicatos de corretores.

Quem recebe o DPVAT

  • Pessoas que estavam no veículo envolvido no acidente e se machucaram
  • Pessoas que foram atropeladas
  • Dependentes de pessoas mortas em atropelamentos ou acidentes de trânsito

O que cobre

  • Morte
  • Invalidez permanente
  • Despesas médicas

Aplicativo da Caixa

  • Para acidentes ocorridos a partir de janeiro de 2021, é preciso usar o aplicativo DPVAT Caixa
  • Após registrar o pedido, há a opção “Acompanhar Minha Solicitação”
  • Se não conseguir fazer pelo celular, o pedido pode ser feito pessoalmente em uma agência da Caixa, com preenchimento do Formulário de Solicitação DPVAT e a entrega dos documentos

Pedidos até 2020

  • Ainda podem pedir o DPVAT para a Líder as pessoas que se envolveram em acidentes até dezembro de 2020
  • Nesses casos, o pedido pode ser feito em corretoras e seguradoras autorizadas ou pelos Correios

Fique atento!

O pedido do DPVAT pode ser feito até três anos após a morte por conta do acidente, até três anos após o laudo que comprova a invalidez e até três anos após as despesas médicas

​Valores do seguro

  • Para morte: R$ 13.500
  • Para invalidez permanente: de R$ 135 a R$ 13.500
  • Despesas médicas: até R$ 2.700

Pagamentos de DPVAT (quantidade de pedidos pagos)

Ano Mortes Invalidez Despesa médicas Total
2018 38.281 228.102 61.759 328.142
2019 40.721 235.456 77.055 353.232
2020 33.530 210.042 67.138 310.710

Ouvidorias

Além de acionar as ouvidorias da Seguradora Líder (para acidentes até 2020) e da Caixa Econômica Federal (para casos a partir de 2021), os usuários que tenham reclamações sobre os atendimentos relacionados ao DPVAT podem recorrer ao Consumidor.gov.br, plataforma oficial do governo federal para solução de conflitos, que a Susep integra desde 1º de janeiro de 2021.

Fontes: Caixa Econômica Federal, CDVT (Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito), Líder Seguradora e Susep (Superintendência de Seguros Privados)

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