Cães e gatos são mutilados e mortos em ataques na zona sul de SP
Crimes são sempre na madrugada de segunda em condomínio popular, segundo moradores
Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados
Você atingiu o limite de
5 reportagens
5 reportagens
por mês.
Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login
Gatos e cachorros têm sido mutilados e mortos no Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima, na região do Grajaú, zona sul, segundo protetores de animais e moradores da região. Ao menos 70 bichos foram mortos desde maio.
No dia 10 de junho, quando cerca de 20 cães acabaram mortos durante a madrugada, moradores do condomínio acionaram um grupo de proteção animal. .
Os moradores teriam dito a uma protetora que integrantes de uma facção de crime organizado definem durante a semana quais animais devem ser alvo: cachorros ou gatos, e espalham a ordem para os ataques aos bichos.
Os animais são capturados sempre durante a madrugada de domingo para segunda-feira.
Depois de mortos, os bichos ficam espalhados pelas ruas do condomínio popular com olhos perfurados, e com orelhas, patas e rabos mutilados, marcas de queimadura e outros machucados pelo corpo, relatou uma protetora, que pediu para não ser identificada.
No início da semana, ativistas recolhem os animais mortos para enterrar. Os poucos que são encontrados vivos, mas fracos, são levados a um veterinário.
Até agora, apenas quatro animais conseguiram ser salvos, afirma a protetora. Muitos dos animais morreram envenenados, outros, devido às agressões. Segundo relatos, houve inclusive uma cadela que foi morta a tiros.
Na casa de uma das moradoras há cerca de 15 animais abrigados. As pessoas que vivem no local têm medo de falar do assunto.
A presidente da Anda (Agência de Notícias de Direitos Animais), Silvana Andrade, diz que a forma como a crueldade é cometida é sempre a mesma.
“O local não possui câmeras e a maioria dos animais são comunitários. Muitos vivem em situação de rua, outros, são domiciliares e saem para passear durante a noite. Todos estão correndo o risco de serem atingidos”, afirma.
Denúncia
A presidente da Anda (Agência de Notícias de Direitos Animais), Silvana Andrade, registrou uma denúncia pela internet na DEPA (Delegacia Eletrônica de Proteção aos Animais), da Polícia Civil, sob gestão do governo João Doria (PSDB), em 17 de junho, mas ainda não não teve resposta. “Parece que não podemos contar com a polícia, pois ninguém nos procurou até agora”, reclama.
Moradores também fizeram um abaixo-assinado pela internet, pedindo providências à Polícia Militar. Até às 20h desta sexta-feira, 1.900 pessoas tinham assinado a petição.
Outro ativista, que pediu para não ser identificado, afirmou que está em contato com associações de moradores do Grajaú para tentar ganhar força no combate às mortes dos animais no conjunto habitacional.
“A gente quer organizar algum protesto, mas primeiro precisamos entender porque os criminosos estão agindo assim, matando animais. Ninguém consegue nos explicar”, afirma.
“Acredito que como a região é na periferia, as pessoas não estão dando a devida repercussão sobre o assunto. Entramos em contato com deputados, lançamos uma petição online, mas não sabemos o que fazer”, diz o morador.
Torturas
O veterinário Alberto Soti Yoshida, que trabalha como perito e é consultor da Anda, diz que as torturas realizadas no conjunto habitacional do Grajaú, além de incomuns, revelam também a periculosidade dos agressores.
“Quanto mais insensível um agressor é com animais, mais potencialmente perigoso ele pode ser com as demais pessoas também”, diz.
Yoshida, que trabalha com perícia legal há 25 anos, afirma que casos de tortura a animais são raros, principalmente quando feitos em grandes proporções.
“Ao longo dos anos, tivemos uma série de campanhas de conscientização para inserir os animais como parte da sociedade”, afirma.
“Por isso, é muito difícil encontrar relatos de tortura em grande escala. A maioria dos crimes acontece por envenenamento”, diz.
Ele afirma que quando há relatos de maus-tratos a animais, os veterinários peritos devem ser acionados pela delegacia da região e, então, se deslocar para à área do crime.
Já no local, é feita a verificação dos vestígios que ocorreram em relação aos animais. Depois disso, é realizado um laudo que informa, além da causa de morte, como foi realizado o crime contra os bichos.
Resposta
Questionada pela reportagem sobre a denúncia realizada pela ativista Silvana Andrade na DEPA (Delegacia Eletrônica de Proteção aos Animais) , por meio de nota a SSP (Secretaria de Segurança Pública), da gestão do governador João Doria (PSDB) afirmou apenas que “a denúncia foi apurada pelo o 101º DP (Jardim das Imbuias), na zona sul, área dos fatos”. A nota diz ainda “que a equipe policial realizou diligências pelo local.”
A nota da secretaria, porém, não cita qual a conclusão da investigação da Polícia Civil, se as diligências comprovaram a morte dos animais e se há suspeitos pelos possíveis crimes contra cães e gatos na região do Grajaú.
A reportagem perguntou ainda sobre o que está sendo feito a respeito das mortes, quais serão os próximos passos da polícia e qual a orientação para os moradores do local.