Viaduto na zona sul de SP tem vão de 18 cm e preocupa motoristas
Viaduto Gazeta do Ipiranga foi alvo de vistoria da prefeitura, mas não há obras
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Motoristas estão com receio de passar pelo viaduto Gazeta do Ipiranga, na zona sul, que liga a rua das Juntas Provisórias com a avenida do Estado, devido a uma junta de dilatação com abertura de 18 cm, conforme mediu a reportagem nesta quinta-feira (18).
Segundo moradores próximos ao viaduto, a abertura já existe há dois anos e está cada vez maior.
O motociclista Bruno Ferraz, 27 anos, reparou no problema na semana passada. "Eu não tinha o costume de passar por aqui, mas quando vi o tamanho do vão passei a diminuir a velocidade da moto", diz. "Quando você passa pela abertura parece que está subindo um degrau ou uma calçada, é muito perigoso, especialmente para os motociclistas."
Entre dezembro de 2018 e janeiro, a Prefeitura de São Paulo, sob gestão Bruno Covas (PSDB), realizou uma série de vistorias em obras públicas, incluindo no viaduto Gazeta do Ipiranga, depois que um viaduto cedeu na marginal Pinheiros.
Em 1° de fevereiro, foi publicado no Diário Oficial da Cidade a abertura de um contrato emergencial de prestação de serviços para o viaduto, considerando a "extrema gravidade da situação apontada na vistoria."
Estes serviços incluíam inspeções especiais, outras vistorias, ensaios, laudos técnicos e verificação estrutural. A publicação previa também a necessidade de uma "intervenção imediata em caráter emergencial", para que estes ensaios fossem realizados.
Apesar do caráter emergencial, o contrato para vistorias foi formalizado apenas no dia 29 de maio, quase quatro meses depois. Segundo extrato publicado no Diário Oficial no dia 25 de junho, o serviço de inspeções especiais foi realizado por uma empresa de engenharia e consultoria pelo valor de R$ 450 milhões.
Nesta quinta-feira (18), no entanto, ainda não havia nenhuma equipe de obras no viaduto. Enquanto isso, motoristas mais precavidos continuam passando com cuidado pelo vão.
Assustador
O comerciante Estevan Perito, 72 anos, descreve a situação do viaduto Gazeta do Ipiranga como "extremamente assustadora". Ele trabalha em uma oficina da região e teria de passar diariamente pelo viaduto, para chegar a casa. Nos últimos meses, alterou seu trajeto para não passar pelo local.
"Eu tenho muito medo de estar ali e acontecer algum acidente. Mudando o trajeto a gente gastar mais tempo, mas ganha mais segurança. Os motoristas com quem eu converso sempre comentam que a anomalia deste viaduto é muito perigosa", afirma o comerciante.
O aposentado José Colombo, 70, dix que ao ver a situação do Gazeta do Ipiranga é "inevitável" não lembrar de outros viadutos e pontes que tiveram problemas recentemente na cidade. "A impressão que eu tenho é que os órgãos públicos estão esperando que este viaduto desmorone para só então tomar uma atitude", afirma.
Irregular
O engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP, afirma que a abertura no viaduto Gazeta do Ipiranga é "completamente irregular".
Ele diz que, ao deixar as juntas de dilatação abertas, a água da chuva escorre pelos pilares do viaduto.
"A água deveria andar pelas sarjetas e ser recolhida pelos bueiros. Com uma abertura dessa magnitude, ela passa a ser drenada pela parte mais sensível do viaduto, que são os pilares."
Segundo ele, a largura do vão varia de acordo com o projeto e não pode ultrapassar 5 centímetros.
Além disso, ressalta que a diferença de nível entre as duas partes do viaduto, separadas pela abertura, aumenta os impactos de veículos. "Esses impactos não são previstos no projeto, agravam muito o problema, podem até deslocar a estrutura e colocar os aparelhos de apoio, como pilares, em uma posição crítica."
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, sob gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que a vistoria já foi realizada no viaduto Gazeta do Ipiranga e que a junta de dilatação precisa ser substituída. A gestão diz em nota, entretanto, que o vão não representa risco para os motoristas.
Segundo a prefeitura, o laudo estrutural do viaduto foi entregue no dia 29 de maio e está em análise para que sejam verificadas quais outras intervenções devem ser realizadas na obra.
A gestão Covas diz que está "pagando o preço" da ausência de uma cultura de manutenção nas pontes e viadutos do município, "mas enfrenta o problema com responsabilidade".