Academia de musas do samba incentiva mulher a brilhar no Anhembi
Independente Tricolor quer valorizar a participação feminina no desfile
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Beleza, glamour e simpatia são palavras muitas vezes associadas às mulheres no Carnaval. Empoderamento feminino é outra expressão que tem ganhado destaque atualmente e já faz parte do enredo daquelas que gostam de participar dos desfiles.
A Independente Tricolor, escola do Grupo de Acesso do Carnaval paulistano, percebeu isso e mantém a Academia de Musas. Aberta em 2019, a iniciativa busca incentivar e valorizar todas aquelas que têm desejo de participar e que encontraram no samba um motivo de afirmação.
A produtora Diva Oliveira, 31 anos, é uma das 14 integrantes da academia da Independente Tricolor. “Fui inspirada por outras mulheres lindas que estão no Carnaval, que já fizeram parte da história. Elas não têm medo da opinião machista.”
É com muita ginga que Diva concilia a vida de musa com as obrigações do dia a dia. “Sou mãe solo, tenho quatro filhos, cuido dos meus pequenos e da minha avó de 78 anos. É uma correria só e preciso de um tempo para cuidar de mim. E, por incrível que pareça, quando estou envolvida nas aulas, penso em mim. Isso me ajuda muito, me faz esquecer os problemas”, diz.
“O que acho curioso e divertido é quando alguém do trabalho descobre que participo do Carnaval. Quem me vê com roupa de trabalho, não imagina”, afirma a contadora Susana Batista de Oliveira, 51.
Mas quando estão na quadra ou no Anhembi, elas não passam despercebidas. “A musa chama atenção desde a entrada até a saída da quadra, todos olham o comportamento”, diz a analista de departamento pessoal Valéria Aparecida Marcelina Marques de Oliveira, 38.
A analista de suporte Greice Rodrigues Faria, 31, diz que o orgulho é tanto que a família faz questão de dizer que ela é uma musa de escola de samba. ”A capacitação do projeto me deixou apta a enfrentar qualquer desafio. A minha vida se tornou um evento, porque eu me sinto uma estrela.”
Empenho e dedicação são fundamentais para candidata
O diretor da ala de passistas e musas da Independente Tricolor, Éverton Luis da Silva, 32 anos, afirma que a academia é aberta para todas, mas que é preciso empenho e dedicação para fazer parte. Além de passar em uma audição.
Manter presença constante, estar preparada para receber e aceitar dicas sobre postura, cabelo e maquiagem e saber sambar são pontos fundamentais.
“Sem esses pré-requisitos, ela não consegue chegar ao objetivo de se tornar uma musa, porque a musa é uma evolução da passista. Ela está um degrau acima”, diz Silva.
O diretor conta que a candidata à musa pode ter uma base simples do samba que, na academia, será lapidada. “Se já souber sambar, vamos deixá-la mais abusada no samba. Deixar mais gostoso para a plateia e o público ver”, afirma.
O resultado de tudo isso se reflete não apenas no samba, como afirma a coordenadora de qualidade Patricia Paulino de Mello, 37, que viu a mudança prática na sua vida. “Mudou a forma de me vestir, de me preparar para sair tanto no Carnaval quanto em momentos pessoais, entre amigos, festas e baladas. Hoje, eu me produzo mais do que antes. Consigo ver a diferença”, diz.
Vaga aumenta exposição e chega a custar R$ 30 mil em escolas
Coordenadora da academia e dos destaques da Independente Tricolor, Renata Provesano da Silva, 36 anos, conta que o posto de musa em uma escola tradicional do grupo especial pode custar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, por aumentar a exposição da interessada. Musas têm espaço próprio no chão e ganham mais destaque que passistas.
“É algo muito caro. Na Independente, o custo é apenas das fantasias e das roupas. O que pedimos em troca é o empenho e o comprometimento”, afirma Renata.
Segundo a coordenadora, as mulheres passaram a ocupar cada vez mais espaço. “Há segmentos como bateria e alegoria que, nos últimos anos, vêm aumentando bastante [a participação feminina]”, diz.
Marido ajuda sambista a montar os figurinos
A sensualidade sempre fez parte da vida das musas do Carnaval. Muitas vezes, com o rebolado vem também o ciúme dos companheiros. A atuária Ananza Dinora dos Santos de Campos Alcantara, 30 anos, porém, encontrou no marido, o bancário Airton Alcantara da Silva de Campos, 33, um grande incentivador e alguém que faz questão de participar do processo.
“Por incrível que pareça, meu marido me ajuda a fazer os figurinos”, conta. “Os maridos e namorados geralmente sentem ciúmes das mulheres andando com roupas mais exuberantes, que mostram mais o corpo, pequenas na maioria das vezes. Mas meu marido está sempre comigo me apoiando. Ele cola e costura a roupa comigo. Ele é muito parceiro e está sempre a meu lado”, completa.
O marido de Ananza é um dos integrantes da bateria da Independente e diz que os dois se conheceram justamente em uma quadra de escola de samba. “Também sou ciumento, mas tento não deixar atrapalhar um sonho que ela tem de ser musa de escola de samba. Não foi fácil ela chegar onde chegou”, conta.
A academia de musas também serviu para que Ananza não se sentisse mais afetada por qualquer vestígio de preconceito que ainda exista em relação às mulheres que gostam de sambar. “Não encontro mais motivos para omitir que faço parte do Carnaval de São Paulo, com medo de alguém me julgar.”