As mulheres sempre fizeram parte da indústria do cinema, não só nas telas, mas atrás das câmeras. Elas foram e são roteiristas, produtoras, figurinistas, maquiadoras, montadoras e diretoras. Mas como em outras áreas, o reconhecimento do papel delas, principalmente o das diretoras, ainda é pequeno.
Pode-se argumentar que as mulheres sempre estão entre os premiados no Oscar, como roteiristas, figurinistas, etc., mas o ponto central desta coluna é a direção, a autoria completa de um filme.
Em 92 anos de Oscar, apenas uma (isso mesmo, uma) mulher recebeu o prêmio de melhor direção. Foi Kathryn Bigelow, por "Guerra ao Terror", em 2010. Ou seja, àquela altura, tínhamos esperado 81 anos para ver uma mulher ser premiada. E depois, não houve mais nenhuma.
Nesta semana, foram anunciados os concorrentes ao Globo de Ouro de 2020. Entre os candidatos a melhor direção, não havia mulheres. Não é de se espantar, pois em 77 anos de premiação, apenas cinco diretoras foram indicadas na categoria. Só uma ganhou, Barbra Streisand, por "Yentl", em 1984.
A indiferença não se restringe a Hollywood. Em 2018, o Festival de Cannes, então na 71ª edição, teve sua 12ª presidente do júri, a atriz Cate Blanchett. Naquele ano, Cate, atrizes, diretoras, roteiristas, em um total de 82 mulheres, fizeram uma marcha pela Croisette, onde acontece o festival, para cobrar mais visibilidade. Elas representavam as 82 diretoras que tiveram filmes concorrendo em Cannes, em toda a história, uma diferença gigantesca diante das 1.600 obras dirigidas por homens nos anos de competição.
Este cenário não acontece por falta de talento ou de produção. No mês passado, a BBC divulgou uma lista com os cem melhores filmes dirigidos por mulheres na história. Eles foram escolhidos por jornalistas, críticos, entre outros, de 84 países do mundo, e mostram a diversidade da produção feminina.
Na relação, há nomes hollywoodianos como Kathryn Bigelow e Sofia Coppola, mas também cineastas da Argentina, do Irã, da Polônia e da Alemanha, por exemplo. Não há brasileiras, embora não falte talento entre as nossas diretoras --Ana Carolina, Tata Amaral e Suzana Amaral são algumas delas.
A maior parte dos longas da lista foi produzida depois dos anos 1980. O mais antigo é "Shoes", da norte-americana Louis Weber em 1916. A cineasta mais citada pelos críticos, com cinco filmes, foi Agnès Varda, morta no início do ano. Única mulher a participar da Nouvelle Vague, ela esteve na marcha de Cannes.
"O Piano", de Jane Campion, ficou em primeiro lugar. Infelizmente, não encontrei serviços de streaming que tenham o título em seus catálogos, e não achei DVDs do filme nas principais lojas online do mercado. A mesma dificuldade tive com outros dos cem melhores longas (veja alguns ao lado), um reflexo do quanto ainda temos de caminhar para que o cinema feito pelas mulheres seja valorizado.
ONDE VER
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