Desfiles de São Paulo começam com fé e história no sambódromo
Veja como estão as escolas que dão a largada na primeira noite do Carnaval paulistano no Anhembi
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O primeiro dia de desfile do Grupo Especial de São Paulo, a partir das 23h15 desta sexta-feira (21), no Sambódromo do Anhembi (zona norte da capital paulista), promete ser carregado de emoção e fé.
A Mancha Verde, que ganhou seu primeiro título no ano passado, tentará repetir o feito. O amor ilimitado de Jesus Cristo é o ponto central do enredo.
A escola quer mostrar que Jesus é um exemplo para se enfrentar os desafios e as injustiças de hoje.
Logo no começo do desfile, a escola vai criticar como o Natal deixou de ser uma celebração de fé e amor para virar evento comercial.
“O enredo propõe uma reflexão, uma mensagem para quem quer fazer do mundo um lugar melhor para viver”, diz Paolo Bianchi, diretor de Carnaval da Mancha, que em 2020 comemora 25 anos.
A história dos libaneses no Brasil é o enredo da Império de Casa Verde. “A escola tem a honra de homenagear teste povo tão forte”, afirma o carnavalesco Flávio Campelo.
Com alas coreografadas, a Império, aposta na alegria dos integrantes para levantar as arquibancadas.
“As expectativas são as melhores. Os 7.000 anos de história do Líbano renderão um grande Carnaval para a Império. A nossa comunidade abraçou o enredo”, diz Campelo.
A expressão Marhaba Lubnãn!, que dá nome ao enredo, pode ser traduzida como “Olá Líbano”.
Barroca enaltece as ‘Terezas’ de luta
Figuras fortes e inspiradoras presentes ao longo dos anos no Brasil são temas que fazem sucesso no Carnaval porque é fácil a conexão com as lutas atuais. Assim, a Barroca Zona Sul buscou a história da líder quilombola Tereza de Benguela para abrir o Carnaval de 2020 nesta sexta.
O enredo “Benguela. A Barroca clama a ti, Tereza!” é direto sobre a necessidade de enaltecer a luta das mulheres negras no trecho “E a pele negra faz a gente refletir. Nossa força, nossa luta. De tantas Terezas por aí”.
Em 2019, a Barroca foi vice no Grupo de Acesso e voltou para a elite do Carnaval após 15 anos. ”A gente quer mostrar luta, suor, liberdade e superação, sobretudo das mulheres”, diz Everton Sampaio, o Cebola, presidente da escola.
Acadêmicos e X-9 prometem Carnaval histórico
A escola Acadêmicos do Tatuapé se transformou em uma das sensações do Grupo Especial do Carnaval paulistano após o bicampeonato de 2017 e 2018. No ano passado, ela brigou com a Mancha Verde pelo título até o último quesito, mas um problema técnico em um carro alegórico tirou 0,5 ponto da agremiação, que amargou a 7ª colocação.
Neste ano, a escola quer manter a fama de favorita te tem como tema a cidade de Atibaia (64 km de SP).
“Estamos trabalhando para um desfile maravilhoso, o maior, mais bonito e mais emocionante que já fizemos”, afirma o presidente da escola, Eduardo Santos.
A ideia é surpreender contando desde a fundação do município, pelos bandeirantes, até as contribuições das várias gerações de imigrantes que foram para região de Atibaia, por exemplo, os japoneses, que levaram para lá o morango, cujo cultivo é uma tradição no município paulista.
O enredo cita também as festividades de São João que, assim como o Carnaval, é uma tradição no estado e muito ligada à vida no campo.
Não vão faltar referências que remetem aos costumes dos paulistas do interior. A escola quer atingir as lembranças afetivas do público.
Na X-9 Paulistana, o Carnaval começa e termina com música. Essa é a aposta da escola para se ter um desfile inesquecível com o enredo “Batuques para um rei coroado”, sobre os ritmos tradicionais do Brasil.
A escola da zona norte de São Paulo, que ficou na 10ª colocação no ano passado, promete dar uma aula
de batucada.
Morando há dez anos em São Paulo, sete deles desfilando como passista, a baiana Tarine Lopes é um dos destaques da escola como madrinha. “Fiquei muito feliz com o tema e confesso que estou muito ansiosa para entrar no sambódromo”, afirma.
A escola vai falar de fé ao mencionar os batuques típicos de diversas religiões. “É uma forma bacana de abordar a diversidade”, diz.
Resistência negra inspira Tom Maior
O carnavalesco André Marins diz ter ganhado um presente e um desafio com o enredo “É coisa de preto”, da Tom Maior, a segunda a entrar no sambódromo nesta primeira noite de desfiles. De cara, o tema empolgou toda a comunidade.
“A Tom Maior vai contar a história de heróis, heroínas, guerreiros, transgressores, intelectuais e demais personalidades negras que ajudaram a construir a nossa identidade como nação nas mais variadas frentes”, afirma o diretor de Carnaval, Judson Salles.
A escola não quer ficar só no passado e promete emocionar o sambódromo. “Nosso objetivo é fazer brilhar os olhos. Do mesmo jeito que brilharam os de uma menina ao ver a Maju Coutinho [apresentadora da TV Globo] na televisão. Queremos mostrar que para nós coisa de preto é algo muito bom”, disse Salles.
No ano passado, a escola ficou em 12º lugar com um tema mais filosófico e agora quer vir com tudo falando de questões sociais.
“O último carro alegórico deve polemizar e gerar reflexões importantes. Ele se chama ‘Justiça cega, surda e muda’ e a escultura tem as mãos manchadas de sangue”, afirma Thiago Calil, diretor de comunicação da Tom Maior.
Do riso se faz o Carnaval da Dragões
Rir é o melhor remédio. A receita vem da Dragões da Real que pretende fazer muita graça nesta primeira noite de desfiles na capital paulista e colocar a torcida no sambódromo do Anhembi para dar risada.
Segundo a definição da própria escola, o tema é atemporal e também aberto para muitas variações
e interpretações.
A Dragões emendou o som de uma gargalhada com as batidas do samba e o resultado é contagiante.
Tudo foi muito bem ensaiado para fazer 65 minutos de alegria e risos soltos no sambódromo.
Em 2019, a escola ficou em segundo lugar com 0,1 ponto atrás da Mancha Verde, contando a saga do tempo. Para este ano, no imaginário criativo da Dragões o riso vem desde o começo da humanidade e é uma história que precisa ser contada.
No sambódromo, a Dragões quer provar que o riso alegra e cura, sendo o mais efetivo remédio contra todos os tipos de mágoas.
A escola preparou um desfile cheio de adereços para valorizar o efeito visual das coreografias.
Uma grande variedade de chapéus e perucas, representando cômicos e palhaços de várias épocas serão usados para chamar o público a gargalhar junto.
Regras
Em 2020, os critérios de avaliação das escolas de samba serão bem mais rigorosos. No mês passado, a Liga-SP divulgou e explicou as mudanças.
Para o quesito bateria, por exemplo, ficou definido que a nota 10 deve ser concedida se a escola conseguir apresentar um desempenho impecável por 16 ou mais compassos.
Além disso, os aspectos a serem avaliados nas baterias aumentaram de cinco para seis. A novidade é a performance que se junta aos critérios: afinação, precisão rítmica, equilíbrio instrumental, entrosamento e sustentação.
Também foi definido que a comissão de frente não pode mais se "desgarrar" do restante da escola, mantendo então uma compactação maior no desfile.
Cada décimo a menos é crítico na apuração.
Pelo regulamento, se duas ou mais escolas ficarem empatadas com a menor nota, mesmo após a aplicação das regras de desempate, não tem sorteio e caem todas ao Grupo de Acesso. Se isso acontecer, em 2021, o Grupo Especial pode ter menos de 14 escolas.
Veja a ordem dos desfiles
Horário | Escola | Enredo |
23h15 | Barroca Zona Sul | "Benguela.. A Barroca clama a ti, Tereza!" |
0h20 | Tom Maior | "É coisa de preto" |
1h25 | Dragões da Real | "A revolução do riso: A arte de subverter o mndo pelo divino poder da alegria" |
2h30 | Mancha Verde | "Pai! Perdoai, eles não sabem o que fazem" |
3h35 | Acadêmicos do Tatuapé | "O Ponteio da viola encanta… Sou fruto dessa terra, raiz desse chão… canto Atibaia do meu coração" |
4h40 | Império de Casa Verde | “Marhaba Lubnãn” |
5h45 | X-9 Paulistana | "Batuques para um rei coroado" |