Fim de contratos com técnicos deixa teatros de CEUs vazios em SP

Prefeitura alega orientação de órgãos de controle para não promover renovação emergencial de som e iluminação

São Paulo

Desde 16 de dezembro passado, 37 CEUs (Centros Educacionais Unificados), do total de 46 na capital, estão sem técnicos de som e de luz para operação nos teatros e nos demais espaços de convivência.
Isso porque a gestão Bruno Covas (PSDB) não renovou os contratos emergenciais de prestação de serviços de montagem, operação e manutenção preventiva dos equipamento de som e iluminação.

Os contratos emergenciais eram feitos desde o segundo semestre de 2018. A prefeitura alega seguir determinação de órgãos de controle para rompimentos.

O último contrato acaba na próxima terça (25) e atinge nove CEUs nos extremos das zonas norte e oeste, casos do Parque Anhanguera e Uirapuru, respectivamente.

"Nenhum evento está sendo marcado nos teatros e na quarta não venho mais", disse um técnico de som, que há 12 anos trabalha em uma das nove unidades ainda remanescentes dos profissionais. "A gente trabalha com uma população extremamente carente, que sequer foi um dia ao teatro ou cinema fora."

Teatro vazio do CEU (Centro Educacional Unificado) Aricanduva, na zona leste; sem técnicos de som e iluminação, atividades não são realizadas no local; contratos começaram a ser rompidos em dezembro - Rivaldo Gomes/Folhapress

O pescador Jorgeval Santos, 52 anos, líder comunitário da região do Jardim Aurora, Guaianases (zona leste), também lamenta.

"Junto da piscina, o teatro do CEU Jambeiro era o local mais frequentado pelas crianças e pela comunidade", afirmou o avô de quatro meninas, que são três frequentadoras da unidade.

Santos disse que o teatro sofre ainda com problemas estruturais internos pelo uso intenso e 16 anos de inauguração. "As cortinas nunca foram trocadas. A cabine de som e a iluminação estão ultrapassadas".

Entre os nove CEUs, 18 técnicos serão desligados, que se juntarão aos outros 82 profissionais. 
Mais do que o desemprego, o vice-presidente do Sated-SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Diversões no Estado de São Paulo), Reginaldo Ribeiro, 47 anos, alertou para o risco de pessoas despreparadas exercerem as funções executadas pelos técnicos interinamente e provocarem choques, quedas de equipamentos de iluminação suspensos e até incêndios.

Coletivo de teatro não consegue agendar datas

O ator Eduardo Freire, 21 anos, integrante do coletivo Causos Reais, que atua em Cidade Tiradentes e Guainases (zona leste), desde janeiro tenta agendar, sem sucesso, datas disponíveis nos teatros de vários CEUs (Centros Educacionais Unificados) da região.

O projeto do grupo foi aprovado pelo VAI (Programa para Valorização de Iniciativas Culturais), apoio financeiro oferecido pela Secretaria Municipal de Cultura aos coletivos localizados em regiões com precariedade de recursos e equipamentos culturais.

"Isso nos dá o direito de realizar, pelo menos, oito apresentações. Só que ninguém nos CEUs sabe dizer quando a situação será resolvida", disse Freire.

Por emails, várias unidades responderam a ele "não estar fazendo agendamentos" ou que a "agenda está fechada" por "falta de técnicos", conforme o Agora teve acesso aos comunicados eletrônicos.

O ator afirmou que a presença dos técnicos de luz e de som são fundamentais. "Não só pela capacidade técnica como para manter o espaço, que possui uma megaestrutura", apontou.

A reportagem ligou para vários equipamentos nas zonas leste e sul. As informações foram de que os teatros estavam fechados, sem programação por falta de técnicos. "Algumas atividades estão sendo deslocadas para outros espaços daqui", disse um deles.

Em um dos CEUs da zona leste, o funcionário disse que "caso você se vire com um microfone e uma caixa de som, a gente acende a luz do teatro. Só não pode entrar na cabine".

Resposta

A Secretaria Municipal de Educação, sob gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou em nota na terça-feira passada (18) que os contratos em questão eram emergenciais, e, "visando melhor uso do dinheiro público, e, seguindo as recomendações dos órgãos de controle, um processo licitatório está em andamento".

Ainda segundo a pasta, a programação cultural "segue ininterrupta" nos CEUs. 

Em janeiro, de acordo com a gestão Covas, foram realizadas as apresentações do "Recreio nas Férias" nas 46 unidades.

A secretaria disse que, durante o aniversário da cidade (em 25 de janeiro), os CEUs fizeram parte da agenda da Secretaria de Cultura, com apresentações musicais. E que em fevereiro, "foram contratados grupos musicais para que todos promovam o Carnaval nos territórios".

"Além disso, o circuito SPCine segue com programação semanal", afirmou.

Sobre os problemas de infraestrutura no teatro do CEU Jambeiro, a secretaria disse nesta quarta-feira (19) que "fará vistoria para analisar todos os CEUs e definir reformas necessárias".

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