Socorristas do Samu de SP reclamam de máscaras finas
Funcionários dizem que material não protege contra uma possível contaminação por coronavírus
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Profissionais que atuam no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na cidade de São Paulo afirmam ter usado máscaras muito finas para trabalhar e que não protegem nem trabalhadores nem os pacientes.
Segundo os relatos, o material foi fornecido no dia 3 de abril e utilizado por cerca 10 dias. "Não existia outra opção, não forneceram outro tipo de máscara", afirma uma enfermeira que atua há mais de 20 anos no Samu.
De acordo com a profissional, que preferiu não se identificar, a máscara era feita em TNT, com apenas uma camada, muito fina. "Não estavam de acordo com as especificações", diz.
"As máscaras foram recolhidas depois de inúmeras reclamações. Agora estamos utilizando material adequado", afirma.
A enfermeira conta que, além de contatar o sindicato da categoria, os profissionais enviaram reclamações à Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), e acionaram o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) e o CFM (Conselho Federal de Medicina).
O Sindsep (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal) afirma que os profissionais do Samu receberam "máscaras cirúrgicas com um tecido muito fino, inadequadas para a proteção dos trabalhadores, bem como as ambulância do Samu ainda não possuem locais adequados para a limpeza".
O sindicato diz que "está há semanas encaminhando denúncias e apresentando reivindicações acerca das condições dos trabalhadores dos serviços essenciais da cidade de São Paulo junto à prefeitura. Os trabalhadores da saúde, em geral, e os trabalhadores do Samu, em particular, sofrem por estarem na linha de frente do atendimento à população".
A entidade afirma ainda que desde o início da pandemia do novo coronavírus, recebeu "centenas de denúncias de falta de equipamentos de proteção individual, insumos elementares como álcool gel e das terríveis condições de sobrecarga do sistema de saúde pública. Muitas destas denúncias feitas por profissionais do Samu".
De acordo com o sindicato, as denúncias estão sendo encaminhadas ao Ministério Público e à Justiça para "exigir das autoridades que garantam a proteção destes profissionais".
Como deve ser
Leonardo Weissmann, médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que de acordo com a nota técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o profissional da saúde que esteja em atendimento móvel deve utilizar a máscara cirúrgica.
"Este é o mínimo de proteção que ele precisa, em termos de máscara", diz. "Nesses casos, nem a máscara caseira, nem a máscara de pano, nem a de TNT serve. Tem que ser a cirúrgica mesmo".
Segundo o especialista, não utilizar os materiais adequados coloca o profissional em risco de contaminação pelo novo coronavírus ou mesmo por outros vírus respiratórios, além da possibilidade de contaminar os pacientes.
Em nota, o Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) afirma que as máscaras devem ser utilizadas para evitar a contaminação da boca e nariz do profissional por gotículas respiratórias do paciente, quando atuar a uma distância inferior a 1 metro do paciente suspeito ou confirmado de infecção pelo novo coronavírus.
"A máscara deve ser confeccionada de material 'tecido não tecido' [TNT], possuir no mínimo uma camada interna e uma camada externa e obrigatoriamente um elemento filtrante. A camada externa e o elemento filtrante devem ser resistentes à penetração de fluidos transportados pelo ar (repelência a fluidos)", diz a entidade.
Ainda segundo o texto, "a máscara deve ser confeccionada de forma a cobrir adequadamente a área do nariz e da boca do usuário, possuir um clipe nasal constituído de material maleável que permita o ajuste adequado do contorno do nariz e das bochechas. E o elemento filtrante deve possuir eficiência de filtragem de partículas maior que 98% e eficiência de filtragem bacteriológica maior que 95%".
Resposta
Questionada sobre o fornecimento de máscaras inadequadas para funcionários do Samu, a Secretaria Municipal da Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que "já tomou todas as medidas, inclusive judiciais porque algumas empresas estão tentando cancelar os contratos em função de preços mais atraentes em função do crescimento da demanda mundial, para garantir a compra de ao menos 4,9 milhões de máscaras de proteção".
Ainda de acordo com a nota da secretaria, a prefeitura está recebendo duas remessas de 50 mil máscaras do Banco Chinês e por "Xangai, cidade-irmã de São Paulo".
"A doação incluiu ainda mil macacões, que chegaram na última semana. A ação foi intermediada pelo Consulado Geral da China, em São Paulo, a pedido do prefeito Bruno Covas, que liberou investimento de R$ 1,5 bilhão para assegurar o atendimento à população em decorrência da pandemia do coronavírus", diz a nota.
egundo a pasta, a administração municipal "importou testes para detectar a contaminação pelo coronavírus, apesar da falta desses produtos e insumos médicos no mercado global. Os testes serão usados, em parte, para os profissionais de saúde que apresentarem sintomas e nos pacientes internados nos hospitais públicos municipais".