Por causa de rodízio, motorista de aplicativo faz 'hora extra' em SP
Condutores usam mais de um aplicativo para conseguir dirigir até 14 horas por dia
Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados
Você atingiu o limite de
5 reportagens
5 reportagens
por mês.
Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login
Motoristas de transporte de aplicativo estão trabalhando mais de 12 horas diárias para compensar as restrições do rodízio implantado na segunda-feira (11) na capital paulista.
Estes motoristas não foram isentos do megarrodízio imposto pela gestão Bruno Covas (PSDB).
Segundo as regras do rodízio, só podem circular em dias pares os veículos com placas terminadas em números pares. E os com placas com final ímpar, em dias ímpares do mês.
Para ultrapassar o limite de 12 horas diárias de trabalho imposto pelas empresas de aplicativo, a solução é prestar serviço para duas e, assim, mudar para a outra quando a jornada máxima de trabalho se esgota.
“A restrição que o aplicativo tem em relação às horas trabalhadas só conta se eu estiver rodando com ele. Então, as corridas se forem feitas parte em um aplicativo e parte em outro permitem trabalhar por mais horas”, diz o motorista Wagner de Almeida, 50 anos.
Morador de Santo André (Grande SP), ele afirma que a parte mais significativa de sua renda ocorre com as viagens na capital. “Antes eu trabalhava entre oito e nove horas, agora chego a trabalhar 14 horas.”
Outra que tem trabalhado mais horas para tentar compensar as restrições do rodízio é Juliana Silva de Jesus, 33, que mora em Mauá, também no ABC.
“Já estava muito ruim com a quarentena, depois do rodízio a situação piorou 80%”, afirma Juliana, que também está trabalhando mais do que 12 horas.
Jovane Santos Cruz, 42, afirma que seus rendimentos caíram com a implantação do rodízio mais restritivo, já que em metade dos dias não consegue rodar e não tem outra fonte de ganho.
“Minha renda caiu muito nesta semana e eu não tenho mais o que fazer”, afirma o motorista, morador do Jaçanã (zona norte).
Riscos
O especialista em mobilidade urbana Luiz Vicente Figueira de Mello Filho explica que o normal é dirigir, no máximo, por 12 horas para evitar problemas de ergonomia, questões físicas e cansaço mental.
"Quando estamos cansados e dirigindo existe o risco de dormir. Também é comum coçar o olho, o que, no atual momento de pandemia, pode aumentar o risco de contaminação pela Covid-19 em um profissional que está em contato com muitos passageiros ao longo do dia", conta.
Segundo Mello Filho, que também é professor da Universidade Mackenzie, este cansaço pode provocar perda de atenção e diminui o tempo de reação do motorista, o que pode levar a acidentes. "Hoje não existe uma regulamentação sobre a quantidade de horas que um motorista de aplicativo pode trabalhar", diz.
"Sabemos que é uma necessidade atual dessas pessoas para compensar a perda de renda, então, pelo menos, elas precisam tomar cuidado. Para cada uma hora e meia, duas horas, precisa parar, ter um momento de descanso, ter uma alimentação leve nesse período, dar uma volta ao redor do carro e fazer um alongamento, isso pode ajudar a recuperar um pouco da energia. Se ficar rodando muito tempo, sem nenhuma parada, o cansaço é muito grande", afirma o professor.
O especialista diz que existem alguns poucos modelos de carros que já estão experimentando tecnologias de reconhecimento facial, que permitem detectar o cansaço do motorista, justamente porque este é um fator de risco no trânsito.
Resposta
Em nota, a 99 afirma que está orientando por meio do aplicativo os motoristas sobre a ampliação da determinação da Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), em relação ao rodízio na capital.
Segundo a empresa, "a saúde e segurança dos motoristas parceiros e passageiros é prioridade. Desde o começo da pandemia, a 99 vem adotando uma série de medidas como a doação de 60 mil corridas para o transporte de profissionais municipais de saúde na capital, cujo valor é 100% destinado ao motorista, para geração de renda neste período de pandemia".
Outra medida é a "a desinfecção dos veículos dos parceiros com uma técnica inovadora já aplicada na Espanha contra o vírus. Sobre o uso da máscara, a empresa orienta sobre o uso fundamental neste momento e iniciou a distribuição de mais de 550 mil unidades para motoristas-parceiros em diversas cidades do Brasil, além de ter feito um vídeo em que orienta como passageiros e condutores podem produzir suas próprias máscaras para se prevenir durante a pandemia".
A Uber foi questionada sobre como funcionam as restrições no aplicativo que não permitem que os motoristas atuem muitas horas seguidas e sobre o que a empresa tem feito para apoiar os condutores que perdem receita diante do megarrodízio estabelecido na capital paulista, mas a empresa não respondeu até a conclusão desta reportagem.