Usuários enfrentam transporte mais cheio na volta do rodízio em SP

No primeiro dia de restrições de veículos, SPTrans colocou 1.600 ônibus a mais nas ruas nesta segunda

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São Paulo

Usuários do transporte público na cidade de São Paulo ouvidos pela reportagem nas zonas norte, sul e leste, enfrentaram ônibus e trens do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) mais cheios nesta segunda-feira (11), primeiro dia de implantação do megarrodízio de veículos na capital.

Desde esta segunda, veículos com placas final par só podem circular em dias pares e os com final ímpar, em dias ímpares.

O rodízio, que é uma tentativa da Prefeitura de São Paulo de aumentar o isolamento social na cidade (que domingo estava em 54%, mas o índice considerado ideal pelo governo do estado é de 70%), foi ampliado para toda a cidade e vale durante todo o dia.

A SPTrans, que administra o transporte coletivo por ônibus, disse que no horário de pico da manhã colocou 1.600 veículos a mais em circulação --1.000 que já estão previstos e outros 600 que estavam em bolsões próximos a terminais.

Ao todo, diz a empresa, 65% dos ônibus estavam em operação. Na última segunda-feira (4), quando o rodízio estava suspenso, a SPTrans afirma que a cidade operou com 53% de sua frota de ônibus e 31% dos passageiros transportados antes da quarentena.

O governo do estado, gestão João Doria (PSDB), confirmou o aumento no número de passageiros no metrô e na CPTM entre 11% e 15% nesta segunda.

Lotação

A autônoma Camila Ferreira, 23 anos, afirmou que enfrentou aglomeração no trem entre Poá (Grande SP) e Itaquera (zona leste), onde foi buscar remédios pela manhã. "Quando o trem chegou na estação Guaianases [zona leste], não havia mais lugares para ir sentado e as pessoas em pé precisaram ficar próximas umas das outras", disse.

Na estação Capão Redondo [zona sul] da linha 5-lilás do metrô, uma analista financeira, de 44 anos, usando máscara e luvas, aguardava o transporte para ir ao trabalho, na região da avenida Paulista (centro). Ela, que pediu para não ter o nome publicado, costuma fazer o trajeto de carro.
"Mas a placa do meu carro é [final] par, então hoje [segunda] precisei apelar para o metrô", justificou.

“A demanda de passageiros aumentou significativamente”, afirmou Marcelo Chaves, 42 anos, fiscal da linha 3064-10 (Cid. Tiradentes - Guaianases), da zona leste. Em comparação à semana passada, seis veículos foram adicionados à linha. Mesmo assim, houve aglomeração de pessoas desde o início da operação, por volta das 5h.

A vendedora Maria Euvirani, 52, reparou no tamanho dos ônibus. Nesta segunda-feira, ela disse que o veículo da linha 2707-10 (Chabilândia - Metrô Itaquera) era maior do que o habitual. Além disso, ela afirmou que a quantidade de carros circulando na rua não mudou. “Isso não é o ideal para uma pandemia”, comenta.

Sérgio Francisco, 38, é segurança de um mercado na Vila Ré. Por volta de 10h, ele pegou a linha 2004-10 (Jd. Nsa. Sra. Do Caminho - CPTM Guaianases) e notou um aumento no número de passageiros no ônibus na zona leste. “Não lotou, mas foi uma diferença boa”, disse. Em relação à instauração do megarrodízio, ele não acredita que a medida seja muito efetiva. “As pessoas que deixam o carro em casa, pegam o transporte”, diz.

Mas nem todo mundo encontrou transporte mais cheio. A técnica de enfermagem Vanessa de Oliveira, 41, vai diariamente da COHAB Juscelino para o Tatuapé (ambos na zona leste). Ela costuma pegar a linha 11-Coral da CPTM em Guaianases (zona leste) por volta do meio-dia. Como não é horário de pico, ela disse que a quantidade de pessoas diminuiu nesta segunda-feira. “Está tranquilo”, diz.

A situação foi parecida para a operadora de máquina Maria Aparecida, 55, que vai do Jardim Limoeiro (zona leste) a Mogi das Cruzes (Grande SP). Ela afirmou que tanto o ônibus, que pegou às 4h15, quanto o trem da linha 11-Coral, por volta das 5h e das 12h, não estavam cheios. “Estava mais vazio do que a semana passada.”

E teve até quem faturou. Marcos Prates, 26, é motorista de aplicativo e segurança. Ele conta que só começou a circular nesta segunda-feira porque a quantidade de pessoas estava acima do normal para este período de pandemia. Até semana passada, Marcos esperava cerca de 20 minutos entre uma chamada e outra nos três aplicativos instalados. Nesta segunda, as chamadas são consecutivas. A variação fez com que a opinião dele sobre o rodízio mudasse. “Inicialmente fiquei irritado por trabalhar 15 dias a menos [o rodízio alterna placas finais ímpares e pares], mas isso trouxe um benefício porque há menos pessoas trabalhando como motorista e mais passageiros”, disse.

O motorista também comparou a movimentação de carros na cidade. Ele afirmou que no extremo leste da cidade, como Cidade Tiradentes e São Miguel Paulista, há mais pessoas e veículos circulando do que na região do Tatuapé (também na zona leste).

Críticas

O infectologista Cláudio Gonçalez afirma que no transporte público existe maior chance contaminação pelo coronavírus pela possibilidade de aglomeração de pessoas.
“[Rodízio] É uma medida pensada para as pessoas não saírem, pois muita gente sai sem necessidade. Mas é preciso analisar a demanda de quem vai trabalhar. Nestes casos, o carro realmente é mais seguro”, afirma o médico.

Horácio Augusto Figueira consultor em engenharia de tráfego, também diz que transporte individual deveria ser incentivado.

“Sou defensor do transporte público, mas neste momento de pandemia é melhor ficar dentro do carro, preservado”, diz.

Resposta

O governo do estado, gestão João Doria (PSDB) confirmou o aumento no número de passageiros no metrô e CPTM em 11% na linha 5-lilás, 12% nas linha 1-azul, 2-verde e 3-vermelha, 14% na linha 4-amarela, além de 15% na CPTM. Dados sobre a EMTU (Empresa Metropolitana de Trens Urbanos) serão divulgados no final da tarde desta segunda, acrescentou o governo estadual.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas, diz que “as equipes de campo da SPTrans monitoram a movimentação de passageiros e faz os ajustes necessários para adequar a frota à demanda e garantir o transporte público à população, em especial aos trabalhadores de serviços
essenciais”.

A gestão diz que os números do trânsito na cidade de São Paulo medidos pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego, até as 15h desta segunda-feira (11), mostram que o rodízio de placas pares e ímpares teve impacto positivo, “reduzindo bastante tanto o índice de congestionamento quanto o de lentidão.

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