Grupos culturais dependem de vaquinha para evitar despejo em SP

Quilombaque, em Perus, e Cia Pessoal do Faroeste, no centro, estão sob ameaça de perderem sede

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São Paulo

Duas organizações culturais estão arrecadando dinheiro para não serem despejadas de suas sedes. Os espaços físicos são essenciais para a continuação das atividades artísticas e sociais. Os dois grupos têm recebido e distribuído doações de itens como alimentos e roupas durante a pandemia em seus territórios de atuação.

O produtor teatral, coordenador e um dos fundadores da Comunidade Cultural Quilombaque Dede Ferreira, 36 anos, conta que o espaço trabalha com cultura, educação e sustentabilidade em Perus (zona norte). “A Quilombaque é gerida pelos moradores, artistas, produtores e colaboradores do bairro.”

Voluntários carregam doações no espaço cultural Quilombaque, na zona norte de SP - Ronny Santos/Folhapress

O grupo está há 13 anos no local, mas corre riscos. “A gente construiu esse espaço inteiro e paga aluguel ao proprietário”, explica Ferreira. No mês passado, porém, o dono do terreno informou que tem uma dívida e, para quitá-la, precisaria repassar a área, o que levaria ao despejo da organização.

Assim, o grupo abriu uma vaquinha virtual e tem buscado parcerias com artistas e organizações para arrecadar fundos e comprar o espaço. Metade do valor, R$ 150 mil, precisa ser adquirido até o dia 20 de setembro.

No centro da cidade e com 22 anos de existência, a Cia. Pessoal do Faroeste enfrenta dificuldade para pagar os aluguéis há quase dois anos. A ordem despejo começou a ser concretizada no início de setembro, mas o grupo conseguiu duas semanas para tentar um acordo.

Além de atividades culturais, o espaço tem ações educacionais e sociais. “A gente não é só um teatro, é uma ferramenta de transformação e inclusão social”, afirma Paulo Faria, 55, diretor da Companhia. Em agosto, ele também foi despejado e passou a morar em um dos dois prédios compartilhados pelo grupo teatral.

Neste domingo (13), haverá uma live para impulsionar a vaquinha virtual, que vai até o dia 15, e visa arrecadar fundos. A audiência sobre o caso acontece na próxima quinta-feira (17).

Cine Quebrada quer criar centro cultural

Há alguns meses, os integrantes do Cine Quebrada organizaram um abaixo-assinado virtual para transformar o prédio da antiga Escola Estadual Guerra Junqueiro, no Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek (zona leste de SP), em centro cultural e creche.

Eles atingiram mais de 5.200 assinaturas. O grafiteiro, produtor cultural e um dos fundadores do coletivo Filipe Freire, 32, conta que o espaço estava vazio há cerca de um ano e meio e, neste tempo, tem passado por furto e degradação.

O grupo decidiu ocupar a escola em janeiro deste ano. “Está sendo bastante difícil porque a gente não tem recurso”, diz Freire.

Para ampliar o projeto e reformá-lo, o grupo abriu uma vaquinha virtual e fará um mutirão em outubro, conforme as precauções contra a Covid-19. Segundo Freire, o coletivo tem tentado falar com a Secretaria da Educação do Estado desde que a escola foi desativada, mas não houve sucesso.

Freire afirma que o Cine Quebrada é um desdobramento do projeto Graffiti Movie, que soma grafite e audiovisual desde 2016. Três anos depois, eles passaram a promover ações como cinema e passeios para as crianças do bairro. As atividades coletivas estão paradas na pandemia. .

Secretaria da Educação avalia prédio desativado na zona leste

Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disse ao Agora que o imóvel onde funcionava a E.E Guerra Junqueiro “foi desativado e segue os trâmites legais para receber um melhor encaminhamento”.

Segundo a gestão João Doria (PSDB), técnicos iriam fazer uma vistoria para “verificar às necessidades do local desativado” na última semana. Os alunos foram transferidos para um novo prédio. A pasta não comentou sobre a iniciativa do grupo cultural.

Para professores, governo deveria apoiar coletivos

Segundo Tiaraju Paulo, cientista social, professor da Unifesp e coordenador do Centro de Estudos Periféricos desde o início de 2020, os coletivos culturais têm passado por mais diminuição de recursos, o que já vinha ocorrendo nos últimos quatro anos, e têm formado redes de solidariedade, ao reunir pessoas e distribuir alimentos por exemplo.

“Em um país com desigualdade social tão grande, atividades artísticas e culturais acabam ganhando característica social”, afirma.

“Durante a pandemia, uma situação emergencial, as ações de despejo não deveriam estar acontecendo”, afirma Nabil Bonduki, professor da USP e ex-secretário de Cultura. Ele complementa que a questão dos espaços culturais é mais complexa e não se resolverá com o fim da pandemia.

Bonduki sugere que a prefeitura poderia retomar o programa “Pontos de Cultura”, que apoia espaços geridos por grupos privados sem fins lucrativos. Em relação às ocupações, ele explica que o poder público precisaria ter política de cessão de espaços ociosos para coletivos organizados com segurança jurídica.

“Acho importante fazer dessas ações não uma iniciativa do grupo cultural, mas uma ação planejada do estado”, propõe.

Coletivos culturais arrecadam dinheiro para manter espaços

Comunidade Cultural Quilombaque

Desenvolve ações culturais, educacionais, econômicas, ambientais e sociais em Perus (zona noroeste de SP)
Situação: Está arrecadando dinheiro para comprar espaço físico e não ser despejado
Como ajudar: Doação via vaquinha virtual no site vaka.me/1341779 ou transferência bancária

Cia Pessoal do Faroeste

Companhia teatral que promove e recebe diversas ações culturais, sociais e educacionais na sede localizada na Santa Ifigênia (região central)
Situação: Arrecada dinheiro para pagar aluguéis atrasados e impedir despejo
Como ajudar: Doação via vaquinha virtual no site https://abacashi.com/p/ficafaroeste-despejozero

Cine Quebrada

Projeto promove ações culturais e sociais, como sessões de cinema gratuitas e horta comunitária, no Conj. Hab. Juscelino Kubitschek (zona leste de SP)
Situação: Arrecada dinheiro para reformar estrutura escolar ociosa e transforma-lá em centro cultural e creche
Como ajudar: Doação via vaquinha virtual no site http://vaka.me/1303772 e mutirão solidário nos dias 03 e 04 de outubro

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