Um ano após mortes em Paraisópolis, famílias buscam justiça

Ato em memória dos nove jovens mortos na favela da zona sul de São Paulo ocorre nesta terça-feira (1º); caso segue sob investigação

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São Paulo

Um ano após a ação da polícia militar em Paraisópolis que terminou com nove mortos pisoteados, famílias das vítimas ainda buscam respostas. Nesta terça-feira (1º), parentes dos jovens mortos prometem realizar um ato às 16h30 em frente ao Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi (zona oeste de São Paulo), em memória aos jovens e também reivindicar a responsabilidade pelas mortes no dia 1º de dezembro de 2019, na dispersão de um baile funk, já que relatam que ainda não receberam nenhuma resposta institucional sobre elas.

"Posso até responder que está tudo bem quando me perguntam como estou, mas nunca vai ser verdade. Eu perdi meu filho, perdi parte de mim, não tem como estar tudo bem nunca mais", diz Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino da Silva, na época com 16 anos, uma das nove vítimas.

Cristina conta que ela e outros parentes dos jovens mortos têm se reunido fisicamente e virtualmente (por causa da pandemia do novo coronavírus) para se ajudar e também para pedir que o governo estadual se responsabilize pelas desestruturação de suas famílias.

Da esq. para dir. em cima: Denys Henrique Quirino da Silva, 16; Gustavo Cruz Xavier, 14; Gabriel Rogério de Moraes, 20; Mateus dos Santos Costa, 23; Da esq. para dir. em baixo: Bruno Gabriel dos Santos, 22; Dennys Guilherme, 16; Marcos Paulo, 16; Luara Victoria de Oliveira, 18 e Eduardo Silva, 21; jovens mortos durante uma ação da PM em um baile funk de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. - Arquivo pessoal e Reprodução

"São muitas perguntas sem respostas. Por que fizeram isso com nossos filhos? Por que trataram com tanta violência todas as pessoas que estavam naquele local? Isso nunca nos foi respondido, seguer dizendo que estão investigando o caso, mas precisamos de respostas concretas. Queremos justiça não só por nós e por quem perdemos, mas também para que futuramente outras famílias não chorem a perda de ninguém dessa forma. Foi muito importante somarmos força em busca disso", diz Cristina.

Além de pressionar o Estado pelo resultado das investigações, o ato quer lembrar a vida e a memória dos nove jovens. "Paulo, Bruno, Dennys, Eduardo, Mateus, Gustavo, Gabriel, Luara e meu filho (Denys) estavam se divertindo como qualquer pessoa já fez na vida. Eles tinham sonhos, futuro, histórias e suas também famílias. É muito importante lembrar disso. Nós, familiares, viveremos para sempre com essa dor, mas também queremos lembrar da vida deles, que merece muito respeito. Eram nove jovens se divertindo que acabaram mortos pela violência, buscamos a responsabilidade disso", afirma Cristina.

As famílias lembram em nota divulgada sobre o ato, que os jovens mortos eram moradores de periferias e, em maioria, negros, e que a ação da Polícia Militar no baile funk em que estavam "confirgura criminalização das expressões culturais da periferia e genocídio contra a população negra, jovem e periférica".

Eles contestam a versão da polícia de que a morte das nove vitímas se deu por pisoteamento após confusão no baile funk e afirmam que os agentes "fizeram uso indevido e desproporcional da força contra pessoas desarmadas em um contexto de atividade cultural". Vídeos feitos por moradores no local das mortes mostram policiais agredindo jovens em uma viela.

9 mortos

De acordo com a versão oficial, a tragédia teria ocorrido após uma perseguição policial no entorno do baile funk. Os agentes teriam seguido criminosos até uma rua onde estavam concentrados os frequentadores do baile, cerca de 5.000 pessoas.

Ainda segundo a versão oficial, os criminosos entraram no baile e os frequentadores atiraram pedaços de paus e pedras contra os policiais. Segundo a polícia, a situação ficou tensa e, em meio ao tumulto das pessoas no local e a perseguição policial, foram usadas armas não letais, como bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os policiais narram ter percebido que, ao final do tumulto, em uma das vielas de Paraisópolis havia um grupo de jovens caídos ao chão, nove deles morreram.

Investigação da corregedoria da Polícia Miltar viu ligação entre a ação policial e as mortes dos jovens, mas em “legítima defesa própria e de terceiros” após serem atacados com “garrafas, paus, pedras e demais objetos”. Já um relatório da PM pediu arquivamento do caso, em um processo que tramita pela Justiça Militar.

Respostas

O MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo) solicitou novas diligencias e também investiga o caso. Em nota ao Agora, a promotora Luciana André Jordão Dias informa que a investigação ainda está na fase de inquérito policial e a apuração está ocorrendo ininterruptamente desde a prática dos fatos.

"Nos solidarizamos com as famílias e com a perda irreparável que tiveram e sabemos o quanto é angustiante a demora no encerramento das investigações. Entretanto, acreditamos que o inquérito policial está próximo de seu encerramento. A demora decorre da complexidade do caso, com 31 policiais envolvidos e nove vítimas fatais, além de outras que também sofreram agressões e lesões, e da pandemia de Covid-19, que, assim como nas demais áreas, dificultou a apuração dos fatos", diz ainda o texto.

Segundo o DHPP (O Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa), o inquérito sobre o caso segue em andamento, sob sigilo, com o cumprimento de solicitações feitas pela promotoria. O órgão afirma, também em nota, que o inquérito policial militar instaurado pela Corregedoria da Polícia Militar foi concluído e relatado ao MPSP e ao Judiciário e que os policiais envolvidos seguem afastados do serviço operacional.

Em nota, a Polícia Militar diz que o inquérito retornou da Justiça Militar para para implementação de apurações.

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