Descrição de chapéu Coronavírus

Pacientes se aglomeram para pegar medicamentos no Hospital das Clínicas, em SP

Tempo de espera foi de aproximadamente duas horas nesta segunda-feira, para conseguir senha e sair com remédio do local

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São Paulo

Pacientes e parentes se aglomeraram no sol nesta segunda-feira (14) em uma fila para conseguir senhas que liberavam a entrada para conseguir medicamentos de alto custo no Hospital das Clínicas, na região de Pinheiros (zona oeste da capital paulista). Dentro da farmácia havia nova proximidade entre as pessoas, o que descumpre protocolos de prevenção ao novo coronavírus.

No fim da manhã, cerca de 100 pessoas estavam na fila. Segundo o porta-voz da unidade, o médico Aluísio Segurado, os atrasos e aglomerações resultaram do "represamento" de cadastros na farmácia (leia mais abaixo).

Além da aglomeração, a reportagem apurou no local que o atendimento a idosos não foi priorizado na parte externa do hospital. O tempo médio para pegar senha, entrar na farmácia e sair com um remédio foi de cerca de duas horas, segundo relato de pacientes.

Uma aposentada, de 77 anos, precisou da ajuda da filha, uma babá de 44 anos, para conseguir pegar um medicamento. “Minha sorte é que minha filha pode ficar na fila para mim, pois não tenho forças para ficar em pé muito tempo”, disse a idosa, sentada em um banco de concreto. Ela afirmou ter esclerodermia, doença inflamatória da pele.

Segundo ela, não existia prioridade no atendimento a idosos, ao menos na fila em que se pegam senhas para ingressar na farmácia. A aposentada foi presencialmente retirar medicamentos, pois havia feito um atendimento médico no hospital pouco antes. “Costumo receber [remédios] pelo correio. Mas como a minha receita mudou, no atendimento que fiz hoje [segunda] precisei atualizar a farmácia sobre isso.”

Idosos não tiverem prioridade em fila em que pessoas se aglomeraram, na manhã desta segunda-feira (14), para pegar senhas e retirar medicamentos em farmácia do Hospital das Clinicas, zona oeste da capital paulista - Rivaldo Gomes/Folhapress

Uma dona de casa de 54 anos também estava na fila, para pegar senha, por volta das 11h30 desta segunda. Ela afirmou ter insuficiência cardíaca, resultante da doença de chagas. “Nem consigo ficar em pé direito aqui [fila] neste sol. Mas se não ficar, ninguém pode pegar meu remédio para mim”, disse. Ela conseguiu pegar uma senha e entrar na farmácia cerca de uma hora depois.

A reportagem apurou que o tempo de espera na fila era de aproximadamente uma hora, até que paciente ou acompanhante conseguisse entrar na farmácia, onde o atendimento levava mais uma hora. “Isso [atraso] não costumava acontecer. Mês passado mesmo, o tempo de espera na fila era de dez minutos, mais ou menos”, afirmou a acompanhante da idosa.

Uma educadora física, de 33 anos, também encarou nesta segunda a fila para pegar remédios para o pai, um aposentado de 64 anos, com transplante renal. O idoso deixou de ir ao HC desde o início da pandemia da Covid-19, em março.

Ela chegou ao local por volta das 10h40, conseguiu pegar senha às 11h37 e saiu da farmácia, com os remédios do pai em mãos, por volta das 13h10. “Ultimamente, a demora para atender as pessoas e a falta de organização estão aumentando”, afirmou.

Dentro da farmácia o Agora viu algumas pessoas em cadeiras que deveriam ser mantidas vagas, para garantir o distanciamento por causa da Covid-19. Além disso, enquanto alguns idosos permaneciam em pé, pessoas mais jovens estavam sentadas.

Um vendedor ambulante, que pediu anonimato e que trabalha próximo à farmácia, afirmou que desde quinta-feira (10) passada a aglomeração e a demora no fluxo de atendimentos chamaram sua atenção. “Estou vendendo até mais, desde quinta”, revelou.

Resposta

O médico Aluísio Segurado, do Conselho Diretor do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), afirmou ao Agora que o aumento de pessoas procurando a farmácia da unidade resulta do “represamento” de solicitações para retirar medicamentos do local.

“Isso ocorreu por causa da pandemia [da Covid-19], além da proximidade do fim do ano. Algumas pessoas, às vezes, antecipam o comparecimento à farmácia, com medo de não conseguirem ir ao local por causa das festas”, afirmou. Ele disse que cerca de 50 mil pacientes recebem medicamentos via correios.

O médico acrescentou que “há uma cultura difícil de mudar” em que as pessoas acreditam que, chegando cedo, serão atendidas primeiro. “Orientamos para que todos cheguem 20 minutos antes, em casos agendados, para evitar aglomerações neste período de recrudescimento da pandemia [do novo coronavírus].”

Sobre idosos não terem prioridade na fila externa da farmácia, o médico disse que o hospital vai investigar os casos. Ele pontuou que há situações em que jovens usam idosos para tentar prioridade nos atendimentos. “Mas nossa determinação é a prioridade do atendimento ao idoso beneficiário da receita [médica].”

Com relação ao fato de pessoas não respeitarem o distanciamento, sentando-se lado a lado na sala de espera para retirar medicamentos, o médico disse que alguns pacientes, ou acompanhantes, arrancam faixas indicativas de que é proibido sentar em algumas cadeiras. “É um trabalho insano, o tempo todo, para repor isso [sinalizações]. É um trabalho de formiga.”

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