Descrição de chapéu Coronavírus réveillon

Veja cuidados nas ceias de Natal e Ano-Novo por causa da Covid-19

Governos e médicos recomendam celebrações com poucas pessoas, se possível apenas com moradores da mesma casa

Martha Alves
São Paulo

O aumento dos casos de Covid-19 acendeu o sinal amarelo de especialistas em saúde e governos quanto aos riscos de contaminação nas celebrações de Natal e de Ano-Novo.

As recomendações são várias, desde para se evitar radicalmente as festas de fim de ano a até não cantar músicas natalinas ou na contagem regressiva para não espalhar gotículas de saliva que possam estar contaminadas com o novo coronavírus.

Também recomenda-se tirar a máscara apenas para comer ou beber, medir dois braços de distância dos outros e organizar ceias e almoços em ambientes arejados com pouca gente. Beijos e abraços estão terminantemente proibidos.

Não houve a publicação de regras obrigatórias, mas o Centro de Contingência de Combate à Covid-19, do governo paulista, recomenda para que as celebrações reúnam no máximo dez pessoas, que tenham preferencialmente duração de uma hora e proteção das pessoas com mais de 50 anos, porque possuem uma letalidade maior à doença.

De acordo com o coordenador do Centro de Contingência, José Medina, neste momento a chance de contágio pelo vírus é alta.

Eventos em bares terão de terminar até as 20h. No caso de restaurantes, até as 22h, mas bebidas alcoólicas só podem ser vendidas até as 20h, segundo definiu o governo João Doria (PSDB) nesta sexta-feira (11).

Festas de fim de ano - cuidados

  • Tirar a máscara apenas para comer e beber
  • Conversar somente usando máscara
  • Ambiente precisa ser ventilado e as janelas devem ficar abertas
  • Manter distanciamento de dois braços estendidos das demais pessoas
  • Evitar cantar e falar alto, principalmente sem máscara, porque tem alto potencial de espalhar gotículas de saliva contaminadas
  • Cuidado com a proximidade com os idosos
  • O ideal é reunir apenas quem mora na mesma casa
  • Se a pessoa sentir qualquer sintoma de resfriado e gripe, ou febre, não deve participar da cerimônia

O temor é mundo afora. A OMS (Organização Mundial de Saúde) afirma que a “aposta mais segura” para as famílias é renunciar às festas de fim do ano. Na Europa, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, anunciou que serão permitidas reuniões de até dez pessoas no Natal. O governo italiano publicou em 3 de dezembro um decreto proibindo viagens no período de festas de fim ano em todo o país.

Para infectologistas não existe celebração de Natal e Ano-Novo sem riscos de contaminação pelo coronavírus. Uma pessoa que teve 15 minutos de contato com outra, sem usar máscara e a uma distância inferior a dois metros, tem grande chance de ser contaminada pelo vírus. Por isso, médicos ouvidos pela reportagem recomendam que as reuniões sejam restritas a apenas a quem more na mesma casa.

A infectologista Dania Abdel Rahman, do Hospital Albert Sabin, alerta que não dá para ter garantia de que em uma hora de reunião ninguém vai ser contaminado pelo coronavírus.

“Para comer, as pessoas precisam tirar a máscara, não é seguro incentivar essas reuniões, mesmo que durem uma hora e tenham dez pessoas”, afirma.

A infectologista lembra que na prática essas recomendações de distanciamento não funcionam nas situações festivas, porque as pessoas vão comer, beber, se abraçar, usar o mesmo banheiro e tocar as mesmas superfícies.

Ela também diz que não se pode garantir que as pessoas no seu dia a dia estão fazendo distanciamento adequado, porque muitas delas têm ido a locais com aglomeração, como praias, parques e shoppings e, assim, podem expor os demais integrantes da festa.

A infectologista Andreia Almeida, do Hospital do Servidor Público Estadual, diz que é preciso entender que ainda não há um total conhecimento sobre a Covid, a ponto de garantir se três ou dez pessoas em uma sala poderão ficar doentes.

Ela lembra que isso depende de várias variantes, como ventilação do local e tamanho do espaço físico onde vai acontecer a reunião. “Com dois braços estendidos de distância, um lugar arejado e as pessoas usando máscaras, a chance de contágio é menor”, afirma.

Mesmo com todas as recomendações, a médica ressalta os riscos porque as pessoas tiram a máscara para beber e comer, e quando falam alto e cantam, podem fazer com que o vírus vá muito mais longe devido às partículas de saliva contaminadas.

“Não existe uma receita de bolo, mas bons hábitos. Se você estiver doente, ou com a suspeita mínima de ter tido contato com alguém com Covid, é preciso se recolher e não confraternizar”, afirma.

Depressão

As pessoas mais velhas em isolamento social estão propensas a ter problemas de ansiedade, depressão e síndrome do pânico, diz a geriatra Simone Henriques, do lar de idosos Residencial Club Leger.

Por isso, ela defende que as famílias não tirem dos idosos o momento da confraternização de fim de ano. Mas alerta para os cuidados com eles serem redobrados.

A médica diz ser necessário manter celebrações com o núcleo mais próximo dos idosos, que devem fazer a ceia em uma mesa reservada apenas para eles e o seu cuidador, se for o caso.

“É importante preservar esses vínculos e momentos de afeto, mesmo com adaptações, com um lugar arejado e ventilado. Como geriatra tenho visto muito sofrimento dos idosos e as festas não devem ser canceladas ”, afirma.

O isolamento social para conter o avanço da pandemia tem contribuído para o aumento no atendimento de casos de TOC (transtorno obsessivo compulsivo), transtorno de pânico, claustrofobia por ficar fechado em casa e fobia social nos consultórios, segundo a psicóloga Thais Della Tonia, do Hospital Albert Sabin.

”[A pandemia] traz uma sensação de alerta o tempo todo e medo da morte. Cerebralmente é como se estivesse em uma guerra invisível, a gente não descansa, não dorme e dispara gatilhos”, afirma.
A psicóloga afirma que o Natal e o Ano-Novo serão mais sensíveis para muitos que não poderão se reunir com a família por causa da pandemia.
A dica de Thais é para as pessoas investirem nas relações, mesmo que sejam a distância neste fim de ano.

Nova rotina

Por causa da pandemia, muitas famílias cancelaram os planos das tradicionais festas de todo fim de ano ou adaptaram para encontros virtuais para não disseminar o vírus.

Na casa da produtora de vídeos Kátia Cruz, as confraternizações serão diferente. Ela e os pais, ambos com 77 anos, que costumavam reunir toda a família, farão a ceia de Natal na casa onde moram, no Jardim Aricanduva, zona leste de São Paulo, e as duas irmãs, com maridos e filhos, acompanharão a cerimônia por aplicativo de vídeo.

“Montamos a árvore de Natal para deixar a casa um pouco mais alegre neste ano difícil. Eu e meus pais teremos uma ceia virtual com as minhas duas irmãs casadas, vamos colocar o computador na mesa da ceia”, afirmou.

Erica Oliveira Antiqueira, que mora no mesmo quintal que a mãe, Neide Amaral Oliveira. Ambas estão isoladas por causa do novo coronavírus. A família, que sempre celebra o Natal, neste ano não quis nem montar arvore - Marlene Bargamo/Folhapress

A auxiliar de enfermagem Erica Oliveira Antiqueira, afastada do trabalho desde o fim do ano passado devido a uma cirurgia do coração, conta que ela e a família têm tomado todas as medidas de segurança para não se contaminarem com a Covid-19, como evitar o contato físico, apesar de morar no mesmo terreno que a mãe, Neide Amaral Oliveira, no Itaim Paulista (zona leste). “A gente não está tendo abraço, beijo, só se vê e conversa”, diz.

Erica, que sempre celebra o Natal em casa com a família, afirma que não teve vontade de montar a árvore desta vez. Ela não quer festividade, porque não tem alegria para comemorar o fim de ano e por solidariedade às pessoas que perderam parentes e amigos para o coronavírus.

“Não é o momento de comemorar, é preciso respeito, não ter fogos [no Ano-Novo], ser [uma comemoração] bem silenciosa, cada um dentro da sua casa”, afirma.

Fontes: Andrea Almeida, infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual, Dania Abdel Rahman, infectologista do Hospital Albert Sabin São Paulo, e Simone Henriques, geriatra do Residencial Club Leger

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