Para diminuir riscos, ceias beneficentes têm que se adaptar a novos modelos
Instituições buscam atender pessoas em situação de vulnerabilidade sem aglomerações
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Para instituições de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade social, a alegria do almoço compartilhado de Natal terá que dar lugar a ações com contenção de riscos de disseminação da Covid-19.
A data, celebrada no meio da pandemia e da escalada de casos na cidade, terá especialmente distribuição de quentinhas para evitar causar aglomerações. Esse é o caso da ABCP (Associação Beneficente e Comunitária do Povo), da Missão Cena e do SP Invisível.
A solução encontrada pelo Movimento Estadual da População de Rua para o Natal deste ano foi dividir a refeição em dois serviços também de marmitas —almoço e jantar. Isso porque a previsão é de que, em cada uma das refeições, nos dias 24 e 25, sejam atendidas duas mil pessoas.
Ao todo, o movimento vai oferecer oito mil pratos de comida no Natal. Em anos anteriores, o almoço comunitário, iniciado em 2010, servia apenas a metade disso.
"Esse ano, com a Covid-19, resolvemos ampliar um pouco mais a quantidade de comida porque aumentou a quantidade de pessoas em situação de rua. Serão duas refeições por dia para dividir um pouco o fluxo, porque temos que observar a questão do distanciamento social", afirma Robson de Mendonça, 67, fundador do movimento.
Além do almoço, o Natal da instituição vai distribuir também refrigerante, panetone e kit de higiene. Para as crianças, o Papai Noel vai entregar também brinquedos. "A gente fica penalizado, embora não dê para fazer muitas coisas além do que fazemos."
"Muitos já nos perguntaram se vamos ter o Natal. Vemos as crianças emocionadas, as mães ansiosas. Muitas falam que, pela primeira vez na vida, vão ter condições de comer algo decente no Natal, e isso nos incentiva."
Segundo Mendonça, o grupo de 10 voluntários distribui quentinhas diariamente para o almoço de 2.200 pessoas. O trabalho é realizado na quadra do Sindicato dos Bancários, no centro, também com doação de roupas, cobertores e calçados.
Além de pessoas em situação de rua, o almoço atende também pessoas que ainda têm alguma fonte de renda, mas que precisam da alimentação gratuita para poupar e conseguir pagar o aluguel no fim do mês.
No Natal da Missão Cena, abraços fizeram falta
"A nossa equipe é muito pele, amorosa, gosta de abraçar, de ficar junto. Chega a ser constrangedor [não chegar perto] porque muitos deles não entendem a pandemia. Parece que estamos fazendo pela metade... falta o essencial", afirma João Carlos Batista, 54, o João "Boca", fundador da Missão Cena.
O Natal da instituição, realizado em parceria com o SP Invisível, atende pessoas em situação de vulnerabilidade na região da cracolândia, no centro, e aconteceu no último sábado (19). Foi a Ceia Invisível, quando foram servidas mil refeições --300 a menos que em anos anteriores. "Muitas falam que o almoço estava bom, mas o abraço foi o que mais fez falta. A comida é só 20%, é muito pouco."
A celebração da Missão Cena costumava bloquear a rua General Couto de Magalhães com uma grande mesa comunitária. Em 2020, as quentinhas tiveram que ser entregues na porta da instituição para evitar aglomerações.
O menu da data foi um arroz natalino com farofa de mandioca e coxa de frango. Para isso, foram necessários 100 quilos de arroz, 25 quilos de farinha e 120 quilos de carne. Além disso, foram distribuídos também kits com camiseta, máscara, álcool gel e outros itens de higiene.
A Missão Cena, fundada há 33 anos, acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade com o objetivo de recuperação e reintegração à sociedade. Além de trabalho social, como uma creche para 34 crianças, o projeto oferece três refeições diariamente para 200 pessoas na região.
Instituição muda local de atendimento por causa da Pandemia
A ceia que a ABCP (Associação Beneficente e Comunitária do Povo) realizava todos os anos, desde 2010, para pessoas em situação de vulnerabilidade também teve de mudar de local.
O Natal, que era feito na sede da instituição, na Vila Mariana, zona sul, tinha, além da refeição, uma programação com teatro e música. Este ano, a ação foi levada para o Pátio do Colégio, com distribuição de 400 marmitas e panetones. Com isso, é menor o risco de aglomeração.
"Até recentemente estávamos considerando a ideia de fazer [na sede], mas com o retorno do aumento de casos decidimos não fazer para não colocá-los em risco. Fizemos questão de manter porque é o momento em que a gente celebra e faz a ceia com eles, e isso representa a esperança que o Natal traz", afirma Douglas Bordini, 34, diretor executivo ABCP.
A escolha do local para a distribuição das marmitas se deu pela concentração de pessoas em situação de rua. Por lá, a instituição já distribui, semanalmente, uma sopa e faz abordagens visando à reintegração social.
"A mensagem do natal é a esperança de mudança, transformação, e o nosso trabalho é baseado nisso. Não poderíamos perder a oportunidade de levar essa mensagem para eles."