Taxa de isolamento em SP é próxima à registrada antes da quarentena
Índice ficou os últimos dias em apenas 39%; em março, o indicador era de 37%
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A taxa de isolamento social na cidade de São Paulo atingiu índices semelhantes ao de antes da implantação da quarentena em 19 de março no estado. Dados do governo estadual, gestão João Doria (PSDB), mostram que a taxa de isolamento nesta semana foi de 39%.
O mesmo ranking aponta que o percentual era de 37% em 13 de março. O índice atual já havia sido atingido em alguns dias de novembro, mas é a primeira vez que a cidade passa uma semana inteira com apenas 39%.
Ao mesmo tempo, a taxa de ocupação de leitos de UTI na cidade para atender pacientes com Covid-19 atingiu 54% nesta sexta (4), diz a gestão Bruno Covas (PSDB). Em novembro, era de 40% e, em outubro, de 34%.
Por causa da alta, desde quarta (2), o governo Doria colocou todo o estado da fase verde para a amarela do plano São Paulo, mais restritiva.
O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, afirma que cada vez que as pessoas deixam de fazer o isolamento social aumentam os números de casos de infectados por Covid-19 e de mortos pela doença.
Segundo ele, a confiança ao quebrar o isolamento para encontrar amigos e parentes que estão reclusos em casa também pode significar riscos. “Cada passo que a gente der nessa direção [deixar isolamento social], o preço é esse [adoecer por covid].”
Segundo o infectologista, é imprescindível continuar a manter as mesmas recomendações que os médicos têm dado desde fevereiro para evitar a proliferação e contágio. “A gente não tem muita alternativa a não ser fazer o distanciamento social, lavar as mãos, usar as máscaras e não fazer aglomeração”, afirma.
Suleiman alerta que é possível uma pessoa que já tenha contraído a Covid-19 seja infectada novamente, apesar de não ser comum. Também há casos de pacientes que têm uma evolução mais demorada da doença, com duração de um mês, dois e até seis meses, e que vão ter sequelas graves. “Infecções virais não são iguais para todo mundo, por isso que algumas pessoas ficam graves e outras não”, explica.
O casal Fernanda Figueiredo e Elno Trench faz parte do grupo que cumpre o isolamento social, mas há um mês voltou a caminhar em parques porque agora sente mais confiança para sair de casa. “Ficar oito meses preso no apartamento foi pesado”, disse ela.
Nesta sexta-feira (4), eles estavam no parque do Ibirapuera (zona sul), e reclamaram que uma boa parte das pessoas não usa máscaras.
A reclamação foi confirmada pela reportagem nesta quinta e sexta-feira. Muitos não usavam máscaras, apesar dos avisos no parque.
Ambulante torce para não fechar de novo
O ambulante Gilberto dos Santos, 53 anos, que vende água de coco no Ibirapuera, tem torcido para o governo não fechar novamente o parque. Nos meses em que ficou parado, ele teve de contar com ajuda do auxílio emergencial, ajuda de amigos e vendeu máscaras de proteção na cidade de mora, em Mauá (ABC).
O ambulante é contra o isolamento social e defende o distanciamento social e a consciência das pessoas na utilização das máscaras de proteção corretamente. “A maioria usa máscara, mas muitos não de forma certa”, afirma.
Ana Luiza dos Anjos Garcez, 58, que corre todos os dias no Ibirapuera, se diz contra o isolamento e não usa máscara para treinar porque dificulta a respiração. “Fiquei desde o começo assim”, disse ela, que foi repreendida por um guarda-civil metropolitana.
Psicanalista diz que para muitos é difícil não sair
O psicanalista Francisco Nogueira, que ofereceu escuta profissional durante cinco meses para pessoas angustiadas na quarentena do novo coronavírus, afirmou que é difícil para muitas pessoas ficar em casa sem socializar.
Durante o período de atendimento, Nogueira identificou cinco fases de desenvolvimento do sofrimento devido ao isolamento. As pessoas passaram pelo período de susto sem saber o que iria acontecer e pela angústia da crise com falta de ar e ansiosas.
Dois meses depois do início da quarentena, as pessoas começaram a ter dificuldade de ficar em casa sem poder ir aos locais de alívio, como um bar ou encontros com os amigos, segundo ele. Em setembro, o psicanalista disse que elas começaram a passar pela negação e sair de casa.
Nogueira afirma que a população ainda vai passar pelas fases de luto e trauma coletivo. “Se houver vacina em janeiro, vai resolver o vírus, mas não a consequência psíquica de um ano [em quarentena]”, disse.
Gestão Covas afirma dar orientação
Questionada sobre a maior quantidade de gente nas ruas, a Secretaria Municipal da Saúde diz que desde o dia 1º de julho tem abordado as pessoas para reforçar a importância e a necessidade do uso correto de máscaras de proteção facial.
Os agentes de saúde, afirma a nota, orientam e conscientizam as pessoas e os estabelecimentos para afixarem cartazes nos comércios com informações sobre a Covid-19 e o uso correto da máscara.
Segundo a gestão Bruno Covas, até esta quinta (3) 8.192 pessoas foram abordadas e orientadas. Em relação a multas, a prefeitura diz ter optado por ações educativas, “reforçando à população a necessidade do uso correto das máscaras, não fazendo desta uma ação punitiva”.