Polícia investiga morte de homem na calçada de unidade de saúde na capital paulista
Testemunha diz que ele ficou dois dias passando mal em frente a uma UPA; inquérito vai apurar suposta omissão de socorro
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O administrador Antônio Pinto Rabelo, 53 anos, morreu na calçada da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, após, segundo uma testemunha, permanecer dois dias passando mal em frente à unidade, segundo registrado pela polícia. A morte dele foi confirmada, por volta das 6h50 desta segunda-feira (8), por socorristas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O 52º DP (Parque São Jorge) instaurou, nesta terça-feira (9), um inquérito policial para investigar se houve omissão de socorro ao homem, além de checar eventuais responsabilizações pela morte de Rabelo. O corpo dele não apresentava sinais aparentes de violência, segundo a polícia. A unidade de saúde é administrada pela gestão Bruno Covas (PSDB).
A primeira vez em que a testemunha, uma moradora da região, de 45 anos, viu o administrador na calçada da avenida Celso Garcia, já passando mal, foi por volta das 10h de sábado (6). Ela pediu para não ter o nome publicado, pois afirma já ter sofrido ameaças pela internet.
“Ele estava deitado com a barriga no chão, pressionando ela com as mãos, nitidamente sentindo dores. Algumas pessoas chegaram a argumentar que o homem estava alcoolizado e ninguém dava bola para ele”, relembra. A mulher passou pelo homem mais duas vezes no sábado, por volta do meio-dia e entre às 16h e 17h.
Na manhã de domingo (7), ela saiu novamente de casa e se deparou com Rabelo na mesma situação, gemendo de dor e sendo ignorado por dezenas de pessoas, que formavam uma fila na calçada da unidade de saúde. “Ele também estava com um monte de lixo em volta dele. Quando fui passear com minhas cachorras, já de tarde, a cena não havia mudado”. Até este momento, a suspeita era a de que Rabelo fosse uma pessoa em situação de rua.
Por volta das 7h30 de segunda-feira (8), a mulher saiu para caminhar e constatou que o homem estava na mesma posição dos dois dias anteriores, porém morto e com o corpo sendo resguardado por policiais militares, que o cobriram com uma manta térmica.
“Fui fazer minha caminhada, mas não consegui parar de pensar nele [morto]. Então voltei e me ofereci para testemunhar à polícia o que tinha presenciado”, disse ainda a testemunha.
No 52º DP, ela narrou à polícia os dois dias de agonia do homem, que afirma ter presenciado em frente ao hospital. A mulher argumentou ainda não ter entrado na unidade, para pedir ajuda, pois o hospital estava cheio e ela se sentiu exposta a eventuais infecções por Covid-19. “Além disso, tem um segurança em cada porta do hospital e eles presenciaram todo o sofrimento do homem”, acrescentou.
O padre Julio Lancellotti, vigário da Pastoral do Povo da Rua, afirmou nesta terça ao Agora que demoraram cerca de sete horas para que o corpo do administrador fosse retirado do local. Até então, ele ainda não havia sido identificado. “Depois disso, o IML [Instituto Médico Legal] conseguiu identificá-lo, a partir das digitais, e descobrimos que o homem não morava nas ruas”, explicou o religioso.
Segundo a polícia, o último endereço de Rabelo, registrado no banco de dados da instituição, fica na Mooca (zona leste). Investigadores procuravam familiares dele, para colher mais detalhes sobre a vítima, até a publicação desta reportagem. A causa da morte dele também é apurada.
O caso foi registrado como omissão de socorro, morte suspeita e encontro de cadáver.
Resposta
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste, afirma que não há registros, nos últimos dias, de atendimentos para Antônio Pinto Rabelo na UPA Tatuapé. A equipe do SAMU acionada para a ocorrência informa que, ao chegar ao local para o atendimento de uma parada cardíaca, a vítima já estava em óbito.