Um idoso de 63 anos foi morto pelo próprio filho com marteladas, segundo a polícia, na casa da vítima na Freguesia do Ó (zona norte da capital paulista), no fim da tarde de 12 de fevereiro. Igor Fanti, 21 anos, está preso temporariamente, por 30 dias, após determinação judicial. Ele era filho único da vítima.
Em depoimento, também segundo a polícia, o jovem confessou o crime, com riqueza de detalhes, alegando ter concretizado o assassinato pelo fato de o pai, o funcionário público aposentado Vicente Dias Fanti, insistir para que o filho procurasse um emprego.
Nenhum advogado havia assumido a defesa de Igor até a publicação desta reportagem, segundo a polícia.
A Justiça também decretou, nesta quinta-feira (4), a prisão temporária de dois homens, que aparecem em imagens de uma câmera de monitoramento jogando o corpo de Vicente em um terreno, na região da Vila Brasilândia, também na zona norte. Ambos foram levados ao local por Igor, de acordo com as investigações. Os dois estão foragidos.
Vicente estava sentado distraidamente em uma cadeira de praia vermelha, com as pernas esticadas e apoiadas em um degrau, que divide a sala de sua casa de outro cômodo, quando foi atingido na cabeça, pelo primeiro golpe de martelo, dado pelas costas do idoso. As informações constam em dois depoimentos de Igor à polícia.
“A vítima caiu e, na sequência, o filho passou a desferir inúmeras marteladas, todas na cabeça do pai. A violência foi tamanha que jorrou sangue até no teto da sala”, disse o delegado Arthur Frederico Moreira, titular do 28º DP (Freguesia do Ó).
Ele acrescentou que Igor pegou o carro do pai, um Honda Civic, com o qual saiu para se encontrar com uma mulher e ir beber, deixando Vicente agonizando no chão da sala. A vítima morava sozinha e, há cerca de três anos deu um apartamento ao filho, na Vila Brasilândia, mesmo bairro onde o corpo do idoso foi encontrado.
Na manhã do dia 13, um sábado, Igor voltou à casa do pai, acompanhado de dois homens, que ajudaram a limpar o sangue na sala e também a preparar o corpo para ser retirado do local. O rosto do idoso ficou desfigurado, por causa das sucessivas marteladas que o atingiram, mostram fotos tiradas pela Polícia Científica.
“Cobriram a cabeça da vítima com um saco vazio de ração de cachorro, amarrando o plástico com fio de extensão. Depois amarraram o corpo com uma mangueira e o envolveram com um edredom azul”, acrescentou o delegado. O idoso não era casado com a mãe de Igor.
Câmeras de monitoramento registraram o carro do jovem, um Volkswagen Voyage preto circulando pela região onde o corpo de Vicente foi encontrado.
Outro registro em vídeo, feito por uma testemunha, mostra os dois colegas de Igor desembarcando do Voyage e retirando o corpo de Vicente, do banco traseiro do veículo. O jovem, segundo a polícia, estava no banco do motorista neste momento.
A dupla caminha por cerca de cinco metros com o corpo, que deixam cair duas vezes, e o abandonam no terreno, ainda segundo o vídeo. Ambos voltam caminhando calmamente, embarcando no banco do passageiro dianteiro e traseiro do veículo, que foi um presente de Vicente ao filho.
Dois dias depois, Igor foi junto com a mãe ao 28º DP, onde registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento do pai. “Ele mentiu falando que não via o pai desde o dia 13 [quando levou o corpo até o terreno]”, acrescentou o delegado Moreira. O corpo de Vicente foi localizado pela Polícia Militar, ainda no dia 13, sendo identificado posteriormente pelo IML (Instituto Médico Legal).
Quatro dias se passaram, quando o aposentado foi velado e enterrado no Cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte). “O suspeito demonstrou frieza durante o velório, não se aproximando do caixão do pai. Isso chamou a atenção de algumas pessoas. Além disso, ele foi para o enterro com o mesmo carro que usou para transportar o corpo do pai, até o terreno onde foi encontrado”, detalhou o delegado titular.
Entre os dias 15 e 19 de fevereiro, a polícia obteve provas que colocavam Igor na cena do crime. Por isso, ele foi intimado a prestar depoimento, no último dia 23.
Prisão
Antes mesmo de ele chegar à delegacia, o titular do 28º DP solicitou à Justiça a prisão temporária de 30 dias de Igor. Durante mais de quatro horas de depoimento, o pedido foi deferido pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). “Ele começou [o depoimento] negando participação no crime. Mas depois que mostrei para ele o vídeo do corpo sendo 'desovado', ele abriu o jogo”, afirmou o delegado.
A investigação localizou uma selfie, tirada por Igor, ao lado do pai ainda vivo, no dia do assassinato. A imagem foi compartilhada em uma rede social, da mesma forma que outra foto, da vítima segurando o filho no colo, quando criança, compartilhada no dia 17, quando Vicente foi enterrado. “Obrigado por ter existido, obrigado por tudo. Ainda nos veremos. Estaremos sempre juntos”, escreveu o suspeito na ocasião.
Segundo o delegado titular do 28º DP, a intenção declarada em depoimento por Igor, ao matar o pai, era ficar com as economias da vítima, cerca de R$ 100 mil, além do Honda Civic e uma casa em Ourinhos (378 km de SP). O Honda, acrescentou o policial, já era mantido na garagem do suspeito, desde o dia do assassinato. “O pai além de bancar o Igor em tudo, ter dado casa e carro, também ajudava a custear gastos do netinho, nascido há uns dois meses”, disse ainda o delegado.
Durante entrevista ao Agora, nesta sexta-feira (5), o policial chegou a mencionar o caso de Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos pela morte dos pais, em 2002, para mensurar a violência da morte do aposentado. "Mas no caso da Richthofen, ela só arquitetou a morte, deixando o homicídio em si para os irmãos Cravinhos. O caso de Igor vai além, pois ele que concretizou o crime. Se existisse prisão perpétua no Brasil, ele seria condenado a este pena", afirmou.
Igor foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel, recurso que impediu a defesa da vítima, por ter matado um parente próximo e por ocultação de cadáver. Ele está detido na carceragem do 2º DP (Bom Retiro) e também irá responder pelo registro do boletim de ocorrência sobre o falso desaparecimento do pai.
A polícia trabalha para localizar os dois foragidos que ajudaram Igor a se desfazer do corpo e, também, vai colher o depoimento de um quarto suspeito, que teria comprado o celular de Vicente após o crime. O aparelho não foi ainda localizado, da mesma forma que o martelo usado no assassinato.
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