Em dia ensolarado, clubes de SP são procurados por poucos paulistanos

Centro esportivo e Parque das Bicicletas foram frequentados com número reduzido de pessoas, a maioria com máscara

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São Paulo

O sol deu as caras e esquentou o primeiro dia de reabertura de clubes públicos na capital paulista, neste sábado (24), conforme previsto na segunda etapa da fase de transição do Plano São Paulo, da gestão João Doria (PSDB).

Além dos clubes, parques, restaurantes, barbearias e espaços culturais — como cinemas e teatros — também puderam abrir as portas, mas com limite de público e de horário. As regras valem até a próxima sexta-feira (30). No fim de semana passado, o comércio já havia sido autorizado a abrir.

Durante os próximos seis dias, a gestão (PSDB) pode rever a flexibilização, após avaliar indicadores de internações no estado. Apesar de ainda alta, a ocupação de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para Covid-19 registrou queda de 85,3% para 81,4%, no período de uma semana, segundo o governo estadual.

Sentada em um banco, isolada e usando máscara, a aposentada Maria Teresinha da Silva, 60 anos, observava o gramado do campo de futebol do Ceret (Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador), no Tatuapé (zona leste), administrado pela gestão Bruno Covas (PSDB), por volta das 10h30 deste sábado.

Ela fazia orações, após uma hora de caminhada, atividade física que afirmou realizar com constância e da qual sentia falta, pelo fato de o centro esportivo permanecer fechado em decorrência da fase emergencial do Plano São Paulo, anunciada em 11 de março pelo estado, com o intuito de frear infecções, mortes e internações provocadas pela Covid-19.

“Senti muita falta do contato com a natureza. Em minha opinião, fechar parques e clubes não resolve muita coisa na pandemia. Isso tem que ser feito em locais fechados, como em restaurantes, e que oferecem maiores riscos às pessoas”, argumentou.

A aposentada Maria Teresa da Silva, 60, aproveitou o primeiro dia de reabertura de clube esportivo, no Tatuapé (zona leste da capital paulista), para caminhar e se conectar com a natureza - Danilo Verpa/Folhapress

Essa é a mesma opinião da assistente comercial Caroline Vila Real, 33, e de seu marido, o promotor de vendas Felipe Tonielo Acosta, 31. Ambos moraram por cerca de dois anos em Portugal, país onde pretendiam permanecer. Por causa da pandemia, porém, resolveram retornar ao Brasil, há cerca de quatro meses.

Eles foram até o clube municipal para que o filho de dois anos pudesse brincar e gastar um pouco de energia. “Acho que deveriam pensar melhor sobre quais espaços fechar. Parques, por serem abertos, não oferecem tantos riscos como o transporte público, sempre lotado”, afirmou o promotor.

A família estava perto de uma pista de caminhada, na qual dezenas de pessoas, mantendo distanciamento umas das outras, caminhavam ou corriam -- algumas poucas com máscara no queixo ou sem o item de proteção, que foi o principal problema enfrentado por vigilantes do Ceret, na manhã deste sábado.

Um deles afirmou que aborda as pessoas assim que flagra sem o item, ou o usando de forma errada. “Mas sempre tem os malandros que, quando você dá as costas, tiram a máscara. Também já aconteceu, não neste sábado mas em outra ocasião na pandemia, de precisar chamar apoio da GCM [Guarda Civil Metropolitana] para conter um cidadão, sem máscara, que ficou exaltado quando o abordei”, relembra.

Além de monitorar o uso de máscara, os vigilantes também fazem rondas pelos 286 mil metros quadrados do espaço, com o intuito de evitar a formação de eventuais aglomerações e pedir para que as pessoas não fiquem na grama, mesmo sozinhas.

Somente a pista de caminhada e corrida está disponível aos frequentadores do local, que antes de entrar precisam aferir a temperatura com um funcionário do centro esportivo, que também oferece álcool em gel, disponibilizado na entrada do espaço, sobre uma mesa.

A reportagem apurou que os controladores de acesso não sabem especificar em números absolutos o limite máximo de pessoas, de 25%, permitido pelo governo municipal.

Crianças pedalam no primeiro dia de reabertura do Parque das Bicicletas, em Moema (zona sul da capital paulista) - Danilo Verpa/Folhapress

Parque das bicicletas

A cerca de 20 quilômetros do centro esportivo do Tatuapé, o Parque das Bicicletas fez jus ao nome ao concentrar dezenas de pessoas pedalando suas bikes, no início da tarde deste sábado, em Moema (zona sul).

Diferentemente do Ceret, nenhum funcionário aferia a temperatura dos frequentadores, que deviam entrar exclusivamente pelo portão 3, ao menos entre o meio-dia e 13h.

Com cerca de 20 mil metros quadrados, segundo a prefeitura, crianças e famílias, majoritariamente, circularam com bicicletas de todos os tamanhos e modelos pelo parque, neste primeiro dia de flexibilização de espaços de lazer públicos. Nenhuma aglomeração, porém, foi vista durante a permanência da reportagem no local.

“Meu filho, de um ano e meio, está se surpreendendo ao ver crianças do tamanho dele e pessoas diferentes do núcleo familiar. Ele praticamente cresceu em isolamento, por causa da pandemia”, afirmou a relações públicas Angela Sakuma, 40 anos, que afirmou frequentar o espaço desde a inauguração, em agosto do ano 2000.

Antes da pandemia, ela afirmou que ia ao local duas vezes por mês, acompanhada do marido e também da filha, de 5 anos.

Além da pista, os bancos do parque também foram usados pelos frequentadores, como a aposentada Vaneide Moreira Melo, 77 anos, que ao lado da filha, a farmacêutica Márcia Melo, 47, curtia um dos raros momentos em que saiu do isolamento domiciliar.

Mesmo já tendo tomado as duas doses da Coronavac, a aposentada Vaneide Moreira Melo, 77, não dispensa o uso de sua máscara de proteção, como na manhã deste sábado (24), no Parque das Bicicletas, na zona sul da capital paulista - Danilo Verpa/Folhapress

Já com as duas doses de Coronavac, ela não dispensa o uso de máscara de proteção, da mesma forma que a filha, com quem está há cerca de quatro meses. “Minha mãe é do Ceará e, como mora sozinha, a convencemos a ficar com a gente durante um tempo em São Paulo”, explicou a farmacêutica.

Sobre o fechamento dos parques, ambas são contra, alegando que aglomerações em espaços fechados são muito mais perigosas, pensando-se na possibilidade de infecção pelo novo coronavírus. “O parque é a praia do paulistano, tendo bom senso para manter distanciamento e usar proteção, não vejo problema em mantê-los abertos”, argumentou a farmacêutica, que foi infectada pela Covid-19, em fevereiro, mas já se recuperou.

“Não sei como peguei o vírus, imagino que em alguma vez em que fui ao mercado, pois fico em casa praticamente o tempo todo. Já perdemos pessoas de nossa família para o coronavírus e outras estão doentes por causa dele. Aproveito a oportunidade para pedir às pessoas que se protejam e se cuidem, pois essa doença é terrível”, declarou Márcia.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou que o limite de frequentadores no Ceret (Centro Esportivo, Recreativo do Trabalhador), durante a fase de transição do Plano São Paulo, é de 1.250 pessoas, de segunda a sexta-feira, e de 3.750 aos fins de semana.

O governo municipal, porém, não informou como é feito o controle de acesso no local, se limitando a afirmar que “a orientação aos funcionários da portaria será reforçada.”

Antes da pandemia, acrescentou, a média diária de frequentadores no centro esportivo era de 5.000, durante a semana, e de 15 mil aos sábados e domingos.

Sobre o parque das Bicicletas, a gestão Bruno Covas admitiu que o local ainda não conta com termômetros para aferir a temperatura dos frequentadores e que os equipamentos “estão em processo de aquisição”.

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