Problemas mecânicos impediram que policiais civis de Embu das Artes (Grande SP) fossem com uma viatura, modelo 2010, até a casa de um auxiliar de serviços gerais de 24 anos, que foi morto após uma suposta troca de tiros com policiais militares, por volta das 19h40 desta segunda-feira (3).

Ao serem comunicados sobre o caso, um delegado e uma investigadora até embarcaram no Volkswagen Parati, com o qual trafegaram por alguns instantes. Porém, o veículo "não apresenta mínimas condições de uso e segurança", segundo registrado pela própria delegacia da Grande SP, forçando os policiais a retornarem à base, sem transitar pelos cerca de cinco quilômetros entra o distrito e o local do crime, no bairro Pirajussara.

Além de atender às suas próprias ocorrências, o plantão policial noturno também registra casos de São Lourenço da Serra e Juquitiba, distantes cerca de 29 e 46 quilômetros de Embu das Artes, respectivamente.

Ao plantão da delegacia, PMs apresentaram um arsenal, aprendido na casa onde a viatura da Polícia Civil não conseguiu chegar, além de narrarem em depoimento como encontraram as armas e trocaram tiros com um suspeito.

Segundo os agentes, eles receberam uma denúncia anônima sobre um homem que guardava armas em casa, suspeito também de realizar roubos na região.

Chegando ao local, os policias foram atendidos por um autônomo de 24 anos, afirmando ser vítima de um suposto sequestro. Ele deixou os PMs entrarem no imóvel, logo em seguida.

Dentro da casa, os policiais afirmam terem sido recebidos a tiros por Gabriel da Cruz Gois, 23, e por isso revidaram, ferindo o suspeito, que morreu no local.

Outro homem, de 24 anos, tentou fugir por um telhado, mas caiu, sendo socorrido e depois ouvido pela polícia. Ele disse que estava na casa do suspeito para pegar dinheiro emprestado, sem saber que ele mantinha armas no local. Este homem foi liberado após prestar depoimento, constando como testemunha do caso.

Esta testemunha foi à residência acompanhada do primo, o autônomo que atendeu aos policiais alegando ser vítima de um sequestro. Ele mentiu aos agentes, segundo consta em seu relato, pois temia ser ferido a tiros pelos PMs. O autônomo também foi liberado e consta como testemunha da ocorrência.

Ao todo, os policiais militares apreenderam na casa do suspeito morto um fuzil calibre 9 milímetros, uma submetralhadora, uma pistola calibre ponto 40, um revólver calibre 38, além de munições de diversos calibres.

O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial, no plantão da Polícia Civil de Embu das Artes.

Investigação comprometida

Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), "é inaceitável" policiais civis trabalharem com uma viatura que não oferece condições mínimas de segurança aos agentes. "O trabalho de investigação fica completamente comprometido pela pura falta de compromisso do governo do estado com a segurança púbica da população paulista", criticou.

Ela destacou ainda a gravidade da ocorrência, de morte por intervenção policial, que não pôde ser atendida presencialmente pelos policiais, por causa da viatura com problemas. "A reação imediata da instituição Polícia Civil, neste caso, foi a incapacidade de responder adequadamente, por falta de transporte, frustrando os policiais envolvidos, prontos para exercerem sua vocação, e toda a sociedade, que confia na polícia para garantir a sua segurança."

Entre janeiro a março deste ano, a Polícia Civil instaurou 409 Inquéritos Policiais em Embu das Artes, um aumento de 11% em relação aos 368 do mesmo período do ano passado.

Resposta

A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que a viatura do plantão policial de Embu das Artes apresentou falha mecânica, nesta segunda-feira, sendo "prontamente substituída". "A unidade já providenciou a manutenção do automóvel [quebrado]", diz trecho de nota.

Sobre a frota das polícias Militar e Civil, o governo estadual afirma que, desde o início da atual gestão, foram entregues ao menos 4.294 viaturas para ambas as polícias, incluindo bombeiros e policiamento ambiental.