A cada cinco dias, um policial civil é preso no estado de São Paulo

Extorsão é o crime mais praticado, seguido por associação ao tráfico

São Paulo

Um policial civil foi preso a cada cinco dias, em média, no estado de São Paulo entre janeiro de 2015 e julho deste ano. Segundo dados conseguidos pelo Agora via Lei de Acesso à Informação, a Corregedoria da Polícia Civil prendeu 333 agentes no período, acusados de extorsão e associação ao tráfico de drogas, entre outros. 

A extorsão é o tipo de crime que mais levou policiais civis para atrás das grades. Foram 58 prisões durante o período, representando 17,4% do total. 

A associação ao tráfico de drogas provocou 31 detenções, sendo que todas ocorreram em 2017. 
Violência doméstica e corrupção causaram a prisão de 16 policiais, em cada caso, e o crime de organização criminosa resultou em 14 detenções. 

Carro usado por policial suspeito de extorquir dinheiro de comerciantes no Brás, em abril deste ano 
Carro usado por policial suspeito de extorquir dinheiro de comerciantes no Brás, em abril deste ano  - Reprodução

Os investigadores foram os policiais civis que mais acabaram presos durante o período. Ao todo, 146 foram tirados das ruas, representando 43,8% do total. Eles são seguidos pelos carcereiros (49), agentes policiais (47) e escrivães (42). 

Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do estado de São Paulo), afirma que tanto a Polícia Civil quanto as entidades representativas de classe não toleram o comportamento criminoso de quem quer que seja, principalmente de policiais. 

“Quando estes casos acabam descobertos, são investigados e, após a conclusão, os criminosos são demitidos”, diz. “A punição precisa ser severa para esses criminosos que se camuflam de policiais para praticar atos ilícitos e mancham a honra e o nome de uma instituição tão comprometida em proteger a população”, afirma Gallinati. 

As prisões de policiais civis têm altos e baixos nos últimos anos. E estão em queda. Raquel Gallinati atribui a diminuição de prisões ao trabalho de apuração desenvolvido pela Corregedoria e a punição contra policiais que cometem crimes. 

Ano Policiais presos
2015 77
2016 68
2017 92
2018 61
2019 (até julho) 35

BAIXOS SALÁRIOS SÃO PROBLEMA

Rafael Alcadipani, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que a corrupção é um problema presente em todas as polícias do mundo. 

No caso da Polícia Civil de São Paulo, ele afirma que policiais contam com baixos salários e pouca estrutura para trabalhar. Isso, aliado ao fato de os agentes estarem cotidianamente investigando criminosos, pode acarretar em eventuais desvios de conduta. 

“Para investigar um caso, o policial precisa estar imerso no contexto do crime, o que aumenta o número de desvios. Para evitar isso, tem que se ter uma política de valorização do policial, financeira e estruturalmente.” Sobre a oscilação no número de prisões, ele atribui à diminuição do efetivo da instituição. 

Um ex-investigador de polícia afirmou ao Agora, em condição de anonimato, que a “cultura da extorsão” é uma realidade para muitos policiais civis. 

O tipo mais comum de extorsão, segundo ele, é quando policiais pedem dinheiro a criminosos. “Há uma inversão de valores. Muitos aceitam esse tipo de extorsão, porque é praticada contra criminosos”, explica o policial. 

A reportagem conversou, também em condição de anonimato, com um comerciante da região central da capital paulista, que afirmou já ter deixado que policiais civis levassem produtos de seu comércio  sem pagar para “garantir sua segurança”. 

“Eles [policiais] falaram que não podiam evitar que ladrões entrassem na minha loja. Mas disseram que, caso isso acontecesse, meu caso teria prioridade na delegacia”, diz o empresário, que nunca precisou da “ajuda” dos policiais.

Em 19 de abril deste ano, um investigador do 16º DP (Vila Clementino) foi preso acusado de extorquir um comerciante do Brás (região central). Na operação, outro suspeito, de 43 anos, também foi detido.

RESPOSTA

A Polícia Civil afirmou não compactuar com desvios de conduta de seus agentes e que os casos  suspeitos são apurados pela Corregedoria da instituição. Segundo a polícia, regularmente são feitas vistorias em todas as unidades da Polícia Civil no estado.

“Nessas ocasiões, são avaliados os procedimentos executados em cada uma das delegacias, bem como a conduta dos agentes. Se constatada qualquer irregularidade, são instaurados os procedimentos administrativos e legais cabíveis, que podem levar à prisão e expulsão dos responsáveis”, diz nota.

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