Conheça a história de Ruth de Souza no cinema
Atriz, que faria cem anos no dia 12 de maio, foi a primeira dama negra do teatro e do cinema brasileiros
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A atriz Ruth de Souza, que faria cem anos no próximo dia 12, foi uma precursora, a primeira dama negra do teatro brasileiro. Além dos palcos, seu pioneirismo conquistou o cinema. Foi a primeira brasileira a disputar um prêmio internacional, o Leão de Ouro no Festival de Veneza, por “Sinhá Moça” (1953).
Sua relação com a sétima arte começou na infância. Em entrevista a Maria Angela de Jesus, no livro “Estrela Negra”, da Coleção Aplauso de 2007, Ruth disse que foi ao cinema pela primeira vez no Rio, pouco depois de sua família se mudar, vinda de Minas Gerais. Ela tinha 9 anos.
"Fiquei deslumbrada com o primeiro filme que vi, ‘Tarzan, o Filho da Selva’ (1932), com Johnny Weissmuller. Queria saber como é que faziam aquelas imagens. Como apareciam na tela? Era minha curiosidade.”
Foi também criança que começou a sonhar em ser atriz, mas disse que sempre ouvia “como é que você vai ser artista, você é negra?”. “O negro era muito maltratado, mal representado. A presença negra era sempre de criadas e criados ou caricaturas”, disse.
Anos depois, despontou nos palcos ao integrar o TEN (Teatro Experimental do Negro), companhia formada por atores negros. O grupo estreou no Teatro Municipal do Rio, em 1945. “A partir daí minha carreira deslanchou”, disse.
Logo foi chamada para o cinema. Trabalhou inicialmente na Atlântida, estreando em 1948, em “Terra Violenta”. O longa é uma adaptação da obra “Terra Sem Fim”, de Jorge Amado. O próprio escritor indicou Ruth à companhia cinematográfica, pois a atriz havia participado de uma montagem do texto. Na Atlântida, também trabalhou com Oscarito e Grande Otelo.
Em 1951, foi contratada pela Vera Cruz, a convite do diretor Alberto Cavalcanti. Estreou naquele ano em “Terra é Sempre Terra”, um de seus filmes preferidos.
Dois anos depois, veio a consagração no papel da escrava Sabina em “Sinhá Moça”. Por sua atuação, foi indicada ao Leão de Ouro do Festival de Veneza, concorrendo com Katharine Hepburn, Michèle Morgan e Lili Palmer (a vencedora).
"A minha alegria ao saber que estava concorrendo com ela (Katharine) foi muito grande”, afirmou, na entrevista à Coleção Aplauso.
Foi o começo de uma carreira de cerca de 30 filmes, além de inúmeras peças e novelas. Morta em 2019, aos 98 anos, Ruth sabia da força da sétima arte.
“O cinema me fez descobrir quem era Maria Antonieta, Pasteur, Émile Zola... E me ensinou muito sobre dança, música, história”, afirmou. “É o caminho para contar a história da nossa gente.”
Foi parceira de Grande Otelo e Oscarito na Atlântida
Antes de se tornar uma estrela na Vera Cruz, Ruth de Souza atuou em filmes da Atlântida, dois deles ao lado de Grande Otelo, “Falta Alguém no Manicômio” (1948), que ainda tinha Oscarito no elenco, e “Também Somos Irmãos” (1949).
“Em ‘Também Somos Irmãos’, eu fazia uma namorada do Otelo. É tão engraçado! Ri muito ao ver o filme. Tem uma cena em que chego, com um vestido branco, bem magrinha, e com uma flor no cabelo —acho que queria imitar a Billie Holiday. É engraçado de ver nos dias de hoje. Naquela época, a gente levava nossas próprias roupas para usar nas filmagens”, contou a atriz no depoimento ao livro.
Ruth também foi testemunha do entrosamento entre Grande Otelo e Oscarito. Em um festival de cinema em Porto Alegre, em 1961, os dois atores apresentaram esquetes. “Como já haviam trabalhado muito juntos, só era preciso um olhar para o outro e já sabiam o que era para fazer. Impressionante! Eles roubavam a cena, sempre!”, disse.
A atriz voltou a contracenar com Grande Otelo na TV, durante a novela “Sinhá Moça”, de Benedito Ruy Barbosa, em 1986. “Nos divertíamos tanto, e o Benedito nos dava ótimas cenas. Era muito engraçado: a gente roubava o ouro do senhor, do patrão, e escondia no cemitério. O suspense para o público era ver se o patrão ia pegar os dois velhinhos malucos carregando o ouro”, relembrou.
Na mesma época, dividiram a cena no cinema, em “Jubiabá”, de Nelson Pereira dos Santos, filme baseado em romance do escritor Jorge Amado.
Longas da Vera Cruz e “Assalto” eram os preferidos da atriz
Ruth de Souza dizia ter orgulho de três filmes em sua carreira: “Terra é Sempre Terra” (1951), “Sinhá Moça” (1953), da fase na Vera Cruz, e “Assalto ao Trem Pagador” (1962).
No livro da Coleção Aplauso, a atriz relembrou a relevância da Vera Cruz para o cinema brasileiro. “A companhia deu muita importância para a qualidade, em todos os aspectos de produção, principalmente a fotografia, a luz. Para isso, investiu muito em técnicos estrangeiros. Era como uma escola de cinema. Para cada estrangeiro havia um brasileiro trabalhando junto, aprendendo”, disse.
Sobre “Assalto”, ela contou que, ao receber o roteiro, pediu ao diretor Roberto Farias o papel da mulher de Tião Medonho, líder do grupo responsável pelo roubo. Mas a personagem já estava prometida para Luiza Maranhão.
A atriz, então, pensou em como poderia mudar sua personagem. “Acho que consegui. Tanto que o Roberto mesmo diz que eu, na verdade, fiz a esposa. Acho que, como não me sentia a amante, acabei passando isso para a câmera”, afirmou.
ONDE VER OS FILMES DE RUTH DE SOUZA
(preços e disponibilidade pesquisados no dia 7 de maio)
ASSALTO AO TREM PAGADOR (1962)
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FRUTO DO AMOR (1981)
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UM COPO DE CÓLERA (1999)
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FILHAS DO VENTO (2004)
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O VENDEDOR DE PASSADOS (2014)
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