Descrição de chapéu dia da mulher

Conheça as histórias de algumas pioneiras do cinema

No alvorecer da sétima arte, elas foram diretoras, montadoras, roteiristas, cinegrafistas e donas de estúdio

Alice Guy-Blaché
A francesa Alice Guy-Blaché, considerada a primeira diretora de cinema da história - Reprodução
São Paulo

Nos primórdios do cinema, muitas mulheres embarcaram na aventura da nova arte que surgia. O trabalho delas, muitas vezes não reconhecido ou esquecido pela história, ajudou a sétima arte a se desenvolver e a chegar até aqui. Elas foram diretoras, atrizes, montadoras, roteiristas, figurinistas, continuístas, fotógrafas, produtoras e donas de estúdio.

Como Alice Guy-Blaché, francesa considerada a primeira diretora de cinema da história. Em março de 1895, ela presenciou uma das primeiras exibições dos irmãos Lumière em Paris.

Secretária da empresa de fotografia Gaumont, que se tornaria um grande estúdio de cinema, ela pediu autorização para usar os equipamentos em filmagens nos horários de folga. Percebeu o potencial daquela nova arte e passou a criar filmes ficcionais.

Realizou mais de mil obras em toda a sua vida, teve seu próprio estúdio, mas sua história e seus filmes se perderam no tempo.

Nos últimos anos, a trajetória de Alice foi resgatada e hoje ela é considerada uma das pioneiras do cinema. A obra dela e de outras desbravadoras está no Telecine Play, na cinelist Pioneiras do Cinema.

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, também entra no catálogo do Telecine Play o documentário “Alice Guy-Blaché: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo”, de Pamela B. Green.

A seguir, conheça outras histórias dessas fantásticas precursoras.

Margareth Booth, uma das pioneiras do cinema
Margareth Booth, uma das pioneiras do cinema, foi montadora da MGM - Reprodução

Margaret Booth, de ‘cortadora de negativo’ a montadora da MGM

Nascida em Los Angeles, Margaret Booth (1898 - 2002) começou a trabalhar em 1915, ainda adolescente, para o diretor D.W. Griffith como “cortadora de negativo”. O cineasta deu o emprego à jovem após o irmão dela morrer em um acidente, pois Margaret precisava ajudar sua família.

Em 1920, após Griffith fechar seu escritório em Los Angeles, a jovem passou rapidamente pela Paramount até ser contratada pelo estúdio de Louis B. Mayer. Lá, trabalhou com o diretor John M. Stahl, a quem considerava seu professor de montagem.

“Ele me mostrou as diferentes técnicas de corte”, disse, em entrevista concedida em 1976. Quando Mayer se juntou a outros estúdios, fundando a MGM, Margaret integrou a equipe de montadores do novo gigante do cinema.

Nele também estava Blanche Sewell, pioneira do cinema que editou, entre outros filmes, “O Mágico de Oz”. Margaret ficou na MGM até 1968, tornando-se supervisora de montagem. Em 1977, recebeu um Oscar honorário por sua contribuição para a indústria do cinema norte-americano. Ela morreu aos
104 anos, em Los Angeles.

A antropóloga e romancista norte-americana Zora Neale Hurston - Reprodução

Zora Hurston, a primeira diretora negra dos EUA

Zora Neale Hurston (1891- 1960) foi uma reconhecida antropóloga, romancista e folclorista dos EUA. Também é considerada a primeira diretora negra do país.

Nascida no Alabama, era neta de escravos. Seus filmes, entre ​eles “Jogos Infantis” (1928) e “Batismo” (1929), fazem parte de seu trabalho como antropóloga.

Formada pelo Barnard College, faculdade voltada para mulheres onde era a única aluna negra, ela registrou cenas da vida afro-americana em uma cidade do sul dos EUA, tornando-se a primeira cineasta negra dos EUA.

Abertura de “That Ice Ticket”, filme de Angela Murray
Abertura de “That Ice Ticket”, filme de Angela Murray Gibson - Reprodução

​ Angela Murray, câmera, cineasta e dona de estúdio

Angela Murray Gibson (1878-1953) trabalhava como atriz quando conheceu o mundo do cinema. Vinda da Escócia para os EUA ainda criança, ela foi contratada em 1916 para dar consultoria sobre a cultura escocesa em um filme.

Passou semanas em Hollywood e decidiu estudar cinematografia na Universidade de Columbia. Depois de formada, comprou uma câmera e uma lente e voltou para sua cidade, Casselton, em Dakota do Norte, onde abriu o primeiro estúdio de cinema do estado.

Sua ideia era fazer filmes educacionais e comédias. Foi responsável pelo roteiro, direção e câmera de todos. O primeiro foi “That Ice Ticket”, de 1923. Deixou de produzi-los após a crise de 1929.

Cleo de Verberena, atriz, uma das fundadoras da Épica Filmes e primeira diretora de cinema no Brasil - Funarte

Cleo de Verberena, a primeira diretora de filmes do Brasil

Como muitas pioneiras, Cleo de Verberena (1904-1972) começou sua carreira como atriz. Nascida em Amparo como Jacyra Martins da Silveira, ela veio para São Paulo após a morte dos pais. Eram os pulsantes anos 1920, e a cultura fervilhava na capital.

Jacyra conheceu Cesar Melani, filho de fazendeiros, com quem se casou e fundou, em 1930, o estúdio Epica Films. O casal adotou nomes artísticos, Cleo de Verberena e Laes Mac Reni. O primeiro e único filme do estúdio, “O Mysterio do Dominó Preto”, foi dirigido e protagonizado por Cleo.

A obra não deu lucro e o casal perdeu todo o investimento. Em 1935, com a morte prematura de Melani e problemas financeiros, Cleo abandonou o cinema.

Francelia Billington, uma das pioneiras do cinema
Francelia Billington, uma das pioneiras do cinema, em trabalho como atriz - Reprodução

Francelia Billington, atriz e cinegrafista

Francelia Billington (1895 - 1934) era uma jovem texana quando chegou a Hollywood, no início dos anos 1910. Logo se tornou uma estrela de faroestes e melodramas, e atuou em filmes de diretores como D.W.Griffith.

​Mas Francelia também se interessava por cinematografia, e passou a trabalhar como câmera, o que seria hoje chamado de cinegrafista.

Em entrevista em 1914, segundo o projeto Women Film Pioneers (Pioneiras do Cinema), da Universidade de Columbia, nos EUA, ela falou sobre o estranhamento que causava nos sets ao operar uma câmera.

“Suponho que ainda seja uma novidade ver um menina mais interessada em um problema mecânico do que em maquiagem”, afirmou.

Cena do clássico "Metrópolis", de Fritz Lang, com roteiro de Thea von Harbou - Divulgação

Thea von Harbou, roteirista de clássicos alemães

Thea von Harbou (1888-1954) começou a escrever jovem e publicou contos e poemas aos 13 anos. Em 1917, após se casar, foi para Berlim e seguiu a carreira de escritora.

Envolveu-se com o cinema quando um de seus contos foi adaptado para as telas. Logo, Thea trabalhava como roteirista, quando conheceu Fritz Lang.

Casaram-se em 1922 e desenvolveram uma parceria que resultou em clássicos como “Metrópolis” e “M, o Vampiro de Dusseldorf”. Trabalhou ainda com os diretores F. W. Murnau e Carl Dreyer.

Com a chegada dos nazistas ao poder, Lang exilou-se nos EUA. O casal se divorciou e Thea ficou na Alemanha, colaborando com obras do Terceiro Reich.

Após a Segunda Guerra, chegou a ficar detida em uma prisão administrada por britânicos. Disse que colaborou com o governo nazista para ajudar imigrantes indianos, como seu marido, com quem havia se casado secretamente.

Nos anos 1950, escreveu mais três roteiros e colaborou com jornais. Morreu em 1954, em Berlim.

Coloristas no estúdio Pathé, na França
Coloristas no estúdio Pathé, na França - Reprodução

Coloristas davam vida a obras do cinema mudo

Alguns historiadores afirmam que uma das primeiras funções que as mulheres exerceram na indústria do cinema foi a de coloristas. Elas já davam cor a lanternas mágicas e fotografias, portanto a transição para o cinema nos anos 1890 foi mais do que natural.

Na França, o estúdio de Madame Thuillier empregava cerca de 200 coloristas e prestava serviço para Georges Méliès e o estúdio Pathé.

“Eu pintei todos os filmes de Méliès, e esse trabalho foi feito inteiramente a mão. Passei minhas noites selecionando e provando as cores. Durante o dia, as trabalhadoras aplicavam as cores de acordo com as minhas instruções. Muitas vezes ultrapassamos 20 cores em um filme”, disse Marie-Berthe Thuillier, proprietária do estúdio, em entrevista, segundo o projeto Women Film Pionners.

​Em 1903, o estúdio francês Pathé buscou industrializar a produção, fazendo a transição da coloração a mão para o uso de estêncil, que poderia ser reutilizado. Mesmo assim, foi preciso contratar mulheres para colori-los.

Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

49 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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