Covid mata um paulista a cada 6 minutos; óbitos passam de 100 mil no estado

Número de 100.649 mortes foi alcançado neste sábado, nove dias após o país ter registrado 400 mil mortes pelo novo coronavírus

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São Paulo

Mais de 100 mil pessoas morreram por causa da Covid-19 em São Paulo. A triste marca foi atingida no intervalo de 422 dias entre a primeira confirmação de um óbito pela doença em território paulista, em 12 de março de 2020, até este sábado (8), quando o número chegou a 100.649 mil óbitos, segundo dados divulgados nesta tarde.

A marca em São Paulo foi atingida nove dias após o Brasil ter registrado 400 mil óbitos pela doença.

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, do início da pandemia, em fevereiro de 2020, até a tarde deste sábado, 2.997.282 pessoas se infectaram com a doença nos municípios paulistas.

É como se, em média, 10 moradores do estado morressem a cada hora vítima da doença, ou 1 a cada 6 minutos —esse é, por exemplo, o tempo mínimo que uma pessoa aguarda na plataforma para embarcar em um trem da linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), na estação Brás.

Na comparação com o Brás, aliás, as 100.649 mil mortes por Covid-19 em São Paulo equivalem a todos os habitantes do famoso ponto de comércio de roupas da região central, além de seus vizinhos bairros da Sé e República.

É como se toda a população da região de Interlagos, na zona sul da capital paulista, que abriga o autódromo de mesmo nome, fosse dizimada. Ou os 39 menores municípios paulistas juntos.

Escavadeiras abrem covas no cemitério da Vila Formosa, zona leste de São Paulo por causa do aumento de óbitos provocados pelo novo coronavírus - Eduardo Anizelli - 7.abr.21/Folhapress

Se São Paulo fosse um país, ocuparia a triste 9ª posição no ranking mundial de mortes por Covid, no ranking elaborado pela Johns Hopkins University.

A análise nos boletins epidemiológicos mostra que a quantidade de mortes nos municípios paulistas ainda é muito alta. Desde o primeiro óbito registrado em São Paulo, que também foi o primeiro do Brasil, em 12 de março de 2020, até as primeiras 10 mil mortes, em 11 de junho de 2020, foi necessário um intervalo de 91 dias. A partir daí, o intervalo de dias em que o estado atingia 10 mil novas mortes teve vairação.

Patamar de mortes /intervalo

  • 1 até 10 mil: 91 dias
  • 10 mil a 20 mil: 40 dias
  • 20 mil a 30 mil: 41 dias
  • 30 mil a 40 mil: 73 dias
  • 40 mil a 50 mil: 68 dias
  • 50 mil a 60 mil: 42 dias
  • 60 mil a 70 mil: 24 dias
  • 70 mil a 80 mil: 13 dias
  • 80 mil a 90 mil: 13 dias
  • 90 mil a 100 mil: 16 dias

Ou seja, nos últimos 42 dias foram registradas 30 mil mortes por Covid-19, quase um terço das vítimas fatais da Covid-19 no estado, em apenas 10% do tempo de pandemia.

Críticas

Embora reconheçam que a atuação do governador João Doria (PSDB) frente à pandemia foi determinante para que o país conseguisse o seu primeiro imunizante, a CoronaVac —vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo estadual—, especialistas da área de saúde ouvidos pela reportagem criticam o fato de medidas mais restritivas não terem sido prolongadas em São Paulo.O

O infectologista Marcos Boulos, professor sênior da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), afirma que houve críticas no Centro de Contingência, grupo de especialistas consultados pelo governo estadual no combate à doença, e do qual faz parte, quanto às medidas de reabertura tomadas a partir da criação da chamada fase de fase de transição, em vigor desde o dia 16 de abril, e que liberou a volta do comércio e restaurantes, e outros serviços, como academias e salões de beleza, além de clubes e parques, que estavam lotados no fim de semana passado.

“As medidas sanitárias não estão sendo tomadas a contento. E a consequência é que não se consegue estabilizar o número de casos e óbitos, porque quando começa a estabilizar, volta a abertura e fica nessa gangorra”, afirma Boulos.

O epidemiologista Pedro Hallal, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil, diz que assim como em todo o país, São Paulo tem baixo índice de testagem e não faz rastreamento de contatos de infectados.

“A gente sabe que não vai parar nos 100 mil. A questão é quão rápido se chegará aos 110 mil ou 120 mil, e depende das atitudes que serão tomadas”, afirma Hallal. “São Paulo é um dos estados que mais se preocupam em comprar leitos, respiradores, e instalar oxigênio em hospitais. Porém, não se controla pandemia apenas assim, mas cortando a circulação do vírus", diz.

Ele até compara os adversários políticos João Doria e Jair Bolsonaro ao falar sobre medidas equivocadas podem ter sido tomadas, ressaltando, entretanto, que o presidente da República é negacionista quanto à doença, ao contrário do governador.

Terceira onda

As declarações dos especialistas foram feitas na última quinta-feira (6) à tarde. No dia anterior, quarta-feira (5), o governo estadual apresentou dados que indicavam aumento do número de 2,5% no número de casos, e queda de 0,2% nas internações e também retração de 1,3% no número de mortes.

Dois dias depois, na sexta-feira (7), durante entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirantes, o governo estadual informou que a queda do número de casos chegou a 10,8%. Houve também retração de 0,4% no número de internações, e 13,5% no de mortes.

Os integrantes do governo estadual presentes foram questionados sobre uma eventual terceira onda.

“Tudo o que não queremos é uma terceira onda”, afirmou Doria.

Para João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, os indicadores não indicam o problema. “Nós não acreditamos que esses indicadores estejam apontando a uma tendência de uma terceira onda. Não existe esse indicativo”, afirmou.

Gabbardo alertou, porém, que as medidas preventivas devem continuar. “Vamos continuar com as recomendações de redução de mobilidade, de distanciamento físico, de uso de álcool em gel, uso de máscara”, disse.

Ele disse ainda que nas próximas três semanas a tendência de queda pode reverter bons resultados. “Se conseguirmos manter esse controle durante mais três semanas e com esse aumento que nós vamos ter na velocidade da vacinação, elas vão nos oferecer uma outra condição de imunidade, diminuindo os casos graves e internações hospitalares”, disse.

Resposta

A Secretaria Estadual da Saúde diz em nota que as atribuições de monitoramento e rastreamento de contatos é dos municípios, e não dever do governo estadual, segundo preconiza o SUS (Sistema Único de Saúde). “O governo de São Paulo fez sua parte ao lançar a Plataforma de Diagnósticos de Covid-19 ofertando capacidade diária de 14 mil testes para a rede pública”, diz o texto.

A pasta afirma que o comportamento do novo coronavírus tem sido dinâmico ao redor do mundo, inclusive devido às variantes, que impactam no comportamento da pandemia.

A nota diz que a fala de Marcos Boulos é uma opinião isolada de apenas um membro do Centro de Contingência do Coronavírus e que não reflete pareceres do colegiado, que é composto por 21 especialistas. “Todos os dados e pareceres do Centro de Contingência são considerados para, de forma consciente e gradual, permitir a eventual retomada das atividades econômicas dos setores por meio de indicadores coerentes do Plano São Paulo. Foi esta premissa, somada à tendência de queda de internações e óbitos, que balizaram a definição da fase de transição, que em hipótese alguma representa “flexibilização”, sendo reiterada a manutenção de protocolos de prevenção”, diz o texto.

Ainda segundo o governo estadual, o monitoramento da pandemia é contínuo e diário, permitindo inclusive intensificação de medidas restritivas, caso o Centro de Contingência identifique necessidade.

"Críticas à expansão de leitos, a propósito, sugerem desprezo pela necessidade de salvar a vida daqueles que foram acometidos pela doença", afirma a nota.

A nota "afirma ser lamentável comparação entre Bolsonaro e Doria". “O governador João Doria, desde o começo da pandemia, saiu em defesa da vida, da ciência e da saúde. O governo do estado de São Paulo tem norteado suas ações de enfrentamento da Covid-19 com apoio dos 21 especialistas do Centro de Contingência”, diz trecho da nota.

Evolução dos casos e mortes em SP

DATA

CASOS

MORTES

26 de fevereiro de 2020

1

0

12 de março de 2020

42

1 (*)

11 de junho de 2020

162.520

10.145

21 de julho de 2020

422.342

20.171

31 de agosto de 2020

804.342

30.014

12 de novembro de 2020

1.156.652

40.202

19 de janeiro de 2021

1.644.225

50.318

2 de março de 2021

2.054.867

60.014

26 de março de 2021

2.392.374

70.696

8 de abril de 2021

2.597.366

80.742

21 de abril de 2021

2.786.483

90.627

8 de maio de 2021

2.997.282

100.649

Fonte: boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde

(*) confirmação da data exata de 12 de março de 20 20 como primeira morte no Brasil por Covid-19 só foi conhecida em junho de 2020, após exames laboratoriais. Até então, acreditava-se que a data do primeiro caso teria sido no dia 17 de março de 2020.

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