Grupo recorre à Igreja para manter projeto social na zona norte de SP
Casa Ortaética atende comunidade na região do Jaçanã e responsáveis tentam continuar ação em um salão paroquial
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Com cartas enviadas à Igreja Católica e abaixo-assinado, professores e pessoas beneficiadas por um projeto social, que funciona no salão de uma paróquia da zona norte da cidade de São Paulo, tentam evitar que sejam tirados do local.
Segundo o professor Tiago Ortaet, 37 anos, responsável pela Casa Ortaética de Humanidades, o salão teria sido requisitado pelo pároco responsável pela Capela São Gabriel, que faz parte da paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus.
O Agora questionou o padre Francisco Ferreira da Silva, responsável pela igreja, sobre as reclamações dos responsáveis pelo projeto, mas o religioso disse que somente a Arquidiocese de São Paulo se posicionaria. Segundo a Igreja, que recebeu o pedido dos responsáveis pela ação social, o caso está sendo analisado.
O professor diz que, inclusive, mandou uma carta para o papa Francisco, no Vaticano, solicitando ajuda para a manutenção do projeto, que atende 150 pessoas na região do Jaçanã, e atualmente distribui alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade.
O trabalho social funciona, desde setembro de 2019, no salão social da capela. Apesar da localização, ele não tem caráter religioso, afirma o professor.
À época, diz ele, a presença do grupo foi autorizada pelo então pároco e a liberação acabou renovada por escrito até fevereiro de 2022. Na última semana, contudo, o padre que assumiu a paróquia, pediu que o grupo deixasse o local, conforme o professor.
Na última terça (27), dom Jorge Pierozan, vigário episcopal da região de Santana, teve uma reunião com representantes da Casa Ortaética. O religioso foi um dos acionados pelo grupo.
Segundo a arquidiocese, ainda serão ouvidos o padre João Luiz Miqueletti, que autorizou a presença do grupo no espaço, e o padre Francisco, que assumiu a paróquia, além de integrantes da comunidade.
De acordo com a assessoria de imprensa da Cúria, somente após essas conversas será tomada uma decisão sobre a questão.
O projeto
A Casa Ortaética nasceu há 18 anos, prestando atendimento a crianças em situação de vulnerabilidade, com aulas de teatro e reforço escolar. Na pandemia, sem poder reunir os alunos, a ação se transformou para oferecer marmitas e cestas básicas.
Segundo Ortaet, a permanência no local é importante porque, nesse tempo, o projeto recebeu doações grandes, como livros e um piano, que dificilmente seriam transportados. E também porque o salão possui uma cozinha onde as refeições são preparadas.
"Nem que a gente vá para a praça do Jaçanã, o projeto vai continuar. É um dificultador, mas isso não nos impedirá de continuar fazer", afirmou.
O professor disse que, assim como outras pessoas da região, ele cresceu em uma situação de vulnerabilidade. "O que salvou a minha vida não foi só a minha família, mas também a arte. Eu sei da importância da educação para pessoas. Se transformou a minha vida, pode transformar também a de um jovem daqui."
A pedagoga Vanessa Anacleto, 36, conheceu a Casa Ortaética há um ano e meio, quando os filhos, hoje com 9 e 17 anos, começaram a participar de aulas de reforço, capoeira e teatro. Ela diz que se identificou tanto com o projeto que resolveu virar voluntária.
"Na minha visão, se o projeto sair daqui, vai prejudicar as pessoas da região, porque há muitas ações sociais", afirma Vanessa. Segundo ela, as aulas de reforço ajudaram muito o filho, que tinha dificuldade de aprendizagem na escola.