Voltaire de Souza: Movendo montanhas

Voltaire de Souza

Fé. Crença. Pandemia.
O governo permite a realização de cultos.
Padre Pelozzi estava contente.
—Aqui na igredjia vai ter una tremenda lotaçó.
Os velhos e escuros bancos da igreja não permitiam o isolamento necessário.
Banquetas de plástico foram providenciadas.
—Ficou come um botequino.
O logotipo da Brahma não condizia com os propósitos do local.
—Cobre tutto com panínio rotxo.
Ele se preocupava com a reação de algumas beatas.
—La dona Conceiçó.
Pelozzi fez o sinal da cruz.
—Qualquer coisigna bota a boca nello trombón.
A missa se mostrou um sucesso.
—Quanta dgente. Porca mizzeria.
Ele reparou numa ausência.
—A dona Conceiçó. Será que foi para il hospetale?
A anciã continuava temendo a Covid.
—Não sou louca. Me desculpe, padre.
Ela se confessou pela internet.
—Ma e la comunione? Como si fa?
A ideia veio como uma inspiração divina.
—La hóstia. Mando entregare djunto con la pizza.
O sobrinho de Pelozzi trabalhava na Pizzaria Vulcão Vesúvio.
O alimento do espírito também tem sua delivery.
Afinal, se Maomé não vai à montanha, a montanha chega de motoca.

Fileira de cadeiras brancas de plástico
Os velhos e escuros bancos da igreja não permitiam o isolamento necessário. - Pixabay
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