Retorno das aulas presenciais estimula adesão ao ensino remoto em SP
Cerca de 16% dos alunos da rede estadual ainda não acessaram os conteúdos digitais; na capital paulista, são 30%
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O retorno das aulas presenciais na rede estadual fez aumentar a adesão ao estudo remoto em São Paulo. Segundo a Secretaria da Educação do Estado, o número de alunos que acessaram o aplicativo do CMSP (Centro de Mídias de São Paulo) cresceu 50% com a retomada em 14 de abril, e já são 2,85 milhões de acessos à ferramenta.
O número, contudo, mostra que ainda há 16% dos alunos sem acessar o Centro de Mídias mais de um ano depois de seu lançamento. O número representa mais de 500 mil pessoas. Desde o retorno do recesso 1,8 milhão (53% do total) de estudantes estiveram presencialmente nas escolas estaduais.
Nas escolas municipais, 600 mil (57,4%) alunos já assistiram a aulas presencialmente este ano, segundo a Secretaria da Educação da capital paulista. Cerca de 70% dos alunos acessaram os sistemas de aulas remotas, mas a pasta não informou se houve mudança no indicador depois da retomada das aulas presenciais, em 12 de abril.
Nas duas redes, há o limite de 35% de ocupação diária das escolas por causa da fase de transição da quarentena.
Segundo Bruna Waitman, coordenadora do CMSP, com o estímulo do ensino presencial, os alunos se setem mais engajados a continuar o estudo. "O presencial incentiva mais porque o professor está mais próximo e ajuda a tirar dúvidas. Existem canais [à distância] para isso, mas é diferente de ter os colegas e o professor de perto." Outro fator que explica a questão, ela diz, são melhorias na usabilidade do sistema.
O número de acessos indica quem, em algum momento, instalou o aplicativo no celular e fez o cadastro. Ele não demonstra, contudo, quantos acessos realizou ou por quanto tempo o aluno utilizou o sistema. Sobre a parcela de pessoas que ainda não acessou o aplicativo, a coordenadora afirma que o CMSP é "multiplataforma", pois oferece, também, aulas por canais de televisão --sozinhos, contudo, eles não oferecem interatividade--, além do ensino presencial.
De acordo com Bruna, ainda não há dados sobre a frequência dos alunos no ano letivo de 2021 --eles serão conhecidos somente no fim de maio, quando os professores lançarem os diários de classe.
Para o diretor do Departamento de Supervisão da Fiscalização do TCESP (Tribunal de Contas do Estado), Paulo Sugiura, o objetivo tem que estar em trazer o aluno de volta para a escola. "Não adianta falar que está assistindo uma aula ou não. É muito mais fácil com a tecnologia, mas a qualidade da aprendizagem é um desafio bastante grande."
Mensalmente, o TCESP elabora o Painel Covid, que evidencia indicadores de áreas de enfrentamento à pandemia com dados enviados por municípios e pelo estado. O levantamento de março, mais recente, mostra que naquele mês havia mais de um terço dos alunos sem acessar o aplicativo do Centro de Mídias.
"Ainda é um engajamento que não achamos ideal. O ideal é 100%", afirma Sugiura. Segundo ele, o TCESP apura a situação da evasão escolar e recomenda ao estado medidas para combater a questão. Também é preciso observar, segundo ele, o tempo de acesso da plataforma e o aproveitamento do conteúdo.
De acordo com Bruna, os efeitos do ano de pandemia serão grandes no ensino dos alunos da rede estadual, e os mais impactados são os alunos dos anos iniciais. A secretaria afirma que as escolas estaduais têm articulado essa busca para promover o acesso aos conteúdos, presencial ou virtualmente.
Parcela sem acesso ainda é grande, diz pesquisador
Um ano depois da implantação do ensino remoto em São Paulo, ter mais de 500 mil pessoas sem acessar o aplicativo é uma questão grave na visão do professor de políticas educacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), Fernando Cássio.
"São crianças e adolescentes que estão fora da escola, literalmente, e também estão fora do processo de escolarização à distância. Se não tem escola e não tem forma de acessar a escola, não tem aprendizagem."
De acordo com o professor, além de avaliar quantos alunos estão sem acesso, é necessário entender também por quais motivos isso acontece. E a demora para resolver essas questões pode ter efeitos graves. "Estamos em maio de 2021 discutindo por que uma parte dos estudantes ainda não está interagindo com a escola."
Cássio afirma, ainda, que conhecer os dados de frequência é fundamental para saber se o ensino remoto, nos moldes aplicados pelo governo do estado, tem funcionado. "As crianças estão perdendo a escolaridade. O direito à educação está sendo violentado."
Para mãe, qualidade do estudo remoto é desafio
Com três filhos e uma sobrinha em idade escolar, a designer gráfica Aline Garcia, 38, diz que é um desafio conseguir que todos tenham uma aprendizagem de qualidade com o estudo remoto. E o principal fator, segundo ela, é porque faltam meios para que todos acessem os sistemas.
"O mais velho foi para a escola particular e tivemos que comprar um notebook para ele. Mas para os outros três eu tenho que escolher quem tem aula, porque não tenho quatro celulares ou quatro computadores."
A mais prejudicada, de acordo com Aline, foi a filha mais nova, que estava aprendendo a ler e escrever no ano passado. "Nem sei dizer se ela conseguiu pegar alguma coisa. Ela sentava 7h30 no sofá para assistir aula [na TV] e dormia."
Os dois filhos e a sobrinha, que ainda estudam na escola estadual, voltaram para o ensino presencial. "Faz muita diferença. O dia na escola é muito mais produtivo porque eles não dispersam. Em casa, um se intromete na aula do outro."
O efeito, ela diz, é que agora os três conseguem absorver melhor as aulas do centro de mídias porque demonstram mais interesse, já que as professoras cobram os conteúdos de perto. Ela espera que no fim desse ano, diferente de 2020, as crianças tenham um aproveitamento maior.