Voltaire de Souza: Milagres acontecem
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Vento. Frio. Massa polar.
O inverno bate recordes na cidade.
As paulistanas já sabem.
Tempo de enfiar a calça no cano da botinha.
Mas nem todo mundo pode se proteger das baixas temperaturas.
Com a crise, cresce o povo do chinelo com meia furada.
Igrejas se abrem para abrigar a população de rua.
Padre Pelozzi respirou fundo.
—Carità. Naturale.
A sobrinha Dayane ficou ouvindo.
—Ma tambene… precisa evitare ezzagerazione.
—Exagerar? Como assim, tio?
—Mendico dormindo nella igredja…
Ele raciocinava.
—Se pone eles aqui indentro…
—O que é que tem?
—Porcariata. Suggera.
Pelozzi fez cara séria.
—Vano fazere xixi no pé do mio santignio…
A estátua de São Sebastião mirava o céu com paciência.
—Dopo vano tomare tutto il mio vino.
A noite avançava. Pelozzi abriu uma garrafa.
—Bona ideia.
Já era de madrugada quando a imagem de São Sebastião começou a tremer.
—Que frio, Pelozzi… e eu aqui sem roupa.
O santo fez o pedido.
—Deixa a mendigada entrar… e se quiserem fazer xixi em mim…
São Sebastião sorriu.
—Até que é quentinho.
A mente humana é como um templo.
Se fica aberta, milagres acontecem.