Aplicativos de transporte adotam inteligência artificial para evitar violência
Programas apostam na identificação de passageiros e evitam rotas que cruzem regiões violentas
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Atendendo diariamente ao público e por vezes recebendo pagamentos em dinheiro, os motoristas de aplicativos são alvo de criminosos, seja nas corridas ou em embarque e desembarque. Por isso, empresas que operam o sistema têm buscado na inteligência artificial modelos que possam auxiliar no combate da violência contra condutores e passageiros.
A 99, por exemplo, passou a adotar, no primeiro trimestre deste ano, os sistemas Hércules e Cubo, o que, segundo ela, foram capazes de reduzir em 26% as ocorrências graves, como roubos e sequestros nos primeiros seis meses do ano.
O Hércules verifica padrões de comportamento em chamadas suspeitas, analisando fatores como horário, duração da viagem e histórico do usuário.
Já o Cubo tenta evitar que motoristas sejam direcionados para áreas com indícios de violência.
Quem também utiliza a inteligência artificial é a Uber. Em seu site, afirma que a ferramenta U-Check, por exemplo, obriga o usuário que quer pagar a corrida em dinheiro a inserir dados como CPF e data de nascimento. O U-Análise é outro sistema usado pela empresa, no qual, por meio de de informações em tempo real, pode bloquear as viagens consideradas potencialmente mais arriscadas.
O pesquisador em inteligência artificial e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Vasco Furtado diz encontrar situações positivas e negativas.
Para ele, “é salutar que as empresas busquem compreender os padrões da criminalidade para, de alguma forma, fornecer algum tipo de proteção para motoristas e passageiros”.
Mas faz ressalvas. “Até que ponto isso não só faz enfatizar alguns viés que podem existir na sociedade? Você começa a dizer: ‘Eu vou olhar o perfil das pessoas’. Mas o que significa olhar esse perfil? Será que esse viés depois não está enviesando alguma faixa etária, não está enviesando ou discriminando alguma raça?”. E diz ser necessário ter “parcimônia e transparência”.
Associação quer reconhecimento facial
Enquanto as grandes empresas buscam reduzir os crimes que acometem seus motoristas parceiros, uma associação que cuida dos interesses da categoria diz ter na palma da mão uma solução mais rápida e barata: a selfie que é tirada do passageiro.
“Todo passageiro antes de uma chamada teria que realizar o reconhecimento facial por meio da ferramenta. Sem esse reconhecimento, a chamada não seria realizada”, sugere o presidente da Amasp (Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo), Eduardo Lima de Souza.
Sobre a funcionalidade e a segurança, Souza argumenta que, em caso de crime, o rosto da pessoa servirá como prova. “Pois, para qualquer crime orquestrado contra o motorista, ele será o culpado”, afirma.
O líder da categoria aponta que o custo seria quase zero, uma vez que “as empresas têm em seu quadro de funcionários profissionais técnicos especializados para construir essa ferramenta na própria plataforma, basta querer”. Souza afirma que há cinco anos tenta convencer as empresas dos benefícios da selfie, mas é ignorado.
Sobre as ferramentas atuais usadas pelas grandes operadoras, ele diz que elas não oferecem nenhuma segurança. “São ferramentas que colocam à prova um passageiro e sua corrida, deixando o motorista sempre no risco iminente, além de gastarem rios de dinheiro para tal investimento.”
Queixas
Os sistemas utilizados pelas empresas de aplicativos também não são unanimidade entre os motoristas prestadores de serviço. Enquanto alguns deles apontam benefícios, há também quem considere como uma “cortina de fumaça” as ferramentas disponibilizadas, colocando em dúvida os seus funcionamentos.
Motorista de uma das empresas há mais de dois anos e com mais de 2.000 viagens realizadas, o que faz questão de ressaltar e comprovar com o extrato do aplicativo, Maurício Cypriano, 48 anos, diz que as ações são importantes para seu trabalho. ”É mais segurança para o motorista. Você está trabalhando na rua e não sabe quem está carregando, para onde vai. Com esses sistemas, é um ganho a mais na segurança.”
Já para Thiago Zuchetti, 34, inteligência artificial não traz benefício imediato para o condutor. “Segurança para o motorista são melhores taxas e assistência jurídica, o resto é cortina de fumaça.”
Questionado sobre suas estratégias, uma vez que demonstra não acreditar nas disponibilizadas pelas operadoras, Zuchetti relata como tenta passar despercebido em algumas regiões que considera mais suscetíveis. “O ladrão sempre age no elemento surpresa. Mas, quando entro em local de risco, eu descaracterizo o carro, retiro adesivos e tudo que possa mostrar que sou motorista de
aplicativo.”